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Com a COP30 em Belém, ingredientes amazônicos como castanha-do-Pará, cupuaçu, jambu e tacacá ganham mais visibilidade e despertam curiosidade no Brasil e no mundo. E se fosse possível levar um pouco desses sabores para provar a qualquer hora e em qualquer lugar?
A Amazônia no Pote faz isso por meio de biscoitos artesanais, balas, geleias e xaropes com receitas garimpadas ou inspiradas nas criações da família da fundadora, a amapaense Juliana Montoril, 37. O empório, que começou online, ganhou em outubro uma charmosa casinha na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, mas segue com entregas em todo o país.
A marca completa um ano no fim de novembro, com direito à festa no dia 22, também aniversário da fundadora. Apesar de jovem, o negócio já acumula conquistas e sonhos, entre eles a ideia de transformar a loja em uma cafeteria amazônica até o fim de 2026.
Natural de Macapá e criada em Belém, Juliana sonhava em cursar artes plásticas. “O vestibular tinha uma prova prática. Das duas mil pessoas que prestavam, cerca de sete passavam. No ano que eu fiz, o que mais aprovou, foram 49 pessoas”. Esse não foi o caso dela…
Frustrada, Juliana iniciou o curso de administração de empresas por sugestão da mãe. “Ela sempre me achou muito organizada e boa com as finanças. Eu me inscrevi e, no fim das contas, amei.”
Já formada, tentou trabalhar com carteira assinada na área, mas diz que “não se adaptou à rigidez deste modelo” e decidiu empreender. O empurrão veio do então namorado, um chef que elogiava a comida de Juliana.
“Ele dizia que a minha família tinha algo único porque a gente se reunia para criar receitas com o que havia de sobras na geladeira”
Em 2015, ela entrou na sociedade da Home Sweet, cuidando da administração enquanto o companheiro fazia hambúrgueres congelados. Aos poucos, no entanto, Juliana começou a produzir biscoitos e bolos para somar ao cardápio. “No fim das contas, a gente vendia mais doce que hambúrguer e o relacionamento acabou não dando certo.”
Na separação, Juliana ficou com a marca e foi a São Paulo fazer um curso de confeitaria artística, mais uma vez por recomendação da mãe. “Ela brincava: ‘Você sempre quis ser artista, de repente vai ser uma artista do açúcar’.”
A confeitaria artística virou paixão e trabalho. Em 2018, Juliana conta que atingiu o auge da carreira em Belém, produzindo bolos para casamentos e eventos. Os anos se passaram, mas o ritmo era insustentável.
“Não tem como ser empresária, cozinhar, montar bolo, confeitar, entregar, gerenciar as finanças e a equipe sozinha…”
Mesmo com ajuda, ela acabou sofrendo um burnout. Então, em 2021, decidiu dar um tempo em São Paulo, já que o marido, o contador belenense Gabriel Lima, 28, iria passar uma temporada na cidade cursando uma pós-graduação. Juliana aproveitou o período para se reconectar e, assim como o companheiro, estudar, inscrevendo-se em uma pós de gestão de alimentos e bebidas.

Biscoito de castanha-do-Pará da Amazônia no Pote (foto: Calli Fernandes).
O plano inicial era passar um ano na capital paulista, mas o casal se encantou pela cidade. Juliana começou a trabalhar em uma cafeteria, ajudando na organização e no cardápio, e também começou uma mentoria de carreira. Foi ali que nasceu a semente da Amazônia no Pote.
Durante a mentoria, Juliana resolveu testar o que fazia de melhor na cozinha para escolher que rumo seguir. “Vendi ao mesmo tempo uma opção de bolo confeitado e biscoitinhos artesanais.” O teste foi revelador: 100 biscoitos comprados e apenas três bolos.
Ela levou a reflexão para as férias em Macapá, onde reencontrou um caderno de receitas da avó paterna, “guardado a sete chaves” pelas tias.
“Para cada neto que nascia, ela criava uma receita de biscoito. O meu foi o amanteigado e o da minha irmã, de castanha”
Ao voltar, Juliana recebeu a notícia da demissão da cafeteria onde trabalhava há dois anos. Incentivada pela mentora, acelerou a carreira empreendedora, inscrevendo-se no Empretec (formação para empreendedores do Sebrae) e fez outros cursos de confeitaria.
Com insumos trazidos do Norte e receitas adaptadas, ela preparou cinco tipos de biscoitos e levou à sua primeira feira.
“Vendi tudo, porque uma mulher disse que tinha sido o melhor biscoito que comeu na vida e começou a indicar para mais gente. Só naquele dia, umas 30 pessoas compartilharam o produto em postagens no Instagram”
Convencida de que aquele era seu caminho, ela começou a desenhar o plano de negócio. “Com o dinheiro da primeira feira, investi no registro da marca. O que ganhei na segunda, em marketing. E assim as coisas foram acontecendo.”
O apoio do seguro-desemprego por seis meses também ajudou a trazer mais segurança para seguir em frente e empreender. Juliana viajou a Belém em busca de fornecedores e, em 26 de novembro de 2024, tirou o CNPJ da Amazônia no Pote.
Hoje, a marca oferece dez sabores fixos de biscoitos, entre doces e salgados (o pacote com 80 gramas custa 15 reais). Cinco são exclusivos das feiras – castanha (receita da avó paterna), Monteiro Lopes (amanteigado com cobertura de chocolate e baseado em receita do avô materno), cupuaçu, tacacá e charque frito.
Outros cinco sabores estão restritos às encomendas online: amanteigado de chocolate, amanteigado tradicional, limão e pimenta, coco (vegano e sem glúten) e cebola com mel. Desde o início de 2025, Juliana decidiu ousar e criar um novo sabor por mês com edição limitada (o pacote sai a 20 reais).
“Está dando tão certo que estou até pensando em colocar algumas no cardápio, porque tem gente que brinca: ‘Estou grávida e você vai me deixar sem esse biscoito?’”
Um dos destaques dessas edições limitadas foi o São João, em formato de pastelzinho, feito com calabresa e cachaça de jambu, depois empanado em farinha de milho. A invenção de novembro é o sabor pesto paraense (feito com chicória, cheiro-verde, castanha-do-pará e parmesão). As criações especiais têm nome e receita registrados na blockchain. Vários dos sabores também podem ser encomendados em versões veganas.

Doce de cupuaçu da marca, que também vende balas e um xarope à base do fruto amazônico (foto: Calli Fernandes).
Além dos biscoitos, a marca vende doces e balas de cupuaçu (45 e 20 reais, respectivamente) e um xarope do fruto, para ser usado em chás ou refrigerantes naturais (35 reais).
“Lá em Belém, algumas avós têm o hábito de deixar o caroço do cupuaçu em uma jarra com água e açúcar na geladeira. E aquilo vira tipo um refresco docinho, que é uma benção quando se chega da rua preguento de calor”
Inspirada nesse gostinho da infância, ela foi estudar a produção de xarope para criar o insumo. A Amazônia no Pote ainda oferece em seu cardápio uma cachaça de jambu e um café de marcas parceiras.
As feiras ainda são a principal fonte de renda da marca, mas exigem muito da empreendedora e de Gabriel, que deixou o emprego corporativo para cuidar da parte financeira e das vendas da Amzônia no Pote.
“Ele sempre foi bom de vender, porque não está vendendo só o que a esposa faz, mas sua cultura e história de vida”
Para depender menos das feiras e ter uma cozinha estruturada, a empreendedora investiu num espaço físico, inaugurado em outubro, na Rua Ambrosina de Macedo, 67, na Vila Mariana. O local funciona como uma “butique-vitrine” e ajuda a impulsionar as vendas.

Juliana no espaço da Amazônia no Pote (foto. Calli Fernandes).
No aniversário de um ano da marca, em 22 de novembro, diz Juliana, haverá uma celebração com drinques autorais, maniçoba, salgados exclusivos e todos os produtos do catálogo.
“A ideia para o ano que vem, depois do Carnaval, é fazer um evento por mês ou bimestral, para as pessoas irem sentindo o gostinho do que vai ser a cafeteria no futuro.”
Em meio à COP30, Bebel Abreu autografa hoje o cordel “Viagem a Belém”, na capital paraense. E conta ao Draft como a Bebel Books, criada há 15 anos como um selo experimental, cresceu, lançou fenômenos de venda e internacionalizou seu catálogo.
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