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“O papel do RH é fomentar a boa entrega coletiva. Precisamos prestar atenção em como chegamos até os resultados”

Giovanna Riato - 23 ago 2019 Giovanna Riato - 23 ago 2019
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Contratar bons profissionais e deixá-los em paz, dar liberdade para eles trabalharem. Essa era a máxima de William McKnight, executivo que presidiu a 3M nos anos 1940. Hoje, oito décadas depois, Sandra Barquilha, 39, diretora de Recursos Humanos da companhia no Brasil, se mantém fiel à filosofia do executivo e trabalha para manter em ebulição a cultura de inovação da companhia entre as pessoas.

Segundo ela, um dos segredos para isso está em fomentar a colaboração. “O resultado é importante, mas também prestamos muita atenção em como chegamos até ele”, diz. Assim, Sandra trabalha para conferir à área de Recursos Humanos da empresa uma boa dose de coragem, garantindo a capacidade de executar os desafios do dia a dia, mas também de trazer novas ferramentas para que permaneça aberta para o mundo, com cada vez mais espaço para que as pessoas se expressem e construam novas respostas lá dentro.

Na entrevista a seguir ela conta como os funcionários são a chave para uma empresa inovadora, fala Síndrome de Burnout, da necessidade de os profissionais assumirem o protagonismo da própria carreira e avalia o futuro do trabalho.

A 3M é conhecida pela cultura de colaboração e inovação. Como a companhia difunde esse espírito entre os funcionários?

O aspecto da inovação é muito forte quando se trata dos nossos produtos. Trabalhamos com melhoria contínua,  metodologias lean e agile, e uma série de outras estratégias para seguir em evolução. Algo essencial para esta evolução seguir sempre em curso é o nosso ambiente de trabalho, a cultura de criatividade e colaboração. Aqui dentro estimulamos as pessoas a trabalharem por uma boa entrega coletiva, não em um contexto de competição individual.

O resultado é importante, mas também prestamos muita atenção em como chegamos até ele

Temos uma série de programas para propagar esta visão: iniciativas de estímulo à qualidade de vida e à saúde, a um bom ambiente de trabalho, a diversidade e inclusão das pessoas. No fundo, o acolhimento e a colaboração permeiam todas as nossas inciativas.

Hoje as organizações disputam os melhores profissionais com empresas de tecnologia, que oferecem pacote de benefícios generoso e chamam a atenção com espaços descolados. Como a 3M trabalha para construir uma boa marca empregadora e se destacar nesse contexto?

Como muitas organizações, trabalhamos para nos mostrar como uma opção atrativa para os jovens talentos. A questão é que, a todo momento, priorizamos a transparência: somos uma empresa manufatureira inovadora, mas que não tem o ritmo de uma startup ou de uma organização digital.

Nosso trabalho é para gerenciar as diferentes gerações aqui dentro e administrar a ansiedade dos jovens que entram já esperando uma promoção. Estamos sempre em busca do que é justo e razoável para todos os lados e trabalhamos fortemente para manter esta clareza. Com esta abordagem, por 18 vezes figuramos entre as melhores empresas para trabalhar no País na lista organizada pela Great Place To Work.

Diversidade é um desafio de qualquer organização. Muitas vezes ter uma empresa mais diversa pode significar abrir mão de caminhos mais simples na hora de contratar. De que forma a 3M tem avançado nessa área? Quais são os resultados até aqui?

Temos uma série de iniciativas para atrair e incluir a diversidade na organização. Queremos variedade de pensamento aqui dentro. No ano passado, pela primeira vez, o nosso programa de trainee não restringia a inscrição por curso ou universidade, por exemplo. Também estamos trabalhando em processos em que selecionamos sem saber o gênero ou formação da pessoa.

Buscar diversidade não é um caminho fácil porque normalmente os gestores querem contratar pessoas que se pareçam com eles. Por isso, atuamos na conscientização destes nossos preconceitos inconscientes e buscamos sempre atrair pessoas dos diversos gêneros, etnias, crenças e bagagens. Com pensamento aberto, chegamos a um resultado coletivo muito melhor. A nossa força está no todo.

A chave para a diversidade é estimular o respeito. Cada vez que falamos, mostramos algum desafio, iluminamos as pessoas e fomentamos uma mudança

Equipes diversas dão mais trabalho, já que é natural encontrar diferença nas visões e opiniões. Como a 3M integra diferentes mentes e extrai um saldo positivo disso?

Como sociedade, ainda não estamos no nível em que a diferença é super bem aceita. Precisamos admitir que existe um tabu aí. O que temos feito é trabalhar para que as pessoas abram a cabeça, colocar todo mundo para colaborar, apresentar desafios que mostrem o quanto a diversidade traz benefícios. São muitas ações em conjunto, como o Dia da Criatividade e a Post-It War, iniciativas que estimulam o trabalho em equipe, a cocriação. Aos poucos, as pessoas começam a entender como entregar o melhor de si neste contexto.

No dia a dia, nossos processos incluem esta abordagem colaborativa. Geramos ideias em sessões de design thinking, em discussões que garantem espaço para que as pessoas exponham suas ideias e cheguem a um consenso coletivo.

Na sua visão, o que estimula o potencial de inovação entre as pessoas?

William McKnight, que foi presidente mundial da 3M nos anos 1940 e é um dos grandes responsáveis pela nossa cultura de inovação costumava dizer que temos de contratar bons profissionais e deixá-los em paz, dar liberdade para que os homens e mulheres da empresa trabalhem. É nisso que eu acredito, em oferecer autonomia e espaço. Não tem como esperar criatividade ou inovação sem isso.

Com segurança no espaço de trabalho, as pessoas têm chance de aprender, melhorar. É uma combinação de empoderamento e autoresponsabilidade

Quando falamos da nossa área de produtos, do processo científico, claro que há metodologia e processos, mas a inovação é essencialmente um mindset.

Há uma discussão sobre o desafio de melhorar a jornada dos funcionários, a experiência deles nas empresas, com o employee experience. A 3M tem trabalhado nesse sentido?

Entendemos que a jornada do funcionário depende muito do protagonismo dele. Trabalhamos a gestão de pessoas com ações, benefícios e uma série de programas, mas o desafio é que isso seja percebido pelas pessoas. Por isso, defendemos aqui que todos sejam protagonistas de sua experiência na companhia e, assim, vejam aqui um caminho para desenvolver a própria carreira.

A Síndrome de Burnout acaba de entrar para a lista de doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS). Como oferecer desafios e recompensas de forma equilibrada nas empresas e evitar o surgimento de doenças?

Tem um lado que é a empresa, do ambiente de trabalho. Nesse ponto há participação enorme da liderança e atuamos para desenvolver essa sensibilidade nos gestores, além de estimular esta atenção à saúde entre os nossos funcionários. Por outro lado, há aspectos que dependem do funcionário. Vivemos no mundo VUCA (do inglês volátil, incerto, completo e ambíguo) e as pessoas precisam se preparar para encarar os desafios deste contexto. A empresa tem de dar espaço, oferecer acolhimento para que para que o funcionário possa melhorar o gerenciamento da pressão e das incertezas do novo ritmo do mundo em que estamos vivendo.

Na sua visão, qual é a maior qualidade que um profissional pode ter?

Uma das grandes fortalezas no mundo VUCA é resiliência e a capacidade de adaptação. Tudo muda constantemente e é importante conseguir se adaptar, saber lidar com cenários desconhecidos.

E qual é o pior defeito?

A apatia e inércia. Você precisa ser protagonista da sua vida, da própria carreira. Em um contexto como o nosso, não podemos ser telespectadores da mudança, é essencial ser capaz de assumir a liderança – pelo menos nos aspectos que te impactam diretamente. Até mesmo a não escolha é uma decisão e precisamos assumir a responsabilidade por ela.

Na sua visão, qual é o futuro do trabalho? O que deve se transformar nessa relação tão essencial e quais movimentos a 3M está fazendo para acompanhar as tendências?

O trabalho e vida pessoal tendem a ter cada vez menos limites. A vida profissional deve se tornar a ser fonte de realização do propósito de vida para as pessoas. No aspecto prático, o trabalho será menos formal – e aqui não estou falando de carteira assinada. Me refiro à tendência de que as pessoas atuem cada vez mais por projetos, com equipes multifuncionais e carreiras mais curtas, mudando a atuação de tempos em tempos para acompanhar a transformação do mundo.

O conhecimento tem validade cada vez menor, então precisaremos viver em processo constante de aprendizagem. Teremos inúmeras chances de nos reinventar e o efeito colateral disso é a ansiedade, algo com que precisamos aprender a lidar

O trabalho vai gerar novas oportunidades que sequer imaginamos, com o surgimento de uma avalanche de profissões novas.

Diante de tantas mudanças, qual é o futuro da área de Recursos Humanos?

A grande busca de quem trabalha com Recursos Humanos é por aproveitar o potencial de cada um, da diversidade das pessoas, para construir o todo e entregar resultados. O RH precisa ter atuação transparente e corajosa para fazer esta construção, criando nas organizações um ambiente seguro para que todo mundo exponha suas ideias, contribua com o crescimento e o bem comum.

 

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