Sem assédio telefônico: por meio de uma plataforma online, a Acordo Certo facilita a quitação de dívidas

Alexandra Gonsalez - 2 set 2019
Dilson Sá e Andre Monteiro, dois dos sócios à frente da Acordo Certo.
Alexandra Gonsalez - 2 set 2019
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Devo, não nego; pago quando puder. Diariamente, o ditado tem sido vivido, na prática, por 63,2 milhões de brasileiros endividados. O total de inadimplentes equivale a 40,4% da população adulta, segundo o Serasa Experian. A maioria das contas em atraso gira em torno de R$ 500 e refere-se a bancos e cartões (28,1%), água, gás e luz (19,8%), telefonia (13,2%) e varejo (11,6%).

“Muitas vezes a inadimplência ocorre porque o brasileiro não sabe que há opções de crédito mais barato no mercado e acaba refém dos juros altíssimos nos bancos e cartões na hora de saldar o que deve”, diz André Monteiro, 39, sócio e Chief Technology Officer (CTO) da Acordo Certo.

A empresa de negociação de dívidas online foi criada em 2010 por Edgard Melo, inicialmente com base em um modelo de acordos coletivos. Em 2015, André, Dilson Sá e Luís André Sambiase entraram como sócio-investidores. No fim de 2016, o trio assumiu a operação, incrementando a tecnologia e remodelando a proposta para acordos individuais (mais tarde, Edgard vendeu sua parte no negócio).

Em 2018, a fintech intermediou 564 mil acordos, ou dívidas pagas, um volume quase seis vezes maior do que no ano anterior. “Temos 4 milhões de usuários cadastrados e um registro total de débitos da ordem de R$ 35 bilhões”, diz. Entre as mais de 20 credoras parceiras estão Santander, Crediz, Claro, Pernambucanas, O Boticário e Faculdade Anhanguera.

OS DEVEDORES UTILIZAM A PLATAFORMA GRATUITAMENTE

A plataforma funciona como intermediária entre os credores e os devedores. “Quanto maior o número de clientes, mais acordos geramos. Lucramos com o volume de operações”. Segundo o CTO, a filosofia da Acordo Certo é tratar bem o inadimplente, em vez de entendê-lo como um estorvo, o que ocorreria em empresas de cobrança tradicionais.

“Não assediamos o devedor neste momento delicado de sua vida. Tudo é realizado online, de maneira sigilosa, rápida e didática”

Os devedores utilizam o site gratuitamente — quem paga a conta são as empresas credoras, que cadastram as dívidas na Acordo Certo e desembolsam uma taxa a cada acordo efetuado.

A FINTECH OFERECE CONDIÇÕES MAIS VANTAJOSAS QUE OS CREDORES

Em 30 segundos, afirma André, a plataforma mostra se o consumidor tem dívidas com alguma das empresas parceiras. Em seguida, exibe as opções de pagamentos nas melhores condições de taxas e parcelamentos oferecidas por cada credor. O devedor escolhe o acordo que se encaixa no seu orçamento e gera um boleto para pagar no banco.

“Caso algum credor não esteja na base de dados, é feita uma busca externa e em até 15 minutos o cliente recebe uma proposta por email”, diz.

Para ganhar competitividade, a fintech oferece condições de pagamento melhores do que as praticadas pelos credores, com descontos que chegam a 95% e parcelamento com prazos mais longos. “Conseguimos isso porque trabalhamos com uma estrutura enxuta, totalmente digital, e cobramos comissões menores, o que significa taxas de desconto mais convidativas.”

OS SÓCIOS TIVERAM OUTROS DOIS EMPREENDIMENTOS ANTERIORES

Paulista de São Caetano do Sul, com extensão em Economia pela Harvard Extension School e pós-graduação em Estatística e Matemática na Universidade de São Paulo, André construiu sua trajetória no mundo da tecnologia.

“Depois do Ensino Médio cheguei a estudar dois anos de Engenharia Mecatrônica. Acabei desistindo e viajei para a Austrália, onde fiz um curso técnico de TI, programação de linguagens e algoritmos, na Griffith University.”

No retorno ao Brasil, no início dos anos 2000, André trabalhou no departamento de TI do BankBoston, onde conheceu conheceu Dilson e Luis, seus sócios atuais.

“Implantamos os primeiros modelos de internet banking e logo percebemos que a tecnologia estava trazendo oportunidades únicas. Tínhamos um mercado inteiro a ser explorado em qualquer segmento financeiro”

Antes da Acordo Certo, o trio tocou outros dois empreendimentos: a Fiveware Solutions, de soluções de TI para empresas de cobrança de crédito; e a Alliance Asset Management, uma gestora de fundos para comprar e vender ações online na Bolsa de Valores. “Essas experiências foram fundamentais para termos mais acertos do que dificuldades com a plataforma”.

CONVENCER OS DEVEDORES FOI UM DOS DESAFIOS DO NEGÓCIO

Conseguir os R$ 3 milhões de investimento inicial para a nova empresa não foi a parte mais difícil da operação, segundo André. “Tivemos quatro sócios investidores-anjo que seguem conosco até hoje. O grande obstáculo foi negociar com credores, bancos e varejistas e convencê-los do potencial da base de dados”.

Um desafio foi demonstrar aos devedores as vantagens do novo modelo de negócios.

“Muitos desconfiavam dos nossos valores, entravam e saíam do site várias vezes. A boa notícia é que tanto os consumidores quanto grandes bancos e instituições financeiras estão se abrindo para soluções digitais”

Entre os inadimplentes cadastrados na plataforma (a média com atrasos de pagamento superiores a 45 dias), há tanto clientes Pessoa Física quanto donos de pequenos negócios.

“Os microempreendedores enfrentam as mesmas dificuldades que o cidadão comum e ainda não conseguem arcar com a contribuição obrigatória”, diz.

INVESTIMENTO EM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL PARA TURBINAR A PLATAFORMA

Outro ponto essencial para a saúde da companhia é uma renovação tecnológica anual. “A Inteligência Artificial é a ferramenta que garante o sucesso de nosso negócio, por isso é impossível não se atualizar constantemente”.

André conta que neste ano foram investidos R$ 4 milhões em um novo sistema de inteligência de dados. Parte deste valor será direcionada à tecnologia Driverless AI, desenvolvida pela californiana H2O.ai, e que será repassada para a fintech ao longo de dois anos. Com recursos de Machine Learning, esse modelo de inteligência artificial permitiria que os cientistas de dados trabalhem em projetos mais rapidamente usando automação e tecnologia de ponta.

“Tarefas que antes levavam meses podem ser realizadas em minutos. No nosso negócio, isso significa ampliar a quantidade de acordos e gerar queda de até 1% no endividamento dos brasileiros”

Segundo o empreendedor, após a implantação da tecnologia, a expectativa é reduzir em até 70% o tempo de espera nas negociações entre consumidor e credor, além de diminuir o valor das dívidas num patamar de 60%, graças à agilidade do sistema. “Já estamos aptos a atender 25 milhões de devedores”, revela.

A META É MAIS DO QUE DOBRAR O FATURAMENTO EM RELAÇÃO A 2018

Em 2018, a Acordo Certo faturou R$ 6 milhões, marca superada ainda neste primeiro semestre, com R$ 7 milhões em caixa no mês de junho. “Estamos em uma curva ascendente e calculamos chegar ao fim de 2019 com R$ 15 milhões de faturamento.”

Para 2020, os sócios esperam manter o crescimento atual, ampliar o número de empresas parceiras e entregar soluções novas de pagamento para o cliente final. “É preciso criar uma cultura financeira, mostrar ao brasileiro que é possível trocar uma dívida cara por outra mais barata”, diz André.

A fintech também pretende ampliar o leque de serviços da plataforma e oferecer uma linha de empréstimos pessoais com taxas de juros a 1,06%.

“As pessoas querem limpar o nome porque desejam voltar a ter crédito. Facilitar esse processo, seja no financiamento, ou nos acordos, é o core da nossa companhia.”

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Acordo Certo
  • O que faz: Plataforma gratuita de negociação de dívidas online.
  • Sócio(s): André Monteiro, Dilson Sá, Luis André Sambiase
  • Funcionários: 25
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2010
  • Investimento inicial: R$ 3 milhões
  • Faturamento: R$ 6 milhões (2018)
  • Contato: marketing@acordocerto.com.br
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