A encruzilhada de uma gigante do varejo: como a Via busca abraçar a pauta ESG sem abrir mão da eficiência

Maisa Infante - 15 jul 2021
Hélio Muniz, Chief Communications Officer & ESG da Via.
Maisa Infante - 15 jul 2021
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Como fazer avançar questões importantes como diversidade e sustentabilidade em uma empresa com 47 mil funcionários? 

A Via, dona das marcas Extra, Ponto e Casas Bahia, aposta na diplomacia — e, por isso, criou o cargo de Embaixadoras da Diversidade e Sustentabilidade, ocupados desde o início de 2021 pelas executivas Vanessa Romero e Amanda Ferreira. Junto com o CCO & ESG Hélio Muniz, elas estão na linha de frente do desenvolvimento de projetos que buscam deixar a companhia mais sustentável e mais diversa. 

“É um cargo bem diplomático mesmo, porque às vezes elas vão entrar em uma zona de conflito. Nenhum de nós três tem, por exemplo, poder para contratar a energia de uma usina solar”, diz Hélio. “Mas a gente consegue enxergar isso no mercado e mostrar para a empresa, propor juntar a área de infraestrutura, que compra energia, com a área comercial, que pode fazer essas medições. Então é um papel diplomático, de convencer, conversar e explicar.”

A incorporação desses cargos ao dia a dia da companhia — que tem cerca de mil lojas físicas espalhadas em 450 cidades do Brasil — está relacionada com o peso cada vez maior das estratégias ESG para o desenvolvimento do negócio.

“A sociedade nos pede isso. A Vanessa já perdeu a conta de quantos questionários de investidor ela responde por semana. O setor de RI [Relações com Investidores] nos manda relatórios questionando as metas, o que fazemos, as medições”, diz Hélio.

COMO USAR A CAPILARIDADE PARA FORTALECER A ECONOMIA CIRCULAR

Seja no comércio físico ou eletrônico, a Via atua como um elo entre fornecedores e consumidores. Dessa posição, a companhia acredita que pode influenciar os dois lados a atuarem de forma mais ativa e consistente na economia circular por meio da logística reversa de eletroeletrônicos e embalagens. Vanessa afirma:

“A economia não circular chegou em um ponto de exaustão. Pensar em um ciclo de produção, consumo e descarte que não se fecha é o que está levando a essas consequências de degradação que estamos vivendo hoje”

Para estimular essa Economia Circular, a Via disponibiliza pontos de coleta em 400 lojas físicas da Casas Bahia e Ponto para que as pessoas possam descartar seus eletroeletrônicos. A Green Eletron, gestora de logística reversa, faz o encaminhamento desse material de volta à cadeia. 

Em 2020, esse trabalho resultou na coleta de 3 toneladas de resíduos eletrônicos de pequeno e médio porte, incluindo telefones, pilhas, peças e cabos de impressoras, computadores, televisores e cafeteiras. 

No caso das embalagens, a logística reversa se dá de duas formas. Nas lojas e centros de Distribuição, as sobras de papelão, isopor e plástico são separadas e encaminhadas à reciclagem. 

A outra forma tem relação direta com o consumidor que, ao receber o produto em casa, pode optar por devolver a embalagem para o transportador, que retorna o material para a empresa fazer a destinação correta. 

A Via tem parceria com 11 cooperativas que recebem o material, processam e vendem para a indústria novamente. Em 2020, foram encaminhadas mais de 5 mil toneladas de materiais como plástico, papelão e isopor e, segundo Vanessa, a renda dessa venda ajuda a sustentar 250 famílias ligadas a essas cooperativas:

“Queremos expandir isso, puxando o segmento e trazendo outros parceiros. Para atuar na Economia Circular de forma mais rápida é preciso parcerias. Eu preciso da indústria, dos clientes e de todo mundo atuando junto.”

LOGÍSTICA DE BAIXO CARBONO E CONSUMO DE ENERGIA

Quando se fala em sustentabilidade, diz Vanessa, um dos pontos críticos da empresa é a emissão de carbono causada pelas entregas. Ou seja, é preciso pensar em sistemas de logística mais eficientes. 

Embora ainda não tenha as medições de emissões, o objetivo é reduzi-las por meio da otimização das entregas e da substituição gradual dos veículos utilizados por modelos mais eficientes e econômicos, como os elétricos. 

Neste ano, a Via colocou na rua dez veículos elétricos para fazer entregas de última milha; a ideia é aumentar esse número gradativamente. 

Em 2020, a companhia já tinha adquirido a Asap Log, startup de tecnologia logística responsável pelas entregas de última milha. Segundo Hélio:

“Isso evita que o cliente compre um liquidificador ou um celular e o produto chegue em um caminhão. Vai chegar na bike, moto ou carro. Só aí já há uma redução grande de CO2 — e também no trânsito na cidade”

Com relação à energia, a Via espera ter 80% do seu consumo vindo de fontes renováveis, como usinas solares, até 2025. Para isso, o plano é intensificar o uso de Geração Distribuída e também do Mercado Livre de Energia Elétrica. 

Hoje, entre lojas e Centros de Distribuição, são 68 unidades operando no Mercado Livre de Energia e a meta é chegar a 208 nos próximos anos. 

Em termos de Geração Distribuída, aquela que é gerada no local de consumo ou próximo a ele, a Via já opera com uma usina solar em Minas Gerais, que atende 79 filiais no estado. No Rio de Janeiro, duas usinas solares devem entrar em operação ainda neste ano e atender o consumo de mais de 50 filiais da Via no estado. 

O DESAFIO DE DEBATER A INCLUSÃO RACIAL NO UNIVERSO DE 47 MIL FUNCIONÁRIOS

Aumentar a inclusão de negros está nas metas da companhia. Signatária de compromissos como o Manifesto Seja Antirracista e o Selo Sim à Igualdade Racial, inciativas lideradas pelo Instituto Identidades do Brasil, a empresa pretende, segundo Hélio, ter um número maior ou igual a 45% de negros em cargos de liderança até 2025. 

“A questão da diversidade é até maior do que a ambiental. O consumidor, em qualquer pesquisa que você fizer, vai dizer que prefere comprar de empresas que tenham políticas ambientais. Porém, ele ainda não está disposto a pagar mais por isso — mas está disposto a abandonar empresas que não sejam diversas. A exigência da sociedade, do cliente e da pessoa que vem trabalhar com a gente é muito mais urgente e rápida”

Para aumentar o número de negros em cargos de liderança, a Via quer trabalhar com programas de formação que ajudem os funcionários da empresa a crescer dentro da companhia. 

Um desses programas é o Lapidar, lançado neste ano, que vai capacitar 30 colaboradores da área de logística autodeclarados pretos e pardos para futuras posições de liderança, entre coordenador e gerente, por meio de uma jornada personalizada de desenvolvimento.

Atualmente, a companhia possui mais de 6 mil colaboradores nesta área, sendo 53,9% autodeclarados pretos ou pardos.

Também neste ano, segundo Hélio, todos os 20 mil funcionários da área de vendas, que lidam com clientes, receberão treinamento sobre questões de raça. Vanessa complementa:

“Todo esse planejamento foi construído de uma forma coletiva. Houve o cuidado de trazer pessoas de loja, centro de distribuição e dos grupos de afinidade para falar das suas temáticas”

Esses grupos de afinidade são parte importante da estratégia. Formados dentro da empresa com participação voluntária, têm foco em gênero, raça, PCDs e LGBTQIA+ e funcionam como um hub de ideias e também como um grupo de pressão para que as coisas aconteçam. 

Dentre as iniciativas propostas por eles que viraram realidade está a instalação de banheiros unissex em todos os andares da sede da companhia em São Caetano, região metropolitana de São Paulo. 

“É como se fosse um grupo para pressionar o poder, que somos nós, a tomar decisões, olhar, discutir questões”, diz Hélio. “E isso é ótimo porque questões simples, como criar banheiros unissex, saem desses grupos. E saem também soluções para melhorar o atendimento ao cliente. Então, a diversidade é excelente para os negócios.” 



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