Você canta, toca, tem composições próprias e sonha em lançar sua música, mas falta grana para o estúdio? A Grave Online dá um jeito

Dani Rosolen - 3 jun 2020
Fernando (à esquerda), diretor de produção musical da Grave Online, e Maurício, CTO da empresa.
Dani Rosolen - 3 jun 2020
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O modo de ouvir música mudou: basta pensar na explosão de plataformas de streaming de áudio (o Spotify é só a mais famosa). E o modo de fazer música também vem mudando — abrindo oportunidades para os artistas independentes, mesmo aqueles que até outro dia só cantavam no chuveiro.

Criada em 2017, a Grave Online mira aqueles artistas sem grana para bancar a diária de um estúdio profissional, mas que não dispensam a chance de divulgar suas composições nos serviços de streaming (e competir “de igual para igual” com as celebridades da música pop).

Funciona assim: o cliente grava a sua música (apenas com voz e/ou violão, piano, guitarra etc.) no próprio celular e envia o áudio por WhatsApp para a Grave Online, indicando quais instrumentos gostaria de adicionar ou regravar.

Em três anos de operação, a empresa contabiliza 1 300 faixas gravadas para 500 clientes de 17 estados — do Rio Grande do Sul a Roraima, incluindo todo o Sudeste e boa parte do Nordeste. O faturamento em 2019 foi de pouco mais de 220 mil reais.

COM UM ESTÚDIO EM JUNDIAÍ, OS SÓCIOS VIRAM A CHANCE DE UM NOVO NEGÓCIO

Dois dos quatro fundadores da Grave Online, Fernando Gambini e Ricardo Cecchi, já eram sócios em um estúdio de gravação em Jundiaí, interior de São Paulo, há mais de 20 anos.

Percebendo uma queda na demanda e a dificuldade de captar clientes de fora da região, a dupla se uniu a dois amigos, ambos produtores musicais: Maurício Borelli e Moises Seba Neto. A missão: descentralizar o processo com a internet e criar um novo negócio.

“Pesquisamos alguns players internacionais, como o SoundBetter, do Spotify, que já trabalhavam neste formato online de gravação”, diz Maurício, CTO da Grave Online. Com o uso da rede, eles conseguiram baratear o custo do serviço e atrair novos clientes:

“O que nos motivou foi entender que tínhamos a possibilidade de atender pessoas comuns. Nosso mercado de atuação é muito maior do que o universo de artistas profissionais”

Como já possuíam um estúdio, os sócios puderam dar o start na empresa com um investimento baixo, de cerca de 10 mil reais. Os aportes subsequentes, com marketing, compra de sistemas e desenvolvimento do e-commerce, vieram dos lucros da Grave Online.

A PRECIFICAÇÃO CONSIDERA AS HORAS TRABALHADAS E SERVIÇOS ADICIONAIS

Fernando atua como diretor de produção musical da Grave Online; Ricardo é o especialista em mixagem e masterização; e Moises, o responsável por marketing e vendas.

A precificação leva em conta a quantidade de horas que a equipe do Grave Online (que inclui mais 15 freelancers) precisa para executar a gravação ou algum serviço adicional.

No site da empresa há uma tabela de preços. Uma música de até cinco minutos com acompanhamento acústico de piano, afinação de uma voz, mixagem e masterização, por exemplo, custa 299,90 reais.

O músico manda sua DEMO pelo WhatsApp para a Grave Online e recebe a gravação profissional após as indicações do que busca para profissionalizar sua composição.

O preço sobe conforme o cliente escolhe outros arranjos (assim, a banda virtual cresce “de tamanho”) ou escolhe serviços adicionais: harmonização, composição melódica, distribuição digital da música nas plataformas de streaming e o que eles chamam de lyrics videos (vídeoclipes com a letra da música sincronizada com o áudio). O ticket médio é de 550 reais.

O PÚBLICO-ALVO INCLUI ATÉ MESMO QUEM APENAS “ARRANHA UM VIOLÃO”

Segundo Maurício, além de músicos amadores e semiprofissionais, o público-alvo da Grave Online é gente comum, que tem uma composição na gaveta e sonha em ver (ou melhor, ouvir) sua obra gravada com qualidade:

“O cliente quer ter o registro profissional da obra em áudio, seja para mostrar para os familiares ou presentear algum ente querido, seja para publicar a canção nos aplicativos de streaming. Cada um tem uma necessidade ou desejo”

Os estilos variam — mas gospel, pop rock e sertanejo são bem populares na plataforma. Sobre se tem orgulho especial de alguma faixa que ajudou a lançar, o CTO resume: “São aquelas em que conseguimos transformar uma música muito incipiente em uma boa canção, de padrão profissional.”

PARA EVITAR RETRABALHOS, É PRECISO ENTENDER A DEMANDA DO CLIENTE

Como tudo é feito à distância, o time da Grave Online tenta entender em detalhes exatamente o que o cliente quer. Uma vez iniciado o processo de produção, há pouca margem para alterações mais significativas.

“Nós recebemos um áudio demo da música a ser regravada, solicitamos algumas referências, como orientação de timbres, sonoridade, sentimentos…. Depois, distribuímos os materiais internamente para nossos colaboradores executarem o projeto”

O CTO afirma que a Grave Online traz vantagens também para esses colaboradores, todos freelancers. São músicos e produtores musicais que não tiram ainda 100% do seu sustento trabalhando no ramo; dessa forma, prestar serviço para a plataforma acaba sendo mais uma alternativa de ganha-pão.

“Esses profissionais podem trabalhar de casa, nos períodos ociosos, com pessoas de todo o mundo e garantir mais oportunidades de trabalho.”

UMA NOVA PLATAFORMA DE E-COMMERCE TEM LANÇAMENTO PREVISTO PARA JULHO

A principal dificuldade da Grave Online ainda é alcançar um maior número de clientes potenciais — obstáculo que Maurício atribui à limitação de investimentos em marketing. O empreendedor tem esperanças de que esse cenário mude com o lançamento, em julho, da loja virtual da Grave Online.

“Acreditamos que o e-commerce será um divisor de águas para nosso modelo de negócio, permitindo ao cliente montar sua própria produção, escolher os instrumentos que deseja gravar e personalizar o trabalho conforme sua necessidade”

Atualmente todo esse processo é feito “manualmente”, com atendimento e negociação via WhatsApp. A nova plataforma, promete o CTO, será bem intuitiva para auxiliar o cliente.

“A partir da escolha do gênero musical, ele receberá sugestões de arranjos pré-montados automaticamente pelo sistema, podendo ouvir exemplos, adicionar ou retirar instrumentos. Também poderá customizar 100% da produção, caso prefira.”

O FATURAMENTO CRESCEU 92% NOS PRIMEIROS MESES DE CONFINAMENTO SOCIAL

Outra novidade da nova plataforma será a opção de acompanhar o andamento da produção em tempo real. Maurício cita novamente o SoundBetter para dizer que a plataforma funcionará de modo semelhante, mas para músicos amadores e independentes.

Entre os concorrentes da Grave Online, ele menciona ainda as plataformas Ajeito Sua Música e Fiverr, mas diz que há diferenças de proposta: enquanto a primeira se limitaria a “fazer ajustes nas músicas”, a segunda requer que cada serviço seja contratado isoladamente.

Os sócios da Grave Online querem aproveitar esse momento de quarentena para lançar a nova ferramenta. Afinal, “a pandemia catalisou o negócio”: com o distanciamento social, o faturamento cresceu 92% entre março e maio de 2020, na comparação com o mesmo período de 2019.

No embalo das lives de celebridades da música, parece haver cada vez mais artistas amadores se aventurando a mostrar suas habilidades.

“Por sermos essencialmente digitais e pelo fato do isolamento social estar atrelado ao descobrimento de novos hobbies, aquele violão esquecido no armário, aquela composição jogada no fundo da gaveta, estão sendo resgatados.”

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Grave Online
  • O que faz: Transforma gravações caseiras (enviadas pelo WhatsApp) em faixas de acabamento profissional
  • Sócio(s): Fernando Gambini, Maurício Borelli, Moises Seba Neto e Ricardo Cecchi
  • Funcionários: 15 freelancers
  • Sede: Jundiaí (SP)
  • Início das atividades: 2017
  • Investimento inicial: R$ 10.000
  • Faturamento: R$ 220.000 (em 2019)
  • Contato: [email protected]
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