Como a Klabin busca se reoxigenar com startups e, também, validar a inovação com sua própria equipe

Maisa Infante - 26 jul 2018A gerente de inovação Renata Freesz fala dos desafios de vender o propósito de sua área dentro da organização e das expectativas em relação aos negócios apoiados pela empresa.
A gerente de inovação Renata Freesz fala dos desafios de vender o propósito de sua área dentro da organização e das expectativas em relação aos negócios apoiados pela empresa.
Maisa Infante - 26 jul 2018
COMPARTILHE

Renata Freesz, 40, gerente de inovação da Klabin, que produz e exporta papéis para embalagens e tem 17 unidades industriais no Brasil e uma na Argentina, tem a missão de levar uma nova cultura para todos os setores da empresa. E não estamos falando de inovação em produto ou na área de ciência e tecnologia, mas sim em um novo estilo de trabalhar: cocriação, relações em rede, intraempreendedorismo, aproximação com startups e desenvolvimento de soluções para tornar a empresa e os processos mais eficientes e sustentáveis.

Embora o cargo de Renata exista formalmente há apenas dois meses, esse movimento, batizado de Inova Klabin, começou a se desenhar, segundo ela, há dois anos, quando a empresa investiu 8,5 bilhões de reais em uma fábrica de celulose, no Paraná, focada em tecnologia aplicada, eficiência energética, internet das coisas etc. Na sequência, em junho de 2017, foi inaugurado um Centro de Tecnologia, no mesmo estado, focado em pesquisa de ponta. “A partir desse movimento, várias avenidas se abriram, a empresa praticamente dobrou de tamanho, surgiram investimentos na ampliação do time e a necessidade de espalhar essa cultura da inovação tanto interna quanto externamente”, conta Renata.

Para a inauguração do Centro de Tecnologia, em agosto passado, foi feita a primeira Semana Inova Klabin, que reuniu clientes, fornecedores e parceiros em uma série de conversas sobre temas como inovação, tecnologia e tendências — o que fez disparar conversas internas que culminaram em diversas ações a partir do começo de 2018: desde a compra de participação em uma startup israelense até um Pitch Day Jurídico. Renata diz: “Anos atrás, a questão da inovação estava bastante vinculada à pesquisa e desenvolvimento, patentes, produtos, enfim, à parte científica e tecnológica. Isto permanece cada vez mais forte porque está no DNA da empresa”. E prossegue:

“Abrimos um novo olhar, de que a inovação pode estar em qualquer departamento porque é um estilo de trabalhar e ver as coisas”

O Pitch Day Jurídico, a seu ver, é considerado um marco porque está sendo uma experiência de levar a cultura da inovação para uma das áreas mais tradicionais das grandes corporações. Foi feito um chamado para que startups apresentassem soluções tecnológicas aplicadas na área jurídica e um time interno (formado por funcionários do departamento jurídico da Klabin, pessoas da área de TI e também representantes dos escritórios de advocacia que atendem a empresa) ficou responsável por avaliar os projetos.

Ao todo, 28 startups apresentaram seu pitch e dez foram selecionadas para uma segunda exposição, quando haverá um novo corte. Segundo Renata, esta tem sido uma experiência rica, que revelou soluções interessantes como mapeamento de propriedade intelectual e patentes, robôs que tiram dúvidas trabalhistas, entre outros. “Considero uma quebra de paradigma. O jurídico é uma área muito tradicional, com menos apetite ao risco, e foi a primeira, fora da área de tecnologia, a participar desse processo de inovação.”

A APROXIMAÇÃO COM O ECOSSISTEMA COMEÇOU COM UMA STARTUP ISRAELENSE

Um dos caminhos para difundir a inovação internamente tem sido a aproximação com as startups, um processo que começou há pouco mais de um ano, quando a empresa participou do Endeavour Scale Up, um programa de mentoria de startups focado na indústria. A Klabin foi uma das patrocinadoras do evento, no qual muitos executivos da empresa tiveram contato com esse ecossistema e algumas das startups participantes, inclusive, se tornaram parceiras da Klabin. “Esse programa de mentoria nos mostrou como é possível multiplicar conhecimento de várias áreas, como vendas, financeiro e gestão, e como isso ajuda a todos os profissionais, seja da grande ou da pequena empresa”, diz a gerente de inovação.

No começo deste ano, a Klabin investiu 2,5 milhões de dólares na aquisição de 12,5% da startup israelense Melodea Bio Based Solutions, pioneira na tecnologia de extração de celulose nanocristalina, produzida 100% a partir de fontes renováveis. A ideia é usar esse material na criação de papéis e embalagens mais resistentes, 100% recicláveis, além de potencializar oportunidades para novos negócios em produtos de base florestal.

Essa aproximação com novos negócios tem oferecido, de acordo com Renata, uma troca rica para os dois lados: “A grande indústria consegue ajudar na mentoria destas startups para que elas não cometam falhas básicas. E elas nos trazem a paixão pelo negócio e a simplificação de processos”. Ela ainda fala:

“Nas corporações, há uma série de hierarquias e novas validações, o que nos torna mais morosos. E as startups têm mais agilidade, então, nos reoxigenam para fazer mais simples, testar rapidamente e recomeçar”

No programa Desafios Klabin, lançado no começo de 2018 e com previsão de encerramento no final do ano, a Klabin propôs sete desafios relacionados a problemas reais de diversas áreas da empresa, como o impacto gerado pela poeira das operações florestais na vida de comunidades, a difícil comunicação de dados dentro das florestas e o acompanhamento de equipamentos enviados para serviços externos.

1ª edição da Inova Klabin, que resultou na compra de uma startup israelense e em pitches voltados para a área jurídica.

O objetivo é fazer uma conexão com startups que apresentem soluções para estas questões e, no final, contratar as que tiverem o melhor e mais eficiente produto. “São desafios que a gente tenta resolver e, muitas vezes, não consegue. Quem sabe uma delas não soluciona o nosso problema de maneira mais simples e inovadora?”, diz Renata.

Entre as 28 startups selecionadas, que se apresentarão em um Pitch Day no dia 2 de agosto estão a Polynano (que faz emulsões de ações prolongadas para contenção de poeira), a Mundo Livres (que produz placas de aglomerado de madeira com 99,5% de produtos naturais) e a Avante Tecnologia (que trabalha com drones e robôs customizados) . As escolhidas farão provas de conceito, quando o produto será testado nas unidades da Klabin.

Com isso, a empresa quer ganhar eficiência e sustentabilidade nos seus processos e, por outro lado, oferecer às startups a oportunidade de ter a estrutura de uma grande corporação para testar seus produtos, além de estimular o empreendedorismo no agronegócio:

“Optamos por criar desafios bem específicos, mas que podem ser escalonados, considerando que o Brasil tem vocação para a agricultura”

Ela prossegue: “Então, uma solução para a conectividade no meio da floresta, por exemplo, vale também para soja, milho ou laranja. E também não queremos ser proprietários dessas soluções, até para permitir que eles tenham outros clientes”.

PARA FUNCIONAR, É PRECISO VENDER A IDEIA DE INOVAÇÃO DENTRO DA EMPRESA

Implantar uma cultura de inovação em uma corporação exige um trabalho de estímulo e engajamento para que todos os colaboradores vejam a importância e os resultados deste trabalho. Renata acredita que dar o empurrão para que as pessoas se movimentem é uma de suas principais funções e, também, um grande desafio. “Existe um processo interno de venda de conceito, de engajamento. É algo constante, que envolve públicos diferentes dependendo do projeto. A pessoa precisa acreditar que isso vai ajudá-la para se engajar de verdade”, conta.

No caso dos Desafios Klabin, por exemplo, foram formadas equipes das áreas afins a cada desafio. Esses times serão a banca avaliadora das startups ligadas ao desafio e também responsáveis pela condução das provas de conceito. “Para conseguirmos esse engajamento, precisamos garantir a contratação da empresa selecionada. Em uma grande empresa, o processo para cadastrar um fornecedor é bem exigente e muitas vezes inviabiliza uma startup. Então, o que temos feito é simplificar o processo e dar um tratamento diferenciado para estes negócios.”

Na sua equipe formal, Renata, que responde ao diretor de Tecnologia, Inovação, Sustentabilidade e Projeto, trabalha com três pessoas, o que considera uma estrutura mínima para fazer a parte burocrática. Porém, ela diz que o trabalho e a inovação só existem porque há uma rede de pessoas envolvidas. “Estamos organizando uma semana de inovação e são pelo menos 30 pessoas de áreas diferentes trabalhando juntas. É como se eu tivesse tentáculos em vários setores da empresa”.

Ela fala que o resultado dessa nova forma de trabalhar é que os projetos com áreas múltiplas têm aumentado porque os colaboradores passaram a ter um novo olhar, entendendo como podem contribuir com um projeto que não é da área na qual atuam diretamente. Um exemplo disso é um programa, desenvolvido pela área de Gente e Gestão: trata-se de um aplicativo, similar aos de relacionamento, em que é possível encontrar “matches” profissionais. Quem quer desenvolver habilidades comerciais, por exemplo, vai se conectar com alguém da área de vendas. “Isso criou uma rede enorme na companhia em que não importa o cargo, mas sim a expertise e está acontecendo de forma genuína. As pessoas marcam um almoço, um café da manhã ou reservam uma sala. É bem livre e acho que por isso funciona bem”, conta a executiva.

O SONHO É IMPACTAR OS 14 MIL FUNCIONÁRIOS

Renata ingressou na Klabin em 2011 como Gerente de Estratégia e Mercado, área na qual já lidava com inovação. O cargo atual surgiu de um desmembramento da área, já que a parte de inovação cresceu e precisava de mais dedicação. Formada em Direito e Economia, ela chegou a fazer estágio no gabinete de um desembargador do TRF (Tribunal Regional Federal), mas não se identificou com o mundo jurídico “puro”. Como trainee em empresas privadas, começou na área financeira, passou para a de estratégia e o caminho se desenhou naturalmente. Antes da Klabin, trabalhou na Suzano, também do setor de papel e celulose — e também na área de estratégia e inovação.

Mãe de dois meninos com os quais, no momento, divide a leitura de Histórias de Ninar para Garotas Rebeldes, livro com biografias de grandes mulheres que lutaram por um sonho independentemente das dificuldades, ela acredita que é preciso ir em frente quando se quer algo. Hoje, seu sonho, como profissional, é que os projetos de inovação se tornem autônomos, ou seja, que dispensem a figura de alguém engajando as pessoas. “Se me perguntarem qual o tamanho da área de inovação, quero poder dizer que é 14 mil pessoas, ou seja, a empresa inteira!”

COMPARTILHE

Confira Também: