Lavar o carro pode ser uma diversão para algumas pessoas. Outras, porém, sofrem por antecipação só de pensar em enfrentar a fila de um lava-jato.
O empresário Ricardo Pereira, que até 2016 ganhava a vida trabalhando com eventos em Brasília, se encaixa nesse segundo grupo. Diz que odeia perder tempo esperando o serviço ficar pronto.
Foi pensando em como otimizar essa espera que ele e sua esposa, Patrícia, fundaram a Lavô, um aplicativo de lavagem de carros sob demanda.
O casal investiu cerca de 1,7 milhão de reais no projeto, que incorporou um terceiro sócio com a entrada de Facundo Larrosa, profissional da área de TI.
Após dois anos de desenvolvimento, o serviço começou a operar em 2018, inicialmente em três cidades: Brasília, Goiânia e Curitiba.
NA LAVAGEM EM DOMICÍLIO, NÃO HÁ CONTATO ENTRE O CLIENTE E O LAVADOR
Funciona assim: o cliente faz o pedido pela plataforma e escolhe onde e quando quer que o serviço seja realizado. Daí, o profissional responsável pela lavagem se dirige até o local munido de uma mochila com os produtos e equipamentos próprios para a limpeza.
Ricardo destaca algumas vantagens do serviço em tempos de pandemia:
“Enquanto todo mundo fala em ficar em casa, contamos com um serviço de limpeza em domicílio com risco de contaminação praticamente zero, já que não há contato entre cliente e lavador. Tudo é mediado pelo aplicativo, e nosso parceiros são orientados a usar máscaras e luvas”
Hoje, a startup registra 75 mil clientes em sua base, somadas as três capitais onde começou sua atuação. Há também 5 200 profissionais cadastrados, ou “parceiros”, como a empresa chama os freelancers que se encarregam do serviço.
PRODUTOS BIODEGRADÁVEIS E À BASE DE CERA DE CARNAÚBA COMPÕEM O KIT
A Lavô proclama outro grande diferencial. O sistema de lavagem da startup é ecológico. Ou seja, não utiliza água.
Se não vai água na limpeza, que produtos removem as manchas e a sujeira dos carros? O kit de limpeza é composto por produtos biodegradáveis e à base de cera de carnaúba.
Quando se cadastram no aplicativo, os lavadores recebem indicação dos centros de distribuição mais próximos da Lavô onde podem comprar, a granel, os produtos de diferentes marcas homologadas pela própria startup. Segundo o empreendedor:
“Decidimos trabalhar com marcas de confiança para manter o padrão e a qualidade do serviço. Senão, daqui a pouco começam a usar borra de café para fazer a limpeza e perdemos a credibilidade”
Baseado numa pesquisa realizada pela própria Lavô, Ricardo estima que, com mais de 200 mil lavagens já realizadas em Brasília, a startup tenha economizado cerca de 60 milhões de litros de água.
O levantamento leva em consideração dados divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o gasto hídrico — de 300 litros, em média — para se lavar um veículo.
O APP AVISA O PROFISSIONAL QUANDO É HORA DE COMPRAR PRODUTO DE LIMPEZA
Na mochila personalizada da Lavô cabem cerca de 12 produtos, além de panos, escovas e o aspirador de pó veicular. Cada kit de produtos dura, em média, 190 lavagens, segundo o CEO. O profissional adquire os itens pelo próprio app, que avisa quando é hora de repor o estoque:
“O aplicativo vai contabilizando as lavagens e indicando qual produto está acabando. A partir do momento que o parceiro faz a reposição e nos informa sobre a aquisição, a contagem de produto disponível no kit é zerada e reiniciada”
Para garantir o padrão de atendimento, a startup realiza treinamentos. “Levamos parceiros que estão ativos há mais tempo na plataforma para ensinar os novos e unificar o modo de usar os produto, como economizar, como atender o cliente, utilizar o app…”
O PROFISSIONAL FREELANCER FICA COM O VALOR INTEGRAL DE CADA LAVAGEM
A Lavô atua nos moldes da Gig Economy, mesmo modelo adotado por gigantes como Uber, iFood e Rappi. Porém, e diferentemente de empresas que cobram uma taxa dos freelancers por cada transação, a startup brasiliense acabou optando por outro sistema.
No começo, a Lavô ficava com 25% do valor da lavagem. Entretanto, os sócios avaliaram que havia aí uma desvantagem:
“A gente entende que se o parceiro trabalha a favor da empresa, ele produz muito mais, com resultados melhores e margem de erro menor. Então, passamos a cobrar uma taxa fixa que independe da quantidade de lavagens. Assim, o percentual [cobrado] por lavagem tende só a diminuir”
A taxa fixa, semanal, pode variar de acordo com o custo de vida de cada cidade. Para trabalhar com o aplicativo, o colaborador paga à Lavô entre 60 e 80 reais se for atuar de segunda a sexta-feira, ou de 100 a 150 reais para operar de segunda a domingo.
SEGUNDO O CEO, NA MÉDIA OS FREELANCERS GANHAM R$ 4 500 POR MÊS
O preço do serviço pode variar bastante (de 30 a 185 reais) conforme a cidade, o tamanho do carro e o tipo de lavagem.
São seis tipos (completa, interna, externa, “master”, “plus” e “over”), que se diferenciam entre si por “upgrades” como a higienização do ar-condicionado e a hidratação e aplicação de protetor de painel contra raios UV.
Segundo Ricardo, a empresa paga os colaboradores semanalmente; a média de ganho mensal é de 4 500 reais por profissional.
“Tem gente que passa dos 6 mil reais. Isso é relativo e depende dos tipos de lavagens executadas e da quantidade. O nosso ticket médio em Brasília é de 66 reais por lavagem — que demora de uma hora a uma hora e meia.”
O CEO afirma que o cliente pode agendar o serviço com até 36 horas de antecedência e “favoritar” um lavador por um trabalho bem-feito.
UM NOVO NEGÓCIO: VENDA DE PACOTES DE LAVAGEM PARA CONCESSIONÁRIAS
Em 2019, a Lavô começou a esboçar um novo modelo de negócio: a venda de pacotes de lavagem (com preço reduzido) para concessionárias, que por sua vez ofereceriam o serviço a seus clientes como um atrativo no ato da compra de um carro ou durante a revisão periódica.
“Fizemos o primeiro MVP no ano passado com 40 carros em uma concessionária e deu muito certo. Agora, temos uma parceria com 40 concessionárias de Brasília que vão passar a oferecer cupons de desconto para seus clientes usarem o serviço”
Segundo o empreendedor, essa frente de negócio será implementada nos próximos dois meses, inicialmente apenas na Capital Federal. Se tudo der certo, o modelo de vendas para concessionárias deverá em breve ser expandido para as demais cidades onde a Lavô atua.
A STARTUP ESTÁ EXPANDINDO PARA MAIS OITO CIDADES, MESMO COM A COVID-19
Quando a pandemia estourou, a Lavô estava iniciando uma expansão agressiva, para oito cidades em quatro estados: São Paulo, Campinas e Ribeirão Preto (SP); Belo Horizonte e Uberlândia (MG), Florianópolis e Balneário Camboriú (SC); e Porto Alegre.
A Covid-19 derrubou a demanda em até 70%. Mas não freou a expansão:
“Como as pessoas estão saindo menos e sujando menos o carro, é normal que o número [de pedidos] tenha caído. Então, pensamos em estratégias para esse momento, como não cobrar a taxa de novos parceiros nas duas primeiras semanas, para que possam experimentar esse sistema de trabalho”
Para atingir outras regiões, a Lavô abriu o leque de atuação: tanto pode administrar a operação local quanto trabalhar com um modelo de franquia. Neste caso, 80% do valor pago pelo franqueado é investido em mídia, e ele recebe um percentual por lavagem.
A startup hoje busca recrutar novos freelancers — há 10 mil vagas abertas. “Enquanto todo mundo fala em demitir, estamos oferecendo novas vagas para parceiros nas cidades em que começamos a operar.”
Com ou sem coronavírus, a aposta é que as pessoas vão continuar com preguiça de lavar o carro.
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