Os agrônomos e pesquisadores Leandro Silva, 41, e Cristiane Tibola, 33, trabalhavam com pesquisa em biotecnologia e sentiam falta de empresas especializadas na produção dos insetos que eles utilizavam no laboratório. “O que a gente fazia era comprar o excedente das empresas de controle biológico”, conta Cristiane. Os dois enxergaram nessa dificuldade um nicho de mercado e fundaram, em 2014, a Pragas.com, uma empresa com soluções inovadoras para viabilizar pesquisas, reduzir custos e acelerar o desenvolvimento de tecnologias para o controle de pragas agrícolas.
O negócio produz tanto organismos-alvo como insumos biológicos. O primeiro termo é usado para designar a praga que precisa ser combatida (insetos, fungos, bactérias etc). Já o segundo denomina organismos (os mesmos insetos, fungos e bactérias) que serão usados pelas empresas de controle biológico para produzir agentes de controle. Na prática, quando um instituto de pesquisa precisa, por exemplo, estudar o ciclo de vida de um percevejo para saber qual a melhor forma de combatê-lo e os meios de fazer isso, a empresa fornece ovos, ninfas e adultos para este fim.
Sediada em Piracicaba, interior de São Paulo, a Pragas.com possui mais de 30 clientes (empresas, instituições de pesquisa e universidades) para quem produz cerca de um milhão de insetos por semana. E deve, ainda, ampliar a produção para 100 milhões com uma biofábrica que começa a operar no segundo semestre.
COMO FUNCIONA UMA FÁBRICA DE INSETOS
Mas, afinal, como se produz um inseto? Cristiane diz que é preciso, dentro do laboratório, imitar tudo o que eles encontram na natureza, como dietas artificiais para suprir a necessidade de alimentação, substratos para dar condições à fêmea de botar seus ovos etc. Ela fala a respeito: “Usamos técnicas que viabilizam ter insetos em quantidade e qualidade o ano todo, situação que não acontece naturalmente, já que a maioria desses organismos é de ocorrência sazonal, regulados pelo clima, estações do ano, plantas hospedeiras, entre outros”.
Entre os clientes da Pragas.com estão empresas que trabalham com o controle biológico de pragas agrícolas, aquele que é feito usando os próprios inimigos naturais. Segundo Cristiane, no Brasil ainda é comum que a empresa de controle fabrique os seus insumos (lagartas, ovos e insetos), enquanto nos países que mais utilizam esse recurso biológico, a produção é terceirizada, o que permite que a empresa foque na produção e viabilização comercial do agente de controle.
Os sócios apostam alto nesse mercado que, segundo eles, deve registrar crescimento de 15% a 20% nas vendas nos próximos anos. Cristiane fala:
“O mercado de controle biológico cresce cinco vezes mais rápido que o de produtos químicos”
E aponta as razões para esse ritmo: “Isso se deve ao elevado custo para o desenvolvimento de novos defensivos químicos (agrotóxicos), em torno de 250 milhões de dólares, o tempo para a obtenção de novas moléculas, cerca de 11 anos, e a maior demanda da sociedade por alimentos sem resíduos químicos”.
UMA CAIXINHA PARA PROTEGER PRAGAS
Pensando nas infestações artificiais para pesquisas e experimentos no campo, a Pragas.com desenvolveu recentemente a Eggsbox, um pequeno dispositivo de 2,5 cm x 2 cm, feito em material biodegradável, que protege das intempéries (chuva, vento e inimigos naturais) os ovos dos insetos usados.
Autoadesivos, eles são colocados sobre as folhas e, quando atingem o tamanho certo, as próprias larvas comem a parte que cobre o dispositivo e saem para o mundo. “Naturalmente, cada uma das espécies de insetos-praga geralmente só ataca as plantações durante poucos meses por ano, quando as condições climáticas lhes são favoráveis”, conta a fundadora. “Para não interromper as pesquisas no restante do ano, é preciso produzir esses insetos em laboratório e liberá-los controladamente nas áreas de teste”.
As caixinhas, que podem abrigar de 10 a 100 ovos, são consideradas revolucionárias pelos pesquisadores porque protegem os organismos-alvo na sua fase mais vulnerável e, assim, diminuem as chances de perda dos experimentos. “As atuais metodologias disponíveis são trabalhosas, caras e com baixa eficiência, pois expostas a chuva, sol, vento e inimigos naturais, cerca de 80% dos insetos não sobrevivem. Por isso, na média, apenas uma de cada cinco tentativas de infestação artificial resulta em áreas de testes viáveis”, diz Cristiane. Ela afirma que a Eggsbox diminui em 70% a mortalidade dos insetos, o que deve reduzir entre 30% e 50% os custos das pesquisas.
O produto foi validado nas culturas de soja, milho, cana de açúcar e algodão e pode ser usado em testes com produtos químicos, controle biológico ou variedades geneticamente modificadas.
“Acreditamos que a pesquisa e a geração de conhecimento são o caminho para a busca de boas soluções no controle de pragas agrícolas”, diz. Além disso, os sócios consideram a integração de diferentes métodos de controle a melhor alternativa para elevar produtividade e, ao mesmo tempo, garantir a sustentabilidade da agricultura no país.
A Eggsbox será lançada oficialmente no Congresso Brasileiro de Entomologia, em setembro deste ano, e já deve ser aplicada na safra 2018/2019. O preço final ainda está em fase de definição.
PRIMEIRO, ELES APRENDERAM EM GRANDES EMPRESAS, DEPOIS EMPREENDERAM
Sair da área de pesquisa para empreender foi uma decisão “muito bem articulada”, contam os sócios, que começaram a planejar a empresa quatro anos antes de dar início ao negócio. Vinda da área acadêmica, Cristiane se especializou em pesquisa e inovação.
Ela também decidiu trabalhar por um tempo em uma grande empresa para aprender mais sobre o ambiente corporativo. Ficou por três anos na Futuragene (especializada na pesquisa e desenvolvimento de biotecnologia direcionada ao controle de pragas florestais), coordenando os setores de entomologia e citopatologia. Ali, aprendeu o que usaria como empreendedora mais tarde:
“Pude trabalhar com grandes metas, gestão de equipe, contratação e demissões. Como não tinha experiência, foi muito importante na minha preparação para ter meu próprio negócio”
Já Leandro tem uma experiência de 20 anos em grandes corporações, como Ambev e Monsanto. Ainda assim, foi em busca de mais preparação na área de gestão empresarial. Até 2017, conciliou o novo negócio com a vida de funcionário mas, desde o começo deste ano, se dedica em tempo integral a Pragas.Com. “No início, é difícil para a empresa se manter. Então, fizemos a transição gradualmente. Eu saí primeiro para implantar a produção, os processos e contratar pessoas. Quando estávamos mais estruturados, o Leandro também se desligou”, diz Cristiane.
Os dois são de Santa Catarina e escolheram Piracicaba como sede por causa de uma incubação na EsalqTec (incubadora da Esalq).
Lá puderam conviver de perto com o ambiente empreendedor e inovador na área agrícola, além de fazer parte do “Vale do Piracicaba”, um ecossistema de empresas de base tecnológica responsáveis por soluções para diversos segmentos do agronegócio.
Juntos, investiram 200 mil para começar a empresa. Já atingiram o break-even e esperam faturar entre 500 mil e 1 milhão de reais este ano. Eles contam que tiveram que aprender a ser pacientes para o negócio maturar, mas comemoram o fato do planejamento estar fluindo sem grandes percalços.
“A Pragas.com está seguindo os planos que a gente traçou. No meio do caminho, percebemos que precisávamos de investimento para ter um crescimento mais rápido porque se fôssemos sozinhos, demoraria demais. Por isso, buscamos a ajuda da Fapesp, que aportou 600 mil reais no negócio”, conta Cristiane. Agora, é ter a mesma paciência do começo para conferir o efeito do mais recente produto, o Eggsbox, aplicado nas lavouras. E esperar, com calma, a próxima safra!
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