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A volta do Moptop: “Parece que a gente está rejuvenescendo alguns anos. É aquela energia de antes, mas com algo a mais”

Leonardo Neiva - 10 jul 2025
A partir da esq.: Mário Mamede, Rodrigo Curi, Gabriel Marques e Daniel Campos.
Leonardo Neiva - 10 jul 2025
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“Se, dois anos atrás, nos dissessem que hoje a gente estaria nesse ponto, eu ia responder: você está maluco…”, diz Gabriel Marques, 46, vocalista do Moptop

Surgida no início dos anos 2000, a banda carioca de indie rock ganhou fãs e ficou conhecida como os “Strokes brasileiros”. Em 2006, eles chegaram a abrir um show do Oasis no então Credicard Hall (hoje Vibra São Paulo), na capital paulista. Mas em 2010 o grupo se desfez, e o fim parecia definitivo.

Até que, em abril de 2025, veio a bomba. Após uma série de posts enigmáticos nas redes, o grupo – formado por Gabriel, o guitarrista Rodrigo Curi, o baixista Daniel Campos e o baterista Mário Mamede – lançou “Last Time”, seu primeiro single em 17 anos. O álbum completo, Long Day, saiu pouco depois, em junho. 

E a banda, dona de hits como “Aonde Quer Chegar?” e o sugestivo “O Rock Acabou”, começou o mês de julho com uma rodada de shows pelas capitais brasileiras: Belo Horizonte (dia 5), Recife (6), Rio de Janeiro (10), São Paulo (12 e 13) e Curitiba (18).

COM CADA METADE DA BANDA VIVENDO EM UM PAÍS, ELES FORAM GRAVANDO EM CASA ATÉ TER UM NOVO ÁLBUM COMPLETO

Por videoconferência, o Draft bateu um papo com Gabriel e Rodrigo. Hoje, ambos vivem nos Estados Unidos, mas estavam no Brasil ensaiando para os shows.

O retorno do Moptop pegou todo mundo de surpresa, eles inclusive. Após o fim da banda, cada um seguiu seu caminho. Gabriel virou gestor de tecnologia da Amazon Music. Rodrigo atua como designer. Daniel trabalha com animação e Mário, no comércio. Ambos vivem no estado do Rio: o primeiro em Nova Friburgo e o segundo em Maricá.

Gabriel explica que a volta da banda aconteceu meio por acaso: 

“Eu realmente tinha parado de tocar, mas me dei um violão de presente de aniversário uns dois anos atrás. Voltando do trabalho, queria tocar um rock, precisava de um escape, estava sentindo falta de algo assim”

Foi pegar no violão, e as músicas começaram a surgir naturalmente, algo que não acontecia desde antes do fim da banda. “Uma das razões porque decidi parar era que não estava curtindo as músicas que eu estava fazendo. Não me emocionava mais, eu sentia que estava reciclando ideias.”

Ele decidiu mostrar algumas das novas composições para Rodrigo, que se entusiasmou com o que ouviu e sugeriu gravar algumas demos. De forma independente – e com cada metade da banda vivendo em um país –, eles foram fazendo as gravações em casa mesmo e juntando o som até ter um álbum completo. Rodrigo afirma:

“Coincidentemente, a gente recebeu uma proposta para um show em São Paulo quando o disco estava quase pronto. Aí falamos: se a gente for lançar, vamos tentar fazer uma turnê e ver o que acontece” 

Ao contrário dos dois discos anteriores da banda – Moptop, de 2006, e Como se Comportar (2008) –, o novo álbum traz apenas canções em inglês. Ainda assim, segundo Gabriel, a escolha remete aos primórdios do Moptop:

“No início, eu compunha não em inglês, era um embromation… Mas tinha uma fonética mais para o inglês, porque as nossas referências eram muito do rock americano e inglês.” Ele se refere a grupos como os Strokes, o Interpol e o Franz Ferdinand. O próprio nome faz referência ao penteado “moptop”, popularizado pelos Beatles nos anos 1960.

A capa de “Long Day”, novo álbum do Moptop.

A banda refeita teve que trabalhar com restrições de orçamento e de tempo – basicamente, as horas vagas à noite e nos fins de semana. Uma das inspirações para esse período, conta o vocalista, foi o que aprendeu com o lendário produtor musical Rick Rubin, em seu livro O Ato Criativo (Sextante, 2023). 

“Acho que o principal [aprendizado do livro] é priorizar o [lado] artístico e não achar que só consegue fazer seu melhor em certas condições ou com equipamentos específicos”, diz Gabriel. 

ENTRE OUTROS MOTIVOS, A CRISE NA INDÚSTRIA MUSICAL E O CANSAÇO DA VIDA NA ESTRADA LEVARAM AO FIM DO MOPTOP

Mas afinal, por que o Moptop se separou lá atrás e passou tanto tempo longe dos palcos? “Nunca discutimos o fim ou tivemos algum desentendimento”, diz Gabriel. “Simplesmente paramos e começamos a fazer outras coisas.”

O fim chegou por alguns motivos. Por um lado, um certo “burnout criativo”. Havia também uma preocupação financeira. Não que eles tenham passado dificuldade de grana, mas já começavam a vislumbrar um futuro de desafios:

“Nosso contrato com a Universal era de dois discos, a gente sentia que ia ser difícil fazer o terceiro pela gravadora”, diz Gabriel. “E, por bem ou por mal, a gravadora naquela época ainda era muito importante.”

Além de enxergar a carreira musical como “extremamente difícil” no Brasil, Gabriel vê aquele período, por volta de 2010, como um dos mais complicados para a indústria da música em geral:

“Se você olhar os gráficos de receita da indústria da música, a época do Moptop foi a pior, porque não tinha streaming, os CDs estavam em queda por causa do Napster, MP3, e as lojas online tipo iTunes ainda eram muito pequenas”

Os integrantes também já tinham outros interesses a perseguir. Mesmo na época, Gabriel e Rodrigo formavam uma parceria profissional em outra área: o desenvolvimento de sites. Era uma coisa meio informal, não chegou a ser uma empresa, mais um freela, com foco em sites de bandas.

Em 2005, a página do Moptop chegou a ser premiada na categoria “melhor website” no MTV Video Music Brasil; na época, recebeu também indicações ao SXSW e ao Prêmio Multishow de Música Brasileira. (O site, que estava fora do ar desde o fim da banda, agora está de volta em um novo endereço.) Como complemento de renda, a dupla criava sites para artistas como Pitty e Djavan.

Parafraseando uma das canções mais conhecidas do Moptop, naquele tempo o rock ainda não tinha acabado – mas, para a banda, parecia estar entrando em queda livre. Outro perrengue era o dia a dia na estrada, entre um show e outro, que cobrava o seu preço. Segundo Gabriel:

“A vida de banda de rock no Brasil, um país da nossa dimensão, não é fácil. Então tinha essa questão do cansaço, a qualidade de vida começou a pegar um pouco. O Curi tinha acabado de ter filho, eu já estava com a minha esposa… como íamos ficar mais dez anos na estrada?”

Pouco depois da dissolução do grupo, ele foi fazer um mestrado em tecnologia. E foi assim que Gabriel acabou indo morar na Califórnia e aterrissando na na Amazon.

O RETORNO DA BANDA COMEÇOU MEIO DE BRINCADEIRA, MAS VIROU COISA SÉRIA

Como um legítimo rockstar, Rodrigo chegou atrasado para a entrevista. E logo de cara, revelando algo de que “o Gabriel não vai gostar”: ele, Rodrigo, só topou se reunir com a banda como um pretexto para voltar a tocar guitarra: 

“Sempre gostei muito de equipamento. Então, estava vendo um monte de tecnologia nova de produção de instrumentos, instrumentos muito mais acessíveis. Só que eu não tinha motivos para comprar um negócio desse…”

Claro, o guitarrista acabou mergulhando de cabeça no projeto, como os demais. E longe de se incomodar com a confissão, Gabriel é o primeiro a admitir que a ideia do reencontro começou meio de brincadeira, sem muita pretensão. 

“Como a gente não estava pensando na questão comercial, e sim curtindo muito brincar de fazer música de novo, decidimos tentar de uma forma que honrasse a essência da música”

Diferentemente do que rolou lá atrás, hoje cada um já tem uma carreira encaminhada e ninguém cogita ganhar a vida fazendo shows. O que não significa que eles não estejam levando esse reencontro muito a sério, da realização do novo álbum à organização das apresentações.

Sem uma gravadora por trás, a produção de Long Day foi bastante diferente daquilo que conheciam. Gabriel diz que a falta de um produtor e dos ensaios para nortear as gravações gerou um certo estranhamento. Por outro lado, permitiu que o grupo fizesse escolhas mais pessoais, sem precisar ceder ao cronograma e a uma visão mais comercial. 

“Tinha várias coisas que a gente não gostava dos dois primeiros discos, mas que aceitou por conta de tempo… Dessa vez, tivemos isso a nosso favor: a gente não tinha pressa”

As tecnologias que surgiram nesse meio tempo vieram para facilitar esse processo. E o vocalista vê um lado positivo em uma gravação mais caseira: são tantos os álbuns super produzidos hoje em dia que uma sonoridade mais crua pode trazer um apelo diferente. De qualquer forma, ele reforça que as canções foram finalizadas com o apoio de profissionais experientes do ramo.

Nos bastidores, o Moptop segue com o mesmo empresário, o mesmo técnico de som e até o mesmo roadie. “É a formação original não só da banda, mas do círculo em volta”, diz Gabriel.

MESMO OTIMISTAS COM A SOBREVIDA DO ROCK, ELES PREFEREM NÃO PENSAR NO FUTURO

A banda ainda está aprendendo como navegar na indústria atual. Se antes o tempo era gasto em criar música, ensaiar e correr atrás de uma gravadora, hoje um desafio (ou amolação) é a necessidade de ter que alimentar as redes sociais com o dia a dia da banda. Rodrigo afirma: 

“Você precisa estar toda hora registrando e divulgando, acho que o público espera isso de um artista. Então, você precisa estar no Instagram, no TikTok. A gente ainda não faz tudo isso, a gente faz o que se sente bem fazendo…”

Mesmo com o risco de chatear alguns dos fãs mais antigos, ao lançar um álbum inteiro em inglês, Gabriel afirma que foi uma oportunidade de testar o potencial do Moptop lá fora, e diz ter ficado surpreso com a receptividade. 

Sobre a velha dúvida se “o rock acabou”, o vocalista diz que não é o que ele tem sentido no contato retomado recentemente com esse universo. “O que você perde em público, ganha em paixão, emoção e fidelidade.”

No momento, os dois preferem não responder sobre o futuro para além das apresentações em julho, mas dão algumas pistas. “Para mim, a música mais interessante do disco não foi gravada”, diz Rodrigo. Ele falou também sobre a expectativa para a turnê-relâmpago: 

“A gente está muito ansioso para saber o que vai acontecer nos shows. Pode ser uma experiência única para todo mundo. Então, para quem tiver oportunidade, eu aconselho a aparecer”

Segundo o guitarrista, o barato desse reencontro é ver como cada um deles se encontra em um momento diferente da vida. Na véspera da entrevista, por exemplo, o baterista Mário tinha aparecido no ensaio junto com os filhos. 

“Parece que a gente está rejuvenescendo alguns anos… É aquela energia de antes, mas com algo a mais”, diz Rodrigo. “Então, a gente está muito curioso para ver como é que vai ser isso no palco e poder mostrar um pouco da nossa história para os novos membros da família.” 

 

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