Alice, papai vai exportar a gente para a Finlândia

Gustavo Forster - 2 dez 2016Guz e Alice: ele conta como, desde a notícia de que seria pai de uma menina, empreendeu uma jornada em busca do melhor futuro para ela. E foi parar na Finlândia.
Guz e Alice: ele conta como, desde a notícia de que seria pai de uma menina, empreendeu uma jornada em busca do melhor futuro para ela. E foi parar na Finlândia.
Gustavo Forster - 2 dez 2016
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por Gustavo Forster

Quando eu e sua mãe soubemos que ela estava grávida de você, a sensação foi de muita alegria. Bom, ao menos pra mim, porque sua mãe despirocou o cabeção (“Ah meu deeeeeus, o que que eu vou fazeeer, eu to grááávida, como assim etc”). Mas, depois do baque, não tinha mãe mais apaixonada pela própria barriga que ela.

Nossa ingenuidade era tanta que fomos a um pronto socorro na mesma madrugada para fazer um ultrassom que confirmasse o que o teste de gravidez já nos afirmava. O médico de plantão, coitado: um puta dum sono, ranzinza, inconformado da gente estar lá na emergência para fazer um simples ultrassom, soltou:

“Tá aí. Tá vivo, era isso que vocês queriam saber?”

E em seguida mostrou na tela uma imagem que até hoje fica na minha cabeça como um feijãozinho. Um feijãozinho com um ponto luminoso pulsante.

Sim, era você ali.

A partir daquele dia, meus pés nunca mais tocaram o chão.

Até mais ou menos a 15ª semana não sabíamos que você seria a Alice. Quando o médico informou seu sexo, fui tomado de alegria — e de uma preocupação iminente: você iria nascer no Brasil.

Filha, esse país é lindo. Mas minha experiência de 35 anos vivendo aqui foi com um o povo em sua maioria machista, misógeno e preconceituoso com as minorias.

Sabe, está muito errado eu me preocupar por você nascer menina. No Brasil, você teria que crescer com pessoas dizendo que você fica melhor de rosa. Que você precisa casar. Teria que observar calada meninos levando a melhor fatia do bolo, e ai se falasse alguma coisa. Teria que entrar numa sala de aula onde teria um professor lá na frente ditando o que você tem que aprender, numa sala fechada apinhada de crianças — e, se eu quisesse diferente, teria que pagar, e muito, ao longo dos anos. Porque aqui, a lei funciona na base do “quer rir tem que fazer rir, parceiro”. E isso seria só pela escola — não teria muito o que fazer em relação ao machismo e sexismo, a não ser te preparar para o que estava por vir.

Isso ficou na minha cabeça. Foi quando me deparei com alguma notícia sobre a Finlândia ter a maior equidade de gêneros do mundo, ou algo muito próximo disso. E para melhorar, assisti a um documentário chamado “Where to invade next”, do Michael Moore, que entre os vários países que visita, ressalta o sistema de educação finlandês como o melhor do mundo. Aí, fiz minha cabeça: precisava dar um jeito de levar você pra lá.

Pode parecer “mambo jambo” de auto-ajuda: mas em minha vida, meus pensamentos e atitudes fizeram com que meus objetivos se concretizassem ou falhassem completamente. E foi assim com o “caso Finlândia” —  só que neste em particular eu conscientemente caminhei o percurso todo com uma atitude positiva.

Comecei a pesquisar sobre moradia, sobre emprego, sobre educação, tudo! E enviei muitos, muitos currículos. Para a minha surpresa, vieram muitas respostas e convites para entrevistas de trabalho no período de um mês. Uma das empresas me interessou bastante e, ainda bem, me contrataram, após um processo de umas cinco entrevistas ao longo de um mês.

Portanto leve para a sua vida essa fórmula: pensamento positivo = sentimentos positivos = ações positivas = resultados positivos

Vá caçar seus desejos e aspirações com uma atitude positiva, sempre.

Agora, um novo capítulo em nossas vidas começa. Para você, acho que não vai lembrar muito do que aconteceu daqui uns anos. Para mim e para a sua mãe, está sendo um turbilhão de emoções deixar a família, emprego estável, a “segurança” que sempre achamos que temos em tudo — para vivermos a uns 11 000 quilômetros de distância.

Vamos aprender juntos uma nova cultura, uma nova língua, teremos um monte de desafios! Tô com medo? Opa.

Mas coragem é definida pela nossa capacidade de agir e seguir em frente apesar do medo e insegurança do que se poderia ser. Nada é melhor nessa vida do que crescer com os desafios que a vida oferece — e oferecermos de volta ao mundo o que ele nos dá.

 

Gustavo Forster, o Guz, 35, é maker, UX designer, co-fundador da Experimentoria e da produtora de filmes animados Nelumbu. Exportou-se para a Finlândia.

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