A arquiteta carioca Giovanna Molinaro, 29, quer colocar gatos na moda — e transformou isso em uma marca que combina negócios com filantropia.
Fundadora do Gato Café, cafeteria com felinos disponíveis para adoção, Giovanna se orgulha de ter contribuído para que, em quatro anos de existência, quase 600 gatos encontrassem um lar.
Com duas unidades no Rio de Janeiro, ela faturou 2,5 milhões de reais em 2023. Em setembro, deve inaugurar a terceira, já em um modelo de franquias. A ideia é fechar o ano com ao menos quatro lojas na capital fluminense.
“Quem fala mal de gato é porque nunca viu como eles são maravilhosos. O amor do gato é muito sincero, o que você dá para ele, ele dá de volta. Eu queria criar um espaço onde as pessoas pudessem ver, conhecer e entender os gatos”
Com um tíquete médio de 70 reais e cerca de 1 500 clientes mensais, a marca tem hoje quase 250 mil seguidores no Instagram e 700 mil no TikTok, e aposta não só em itens alimentícios como em produtos para “gateiros”.
Na cafeteria, tudo — inclusive os quitutes — é personalizado com os mascotes da marca (os gatos da própria Giovanna) ou tiradas sobre os bichanos.
Há broches com frases como “gato é melhor que gente” (8 reais), canecas (R$ 49,90), almofadas (de 18 a 45 reais) e até colares com pingentes Gato Café (169 reais).
“Minha ideia não é ter clientes, é ter fãs da marca”, diz Giovanna. “Não queremos ser uma cafeteria temática de gatos, queremos que a temática seja Gato Café.”
Embora admita ter receio de expandir e “perder o controle do conceito”, ela afirma ter resolvido enfrentar o medo usando o sistema de franquias — principalmente ao ver o surgimento de negócios similares.
“Não tenho como saber que experiência estão entregando, então o tiro sai pela culatra. É melhor expandir de uma forma que eu consiga definir como os gatos são tratados, como a interação é feita, o processo de adoção”
No modelo, o investimento inicial para abrir uma loja com seis funcionários é de 405 mil reais para um faturamento anual estimado em 1,5 milhão de reais. Há também uma versão “pocket”, que exige somente três funcionários, investimento inicial de 210 mil reais e faturamento estimado em 700 mil reais.
Por enquanto, porém, a empreendedora quer focar no Rio de Janeiro, expandindo “de dentro para fora e de forma controlada”.
Filha de uma veterinária, Giovanna sempre teve contato com bichos. Na infância, chegou a ter um gato, mas como morava em uma casa, certo dia o felino saiu e não voltou mais.
Ela só virou gateira de carteirinha quando adotou Calvin, um filhote doado pelos tios, há 10 anos. Depois chegou King. E, já com o Gato Café, adotou Malala e Mia.
Giovanna nunca havia pensado em transformar a paixão por gatos em negócio. Entrou na faculdade de arquitetura com o objetivo de trabalhar com entretenimento: era fissurada em programas como Extreme Makeover, em que arquitetos e construtores reformam casas de pessoas comuns.
Com isso em mente, conseguiu um estágio na Globo, onde ajudava a projetar os cenários das produções.
“Adorava construir algo que as pessoas iam ver e se divertir. Sempre tive a pegada de trabalhar com coisas que fariam os outros felizes. Acho que o Gato Café também tem um pouco a ver com isso”
Em 2018, durante uma viagem para o Japão, conheceu um café com temática de gatos que plantou a semente do negócio. Ao retornar, ela concluiu o estágio e a faculdade, e tentou o caminho natural de encontrar um primeiro emprego. Mas estava desiludida com o mundo corporativo e concluiu que a saída era empreender.
O primeiro passo foi voltar aos estudos: Giovanna cursou o Empretec, do Sebrae, aprendeu sobre finanças e passou três meses estruturando o plano de negócios. Também se lembrou do que aprendeu na universidade para desenvolver o projeto do café.
“Eu criava vários projetos hipotéticos em 3D para entender o espaço que precisaria para ter gatos e mesas. Queria algo instagramável para que as pessoas divulgassem, postassem fotos com as nossas frases exaltando os gatos e espalhando a palavra felina”
Sentindo-se pronta, juntou todo o dinheiro guardado durante a faculdade, uma herança que recebeu da avó e a participação da mãe, Branca Molinaro, 57, que entrou principalmente com conhecimento técnico. No total, tinha 200 mil reais para abrir a primeira unidade do Gato Café.
A saga para encontrar um imóvel para alugar e instalar o Gato Café começou em outubro de 2019. “Foi difícil porque ninguém acreditava muito no negócio. Às vezes o corretor não queria nem mostrar o espaço para a gente.”
Giovanna também precisou lidar com a burocracia e as normas sanitárias. Foi preciso adaptar o ambiente para não colocar os animais no mesmo espaço onde as pessoas consomem alimentos.
Além disso, precisava garantir o conforto dos gatos, definindo desde toda a estrutura — número de caminhas, caixas de areia, potes de ração e água — até o treinamento dos funcionários para lidar com a personalidade de cada animal.
“Eu tinha medo de colocar gatinhos não tão sociáveis e eles sofrerem. Mas aos poucos a gente entendeu que ali é um espaço legal para eles socializarem. Só precisamos respeitar o tempo deles”
Os pet cafés do Japão geralmente colocam animais de raça para interagir com os clientes. Para o Gato Café, Giovanna queria que eles não fossem apenas atrações. Desde a concepção, a ideia era colocar gatos resgatados para a adoção.
“Percebi que seria difícil tocar a cafeteria e cuidar dos resgates”, afirma. “Então decidi que a melhor forma seria me associar a ONGs que já existem e precisam de ajuda e visibilidade.”
Cada unidade da cafeteria tem uma instituição parceira que cuida de tudo relacionado à adoção: entrega os gatos medicados, vacinados, disponibiliza os formulários e faz todo o trâmite com os futuros tutores. O objetivo é checar as informações para garantir que os pets não voltem para a rua.
Após seis meses de busca, em março de 2020 assinou um contrato de aluguel de uma casa em Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro, e deu início à reforma. Após uma semana de obras para reformar o espaço, surgiu a segunda crise: a pandemia.
“Foi um caos. Na hora pensei: “ferrou!”. Eu já tinha estruturado todo o negócio, na minha cabeça já estava acontecendo… Não quis desistir”
Ela renegociou os 5 mil reais mensais do aluguel e decidiu segurar a inauguração para fazer as obras com calma. E assim, em julho de 2020, o Gato Café abriu as portas.
Em tons pastel e muito rosa, todo o espaço é temático, inclusive o cardápio. Entre os itens mais vendidos estão o Waffle Gato (R$ 31,50) e o Catpuccino (R$ 13,80).
Os gatos ficam em uma área com parquinho, tocas, arranhadores e caminhas, separada do café por uma porta e um vidro através do qual é possível observá-los. O Gato Café abriga entre dez a 15 animais por vez. Cada vez que um é adotado, outro entra no lugar.
Para acessar o espaço dos gatos, é necessário pagar uma taxa de permanência de 10 reais (para 15 minutos) até 28 reais (60 minutos) ou uma diária de 60 reais. O controle do tempo é feito com uma pulseirinha recebida na entrada do espaço, e no máximo dez pessoas podem entrar ao mesmo tempo.
Essa foi a forma que Giovanna encontrou para financiar os cuidados com os felinos — alimentação, água, areia, limpeza — sem comprometer a operação da cafeteria.
“Com essa cobrança a gente consegue, literalmente, patrocinar a vida dos gatos. Além do mais, percebemos que se deixássemos à vontade, as pessoas entrariam mesmo não estando tão a fim, e iam acabar ficando lá mexendo no celular”
Com esse modelo de negócios, o Gato Café deu lucro desde o primeiro mês. O payback ocorreu no oitavo. Giovanna credita muito do sucesso inicial do empreendimento à situação do mundo na época da inauguração.
“No começo da pandemia as pessoas estavam buscando lugares diferentes, que acolhessem, tivessem amor”, diz Giovanna. “E os gatinhos oferecem exatamente isso.”
Desde o início, o lucro e a energia da fundadora vêm sendo reinvestidos no negócio. Assim, ela conseguiu abrir a segunda unidade um ano depois, na Barra da Tijuca.
No mesmo ano, participou do Shark Tank, no qual recebeu uma proposta de investimento de 400 mil reais da empresária Camila Farani em troca de 25% da empresa. No programa, o negócio foi avaliado em 1,6 milhão de reais e recebeu ainda mais visibilidade.
A fama trouxe novos desafios. Concorrentes com propostas semelhantes começaram a surgir e Giovanna sentiu a necessidade de se diferenciar. Decidiu consolidar a própria marca, com produtos personalizados, experiências padronizadas e merchandising.
Para isso, em 2023, abriu uma pequena cozinha para produzir os itens do cardápio e distribuí-los às lojas, e começou a estruturar o modelo de franquias com a ajuda de uma consultoria.
Giovanna conta que se sentia “muito presa na operação” (daí a decisão de investir no modelo de franquia):
“Me incomodava não conseguir tirar as ideias do papel por não ter equipe nem tempo, enquanto mais pessoas pediam Gato Café em outros lugares. Sabia que fazendo sozinha, ou demoraria muito tempo, ou não conseguiria ter mais unidades”
Mesmo somando conquistas, Giovanna não acha que é o momento de respirar aliviada. Ainda há espaço para crescer:
“Sou uma pessoa que está sempre tentando fazer mais. Quando a primeira loja deu muito certo, já pensei em abrir outra. Quando a segunda deu certo, pensei em crescer como marca.”
Se as metas de negócio ainda não foram plenamente realizadas, Giovanna se diz satisfeita em estar cumprindo o propósito de oferecer novos lares aos felinos.
“Me sinto orgulhosa pelos gatinhos, feliz de ter adotado tantos. Na média, cada gato que sai da rua e ganha família vive 10 anos a mais. Então já salvamos 6 mil anos de gatos!”
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