Notícias de investimento em startups rendem manchetes em sites diariamente. No entanto, quem está correndo atrás de investimento sabe que não é tão fácil conseguir quanto parece.
“Tem muito trabalho”, alerta Cammila Yochabell, CEO e fundadora da Jobecam, ao Draft. “É preciso estabelecer muitos relacionamentos e bater perna para conquistar um investidor.”
No final de outubro, a HRTech recebeu o aporte de 2 milhões de reais do BID LAB, Laboratório de Inovação do Banco Interamericano de Desenvolvimento. “Conquistar esse investimento não foi fácil. A sensação era de estar em um campeonato”, lembra.
“Passamos por vários treinamentos desde o lançamento da convocatória. Foi um ano de muito aprendizado e negociações. Podemos dizer que, após esse processo, recebemos essa quantia de financiamento e o selo de validação importante de que a Jobecam utiliza uma IA sem vieses”
Além da Jobecam, outras 66 soluções participaram da convocatória “Gênero e inteligência artificial” do BID Lab. O processo ocorreu em acordo com a Aliança Regional para Uso Ético e Responsável da Tecnologia, a fAIr LAC, que conta com a colaboração de empresas como Accenture, Amazon Web Services, Globant, Microsoft, NTT DATA FOUNDATION, Oracle, Red Hat e SONDA.
Participaram ainda das negociações os economistas Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, e Daniel Gleizer, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central.
A Jobecam é conhecida na área de recursos humanos como o “The Voice” das etapas de recrutamento e seleção. Já contamos aqui no Draft a história de Cammila e como a empreendedora, natural de Mossoró, no Rio Grande do Norte, começou a Jobecam.
Com o objetivo de reduzir a discriminação no processo seletivo, a empresa criou uma plataforma que exclui informações como nome, foto e idade do currículo, visando eliminar vieses inconscientes relacionados a gênero, raça, idade e deficiência.
A entrevista também é conduzida às cegas — o recrutador não vê a imagem do candidato nem consegue reconhecer a sua voz modificada por um sintetizador. É nessa etapa de entrevistas que a startup realizou a principal inovação de 2023, com a implantação de 12 avatares animados em 3D, que refletem as expressões dos candidatos durante a entrevista.
AVATARES ANIMADOS APRESENTAM IMAGENS DE PESSOAS DIVERSAS
A impressão é de que você está conversando com uma personagem de desenho animado da Pixar, pois a imagem é responsiva e copia os gestos e expressões que o candidato está fazendo em tempo real durante a entrevista.
“Não é um conceito de Inteligência Artificial que cria um avatar parecido com você. Desenhamos alguns avatares que representam a diversidade de pessoas em nossos bancos. Mas você não escolhe qual irá te representar na entrevista; a seleção é aleatória feita pelo nosso sistema”
Cammila diz que é natural para as pessoas optarem por imagens pelas quais se sintam representadas. Implantados em outubro, os avatares animados têm características de grupos sub-representados nas empresas de modo geral, como pessoas pretas, com deficiência e até mesmo agêneros.
“Por meio da animação, os candidatos interagem com o recrutador, que consegue ver se eles estão falando, olhando para cima, mexendo a sobrancelha ou fazendo uma careta”, diz Cammila. “O conceito gráfico dos avatares foi pensado cuidadosamente em cada detalhe para trazer mais dinamismo às entrevistas.”
A pandemia de Covid-19 impulsionou o crescimento da empresa. Segundo Cammila, a Jobecam cresceu 200% nos últimos três anos — tanto em faturamento, quanto em número de clientes e de pessoas cadastradas na base de talentos da startup. O time, por sua vez, dobrou entre 2020 e 2023, de 10 para os atuais 20 funcionários.
Sem poder recorrer às entrevistas presenciais, candidatos e recrutadores foram forçados a incorporar a entrevista em vídeo. Neste período, companhias como Bradesco, Enel e Hospital Sírio Libanês tornaram-se clientes da Jobecam.
“Quando empresas de grande porte chegaram, a gente sentiu que precisava segurar a peteca. Nosso maior desafio era oferecer a eles uma experiência de excelência para que saíssem do processo falando bem da gente”
O boca a boca, até o aporte recebido em outubro, era a principal ação de marketing da empresa. Os recursos serão direcionados a investimentos em estratégias de marketing da startup, além de tecnologia e desenvolvimento de produtos.
Outro ponto que Cammila acredita que precisa melhorar na comunicação é fazer com que empresas que ainda não têm a diversidade como um pilar da cultura do negócio procurem a Jobecam para começar esse processo.
“Muitas pessoas pensam que nosso processo de seleção só serve para quem já está com o processo de diversidade alinhado. Mas para começar a ter um time mais diverso não precisa estar tudo perfeito. Podemos ajudar nesse começo também, especialmente na atração dos talentos.”
De acordo com a empresária, os usuários da plataforma aumentaram em cerca de 70% a diversidade nas contratações e otimizaram o processo em mais de 80%. Atender grandes marcas também trouxe uma volumosa massa de candidatos para o banco de dados da Jobecam, que tem hoje mais de 200 mil pessoas cadastradas.
“O perfil de nossa reserva de talentos é bem diverso, com pessoas com deficiência, LGBTQIA+, além de 40% se declararem pretos ou pardos. Nós nunca trabalhamos com esse banco de candidatos. Mas agora vamos começar a ofertar para algumas empresas que estão abrindo vagas afirmativas”
E os planos de expansão do negócio ultrapassam as fronteiras nacionais. A empresária afirma que o investimento do BID veio com o interesse para que ampliem e expandam o serviço para a América Latina.
“Estamos navegando por clientes de países vizinhos para entender quais são as necessidades e especificidades dos mercados. Expandir para outros países é um desejo nosso e dos investidores.”
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