Alexandre Veiga, 27, é conhecido como “Bio”, apelido que ganhou na infância, numa aula de biologia. Não porque fosse um exímio conhecedor de mitocôndrias e citopígeos, mas numa referência dos amigos a sua capacidade de “biodigestão”, num certo campeonato que realizaram. Bem, é melhor deixar que o leitor ligue os pontos dessa equação gasosa.
Aos 21, Bio fazia administração na USP e queria empreender. “Meus colegas não pensavam nisso. Então criei uma incubadora. A Area – Ambiente de Realização, Empreendedorismo e Aprendizado. Só o Yuri Gitahy, em Minas, fazia aceleração no Brasil, naquela época, com a Aceleradora. Ninguém sabia nada de Business Model Generation, Startup Owners Manual, essas coisas”, diz Bio.
A Area não foi para frente. E Bio acabou abandonando a faculdade – já tinha largado Engenharia e História antes. Foi trabalhar com a Bossa Nova Investimentos, o fundo de capital early stage de Pierre Schurmann. Bio era o CEO das cinco startups investidas pelo fundo, entre elas a Tutudo, empresa de moedas virtuais para jogos online.
Ei, presta a atenção na qualidade do algodão pima peruano, o fio premium com que o basico.com confecciona seus produtos!
Depois de um ano na Bossa Nova, Bio foi para o Rocket Internet – um dos maiores fundos de investimentos early stage do mundo, com um portfolio de 40 bilhões de dólares. O Rocket ganhou visibilidade por meio de investimentos bem sucedidos, como eBay, Facebook, Linkedin e Zynga. O modelo de negócios do Rocket é identificar startups digitais em mercados centrais, especialmente nos Estados Unidos, e replicá-los em mercados emergentes.
Bio trabalhou com o Groupon e com a Dafiti aqui no Brasil. “Também fui CEO do Wimdu, um clone do Airbnb, que começou em 17 países e em dois meses de operação já valia 500 milhões de euros, e do Glossybox, um e-commerce de cosméticos, um copycat da Birtchbox”, diz Bio.
Bio trabalhou pouco mais de um ano com o Rocket – e foi para o fundo suíço Mountain Partners, de onde saiu em 2012 para empreender. Não perca a conta – tudo isso aconteceu antes dos 25 anos. Em outubro daquele ano, surgia a empresa basico.com, uma loja de roupas online cuja operação estrearia em junho de 2013 com a seguinte filosofia:
Procuramos matérias-primas naturais e fábricas da melhor qualidade possível para você.
Para ser simples, basta começar – livrar-se de excessos é um exercício: faz bem para você, para os outros e para o seu bolso.
Acreditamos em um mundo sem rótulos e sem logos, por isso nunca estampamos em nossos produtos nada que seja visível para qualquer pessoa que não seja você.
Adoramos e queremos acertar. Nos dê seu feedback pois precisamos de você para melhorar a cada dia.
Ser biodegradável também é estar na moda. É uma obrigação com o planeta e por isso tentamos reduzir ao máximo nossa embalagem, etiqueta e qualquer outro elemento que vá para o lixo depois.
Matéria-prima sobre marca. Conforto sobre modismo. Simplicidade com elegância. Conveniência alta e preço baixo.
“Eu queria ‘fazer’ coisas – e não só investir em coisas”, diz Bio. “Criei o básico.com com a visão de oferecer um ‘one stop shop’ para quem comungasse com a gente dessa filosofia do básico. Um negócio que cortasse intermediários, que operasse na lógica do ‘fair trade’ e que oferecesse preços justos. Um negócio com poucas SKUs e muita qualidade, baseado na compra recorrente, que um dia possa migrar na compra de produtos num modelo de assinatura, e não apenas de venda avulsa”.
A inspiração para o minimalismo do básico.com veio, segundo Bio, de marcas como Uniqlo, Muji, American Apparel, Gap e Bauhaus. “Eu comprava o básico. Gostava da simplicidade. Inclusive porque não sei me vestir. Para mim, o mais sempre foi menos”, diz Bio.
A receita do basico.com: ‘nós construímos nosso branding por meio de PR e de parcerias. E nossa performance comercial por meio de um programa de afiliados e de compra de mídia segmentada no Google e no Facebook’
O basico.com é uma sociedade de Bio com a Initial Capital, de Roi Carthy e Daniel Carneiro da Cunha, e um grupo de investidores anjos. O investimento inicial foi de 1,5 milhão de reais – no total, os sócios já investiram 3 milhões no negócio. É possível que no futuro próximo a empresa venha a ampliar seu capital, admitindo novos sócios no negócio.
Bio não revela o faturamento da empresa, que opera com 11 funcionários. “Somos uma marca de varejo online direcionada ao jovem adulto urbano moderno. Operamos com marca própria, num modelo integrado e verticalizado de produção, com nove categorias de produtos”, diz Bio. “Camiseta é o que sai mais. Há pouco começamos a operar com marcas parceiras, em categorias específicas. Mas 90% do nosso estoque ainda são de produtos próprios.”
O basico.com deixa claro no site os pilares do seu negócio: materiais nobres (“fibras luxuosas, como o algodão pima, colhido manualmente”), a precisão de alfaiataria (“do encontro da simplicidade e da sofisticação nascem peças com o caimento perfeito”) e a ausência de rótulos (“você por você mesmo: peças atemporais para quem busca a essência e um dia-a-dia sem etiquetas ou excessos”). Uma camiseta branca gola redonda sai por 68 reais, uma camisa pólo, por 109 reais, e um par de meias, por 28 reais.
“Nós crescemos, já no primeiro mês, no comecinho de 2013, 300% acima do planejado. E desde então, apesar das oscilações sazonais desse mercado, temos crescido, em média, dois dígitos todo mês”, afirma Bio. O segredo de uma estratégia de entrada tão bem sucedida? “Construímos nosso branding por meio de PR e de parcerias. E nossa performance comercial por meio de um programa de afiliados e de compra de mídia segmentada no Google e no Facebook.”
O basico.com tem uma loja física na esquina da Rua Augusta com a Alameda Jaú, no bairro dos Jardins, em São Paulo, e produz no Peru 90% das suas peças, sem gerar lixo. “Controlamos desde o fio premium que é produzido, cujas principais características são o brilho e a extrema suavidade, até o aroma aplicado aos tecidos prontos, que faz referência às florestas peruanas”, diz Bio.
Com o crescimento do negócio, Bio está deixando de ser o CEO para assumir a presidência do Conselho de Acionistas. “Sou um cara de investimento e de operação. E agora o basico.com começa a precisar de um trabalho diferente, de construção de marca”, diz. No momento, a empresa não elegerá nenhum executivo para tocar a operação. O comando da empresa é dividido entre os próprios sócios e as áreas de operações, marketing e tecnologia.
Bio também está diversificando sua atuação. Está desenvolvendo duas consultorias, uma focada na construção de negócios com resultados socioambientais positivos e outra dedicada ao e-commerce. Além disso, integra o board da Educare, uma startup na área de educação, e é mentor de aceleradoras, com a Startup Farm, e de programas como o SEED (Startups and Entrepreneurship Ecosystem Development) do governo de Minas Gerais.
Bio também acaba de assumir a coordenação acadêmica da Fiap (Faculdade de Informática e Administração Paulista). “Estou focado nas atividades de empreendedorismo dentro da Fiap. Minha primeira tarefa foi tirar o TCC – o trabalho de conclusão de curso – do currículo da graduação e da pós-graduação e inserir o projeto Startup One, no qual o aluno deve criar uma startup e chegar até à fase de prototipagem para se formar”, diz Bio, ele mesmo, ironicamente (ou não), um drop out.
A startup nasceu para agilizar e organizar a saída dos alunos, com ganhos de tempo e segurança para crianças e pais. Com a pandemia, está incorporando novas funcionalidades a seu aplicativo para diminuir as chances de contágio na escola.
Renato Mendes, Priscilla Erthal e Roni Cunha Bueno falam como a experiência de digitalizar a loja de material esportivo os preparou para a aceleradora (de startups e empresas grandes).