Há nove anos, antes de empreender, eu atuava como advogada tributarista. Me considerava muito bem-sucedida, adorava o que fazia e tinha uma rotina normal como qualquer executiva da profissão. Uma jornada puxada de trabalho, reuniões, audiências e muita dedicação.
Em um dado momento da minha vida, decidi que era hora de ser mãe, pois era uma vontade minha e do meu marido e já estávamos planejando esse filho há algum tempo
Como não conseguimos realizar esse sonho da forma “natural”, partimos para tratamentos de fertilização. Foram várias consultas, exames e acompanhamento médico.
Mesmo com toda a empatia desses profissionais que nos assistem, esse é um momento muito delicado para o casal – e muito puxado do ponto de vista emocional para a mulher. Costumo dizer que só quem já passou por isso sabe o quanto é pesado.
As várias tentativas foram sem sucesso e esse tema começou a virar um problema na minha vida.
Passei a me sentir triste, incapaz de realizar esse sonho e a ter uma enorme sensação de impotência, porque a gente sempre acha que engravidar de forma natural faz parte da vida de toda a mulher. E não é bem assim
Com o tempo, acabei desenvolvendo um quadro depressivo. Nunca achei que isso iria acontecer comigo, mas aceitei aquela condição e pedi ajuda.
Aconselho as pessoas a fazerem o mesmo, pois a partir do momento que entendemos nossas questões emocionais, acredito que automaticamente passamos a querer sair daquele lugar.
Nessa busca para vencer os períodos difíceis da depressão, decidi seguir a recomendação de uma amiga e foquei minha atenção em algo que me trouxesse bem-estar e que contribuísse para o meu equilíbrio emocional naquela fase tão desafiadora.
Pensar em algo diferente e positivo era um verdadeiro remédio para a minha consciência.
Assim, resolvi seguir aquele conselho – que se revelou salvador – e me inscrevi num curso para aprender a fazer arranjos florais.
Foi algo em que decidi apostar para aliviar minha tristeza e transformá-la em algo positivo. Foi também uma oportunidade para trocar experiências e aprendizados com várias mulheres de diversas idades, momentos e profissões.
Conhecer pessoas novas nessa hora é muito importante. Você aprende com a vida delas, com suas experiências. Isso me motivou a seguir em frente
Sempre gostei muito de ter flores na minha casa. Comprava no supermercado, na feira etc. Sinto que elas me trazem paz, energias positivas e outras coisas boas.
Quando decidi fazer esse curso, a ideia era encontrar algo diferente para essa nova fase da minha vida. E, como “válvula de escape” da depressão, comecei a fazer arranjos para presentear minhas amigas.
Logo, elas passaram a fazer pedidos para os eventos que realizavam e eu comecei essa nova empreitada profissional com a produção sendo realizada na varanda do meu apartamento.
Como o número de encomendas estava crescendo, percebi que trabalhar em casa já não comportava mais a demanda.
A partir daí surgiu o Estúdio Tetê Castanha, que originalmente era para ser a portas fechadas. Mas a pedido dos vizinhos, abrimos ao público, na Vila Nova Conceição, em São Paulo
A intenção no começo não era criar um negócio. Nem imaginava fazer sucesso. Mas tudo foi acontecendo naturalmente e de forma muito rápida.
Fui investindo em algo pelo qual me apaixonei e colocando tudo o que eu sentia no meu trabalho.
Hoje, acredito que minha arte com as flores representa meu processo de superação. Depressão é uma doença, então não é que eu já tenha conseguido resolver todos os meus problemas, mas essa atividade me ajuda a controlar os altos e baixos.
Me sinto útil, produtiva e vejo que meu trabalho faz diferença na vida de muitas pessoas, porque além do prazer de quem recebe flores, consigo gerar empregos.
Nesta toada, todos os medos e monstros que aparecem na minha cabeça diminuem.
Acredito que se não fosse por essa conquista no lado profissional, teria sido muito mais difícil o controle da depressão.
Aquela cobrança por ser mãe — imposta por mim mesma — já me incomodou muito, mas, hoje, não mais. Talvez tenha sido isso o motivo da gravidez não ter dado certo. A vida inteira eu sempre me cobrei muito. Sou extremamente exigente comigo mesma
E acho que essa mudança de trajeto veio para mostrar que sempre estamos aptos ao novo, ainda que para isso tenhamos que sair da nossa zona de conforto e da rota que planejamos.
Tetê Castanha trabalhava como advogada tributarista. Hoje, é fundadora do Estúdio Tetê Castanha.
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