Uma comida tão natural que até você poderia comer. Essa é a proposta — e o slogan — d’A Quinta, foodtech de alimentos para cachorros.
Com opções como o picadinho de frango com cúrcuma e o risoto suíno com abóbora, além de menus para dietas especiais, a startup é pilotada por Tiago Tresca, 33, e seu irmão, Diego, 46.
Tiago, o CEO, explica por que eles decidiram investir nessa área:
“O Brasil tem um cuidado muito grande com pets, mas a oferta [de produtos naturais] simplesmente não está lá. É um mercado fragmentado, sem nenhuma marca vencedora”
Fundada em 2020, a startup se propõe a abastecer a despensa dos tutores de cães por meio de vendas avulsas e planos de assinatura (neste caso, o tíquete médio mensal gira em torno de 450 reais).
“Você vai dar comida para o cachorro todo mês e não muda, então faz sentido em termos práticos você receber em casa.”
DIANTE DA FALTA DE FREEZERS NOS PETSHOPS, ERA PRECISO CRIAR UMA COMIDA NATURAL CANINA SEM NECESSIDADE DE REFRIGERAÇÃO
Para buscar vencer nesse mercado de comida canina natural, os sócios d’A Quinta sacaram que precisavam contornar a necessidade de refrigeração.
Ou seja, nada de congelados.
“Entendemos que a primeira coisa que precisávamos resolver era a cadeia congelada, porque os pet shops brasileiros não têm área de freezer e exigiria muito investimento para conseguirmos realizar entregas de qualidade”
Tiago conta que estudou o modelo da Liv Up e concluiu que seria necessário verticalizar toda a operação caso tivessem produtos congelados.
O processo de desenvolvimento do produto levou quase um ano, entre consultas a especialistas para montar o cardápio, elaborar a forma de esterilização e conservação sem aditivos e encontrar uma fábrica. “Eu imaginava uma operação muito mais simples”, admite.
Hoje, A Quinta produz sua comida canina em uma fábrica em Presidente Prudente (SP), que cozinha os ingredientes no vapor e utiliza uma autoclave para esterilizar o produto — são cerca de 10 toneladas produzidas por mês, dez vezes mais que no começo da operação.
“Quando o processo é feito com excelência e garantindo que não há microfuros na embalagem, o produto pode ser armazenado na temperatura ambiente. Aí é só abrir, está pronto para consumo – e dura até 72 horas na geladeira”
Cada pacote com 300 gramas é vendido por, em média, R$ 24,50. A embalagem traz medidas e um QR Code que direciona a um site onde o tutor preenche as informações sobre seu pet para receber as orientações sobre porções.
Criado em Portugal e formado em Arquitetura e Urbanismo, Tiago se considera um empreendedor em série.
“A arquitetura é o equilíbrio entre o racional e a criatividade. Somos artistas com responsabilidades de custo, eficiência energética… Eu trouxe um pouco dessa criatividade da arte para o mundo racional – mas no fundo sempre fiz a mesma coisa.”
Depois de dedicar sete anos a uma software house, ele ajudou a fundar a Natural Crave, rede portuguesa de restaurantes de comida natural (para humanos).
Até que, em 2019, sentindo que estava prestes a entrar em burnout, Tiago embarcou de férias para o Brasil com uma passagem só de ida.
“Eu estava um pouco cansado de Portugal, o mercado é muito limitado para a área de bens de consumo e eu queria ter uma experiência de empreender fora”
Por aqui, teve o primeiro contato com o mercado de humanização de pets. “Entrei em uma padaria da Oscar Freire super chique e descobri que era uma padaria para pets”, diz Tiago.
Acostumado a conviver com cachorros na fazenda da família no Alentejo (o nome A Quinta, aliás, é inspirada nas propriedades rurais portuguesas), Tiago era tutor de Fugas, um cão sem raça definida.
“Em Portugal, os cachorros costumam ficar fora de casa, a humanização é muito mais forte no Brasil — e eu acho incrível trabalhar para pet”
Ao mesmo tempo, seu irmão, Diego, estava pronto para sair da empresa de organização de maratonas em que trabalhava.
“Ele estava em um ponto que ou se tornava sócio, ou saía da empresa”, diz Tiago. “Quando nos encontramos, decidimos largar os empregos e nos juntar.”
Com um investimento anjo de 480 mil reais, o plano era usar esse dinheiro para provar o conceito e, a partir daí, buscar rodadas de investimento para expandir a tese.
“Sempre ‘envisionei’ criar uma plataforma em que você não comprasse apenas um produto, mas tivesse uma assessoria de veterinários online para realmente conhecer o cachorro”, diz Tiago.
A partir desse conhecimento, eles poderiam oferecer produtos conforme as necessidades do pet em planos de assinatura — algo que já existe no exterior.
Criar uma plataforma desse porte, porém, custaria caro. E eles ainda tiveram que enfrentar o “inverno das startups”, como ficou conhecido o período de retração de venture capital em 2022.
“Estávamos nos preparando para a seed round, quando veio o inverno das startups. Precisamos mudar nossa estratégia”
Eles voltaram o foco para a venda em pet shops, ao mesmo tempo em que procuravam criar um canal de venda direta. “Nosso site é feito sob medida, tem uma experiência de compra bem legal, você diz as características do seu cachorro e montamos um plano personalizado.”
A performance desse e-commerce se mostrou positiva, diz Tiago. “No meio de tantos perrengues, foi a surpresa mais legal. Sem levantar capital, o produto teve um market fit tão bom que conseguimos crescer com nossos próprios pés.
A startup hoje fatura cerca de 400 mil reais por mês. Até aqui, o foco esteve quase todo em São Paulo. “Fora do estado, só temos vendas orgânicas, que correspondem a 20%”, diz Tiago.
Os próximos meses, porém, prometem mudanças. Em agosto, A Quinta vai participar da feira Pet South America, principal encontro da indústria na América Latina. O plano daqui pra frente é expandir a distribuição para outros estados e, em breve, lançar uma linha de lanches caninos.
Com a expansão e os novos produtos, A Quinta quer quintuplicar seu desempenho para alcançar, em 2025, um faturamento anual de 25 milhões de reais.
Tiago reflete sobre as diferenças entre empreender do lado de cá e do lado de lá do Atlântico. Em Portugal, afirma, “as coisas são mais fáceis: você tem uma ideia, faz um contato aqui e ali, e vai [em frente]”. E prossegue:
“No Brasil, por um lado temos um país menos estruturado, com uma distribuição menos profissionalizada, uma questão tributária supercomplexa… Por outro, as pessoas são super inteligentes – temos que pensar fora da caixa toda hora, encontrar caminhos”
Mesmo com os desafios, o CEO da foodtech canina acredita ter feito a escolha certa. “Olhando para o mercado brasileiro de produtos de consumo, acho que ele está em um dos top cinco para empreender.”
Comprar ou vender um imóvel no Brasil costuma ser um processo longo e burocrático. Fundada por Clarissa Vieira e Letícia Parreira, a Quill criou uma ferramenta para automatizar a coleta de certidões e agilizar o fechamento da transação.
“Todo profissional talentoso está sempre em transição de carreira”: movida por esse lema, Cristiane Mendes comanda a Chiefs Group, startup com uma base de 1 200 C-Levels prontos para atuar em projetos pontuais de grandes empresas.
O Brasil tem cerca de 160 milhões de pets. Fundada por três mulheres, a Dr. Mep vem democratizando o acesso à medicina veterinária e oferecendo uma alternativa de trabalho flexível e de renda extra aos profissionais de saúde animal.