O “ninja” agora atende por chamada de vídeo: como o GetNinjas vem reagindo à pandemia, que já impacta o mercado de serviços

Bruno Leuzinger - 2 abr 2020
Eduardo L’Hotellier, fundador do GetNinjas.
Bruno Leuzinger - 2 abr 2020
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Vamos encarar: nem todo mundo nasce com talento para MacGyver, o herói imortal da série oitentista Profissão: Perigo, capaz de desarmar bombas-relógio utilizando um clips de papel, o tubinho de uma caneta esferográfica e um elástico (ou um chiclete já meio mascado).

E olha que no dia a dia nossas “bombas” são mais prosaicas. Tipo consertar a privada, a geladeira, o chuveiro. Mesmo assim, muitos de nós falham miseravelmente na missão. Ou nem tentam, cientes da própria falta de habilidade.

Fundado em 2011, o GetNinjas é um e-commerce de serviços. Não só reparos domésticos: pela plataforma, é possível contratar desde aulas de idioma até a instalação de insulfilm, passando por DJ, webdesigner, personal stylist… Ao todo, são mais de 200 tipos.

Em fevereiro de 2017, quando revisitamos a história da startup, o fundador Eduardo L’Hotellier contou que sua empresa vinha conseguindo expandir mesmo em meio à ressaca econômica em que o Brasil já vinha então atolado. O contexto, de certa forma, ajudava: 

“Crescemos muito, especialmente nesta época de crise”, contou Eduardo, na época, ao Draft. “Pessoas que perderam seus empregos ou que estavam com seus negócios em declínio procuraram uma forma de renda extra e encontraram no GetNinjas essa oportunidade.”

Três anos depois, com o mundo engolfado na pandemia do coronavírus, a crise parece mais assustadora. Mesmo para quem está à frente de um exército de “ninjas” — hoje, a plataforma tem cerca de 1,5 milhão de profissionais cadastrados.

“Desde o momento anterior à chegada da Covid-19 ao Brasil, venho acompanhando outras plataformas do mercado de serviços pelo mundo — de países que já estão sendo impactos mais bruscamente pela pandemia — e, em todos eles, houve queda considerável no decorrer do avanço do novo vírus”

Para entender o tamanho do buraco, a empresa realizou uma pesquisa interna. E o resultado não foi animador.

A DEMANDA POR SERVIÇOS DE EVENTOS DESPENCOU EM 65%

“No relatório que levantamos no GetNinjas, descobrimos que as buscas por serviço caíram 23,8% somente nessas primeiras semanas de transmissão local do vírus em alguns estados do país”, contou Eduardo, na segunda quinzena de março.

A porcentagem é ainda maior, dependendo do segmento. Alguns despencaram. Os três mais afetados pela Covid-19, segundo a GetNinja, foram os serviços de eventos (queda de 65% dos pedidos), saúde (redução de 47%) e moda e beleza (menos 45%).

Destrinchando o segmento de eventos a partir dos dados da plataforma, a crise vem batendo mais forte na contratação de churrasqueiros (que caiu até 70%), animadores de festa (redução de 67%) e garçons e copeiras (menos 66%).

O GetNinjas afirma que o relatório será atualizado periodicamente (e pode ser acompanhado por aqui). Além de funcionar como um raio-x da demanda dos clientes da startup, a pesquisa deve servir como um vislumbre do mercado de serviços como um todo. 

OS PROFISSIONAIS AGORA ORIENTAM OS CLIENTES POR CHAMADA DE VÍDEO

A queda nos pedidos ligados a eventos é compreensível num momento em que as aglomerações precisam ser evitadas.

Outros serviços, porém, seguem com demanda. Mas como atendê-la em tempos de pandemia? Num momento em que o distanciamento social precisa ser potencializado para atenuar o pico de contágio do coronavírus?

“Estamos trabalhando para contribuir com medidas que possam ajudar tanto os profissionais quanto os clientes da plataforma. A primeira ação piloto que lançamos foi o Ninja Remoto, para ajudar clientes a fazerem pequenos reparos em casa por meio de um atendimento online, com profissionais cadastrados no aplicativo”

As orientações, nesse caso, podem ser feitas por chamada de vídeo, com o profissional explicando passo-a-passo, para o cliente, como realizar ele mesmo o reparo.

REPAROS DE TORNEIRAS, CHUVEIROS E PERSIANAS SÃO ALGUNS DOS SERVIÇOS

Segundo a empresa, as solicitações do Ninja Remoto “são destinadas aos prestadores de serviço mais experientes”. São os próprios que determinam seu preço e negociam diretamente com o cliente, que pode receber orçamentos de até quatro profissionais. Em média, esse atendimento remoto tem custado 70 reais.

O Ninja Remoto está disponível, por enquanto, para instalação/conserto de chuveiro, instalação de cortina/persiana, instalação/troca de torneira, instalação de quadro, instalação de suporte para TV, instalação/conserto de tomada e instalação/reparo de iluminação.

Já no começo de abril, a empresa divulgou que os serviços de nutricionista também poderiam ser prestados à distância.

A crise, acredita Eduardo, pode mesmo trazer oportunidades. Mesmo que seja para uma reflexão sobre o papel do home office no futuro pós-pandemia.

“Esse é um momento para pensar no bem-estar de todos e uma boa oportunidade para mudança de mindset em relação ao trabalho remoto no país.”

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