“Quando falamos em saneamento básico, estamos falando de uma contribuição muito grande para a sustentabilidade. De forma simplificada, ofereço serviço de água tratada para a população, o que se reverte em melhoria da qualidade de vida, de inclusão social e de desenvolvimento econômico dos territórios. E quando coleto e trato esse esgoto, que é a água usada, eu alivio os mananciais. Então o negócio em si tem uma contribuição muito forte no ‘E’ e no ‘S’ do ESG. Os negócios de saneamento básico são sustentáveis porque esse é o ‘core’.”
A explicação é de Rosane Santos, diretora de Sustentabilidade da Iguá, empresa de saneamento criada em 2017 cuja agenda ESG que vem passando por uma transformação significativa desde então.
Apesar de o coração do negócio estar alinhado às questões de sustentabilidade, a Iguá identificou a necessidade de um olhar estratégico para a agenda ESG.
Em 2018, a empresa lançou a estratégia SERR e estruturou quatro pilares de atuação de sua agenda ESG: segurança hídrica, eficiência na gestão do ciclo da água, responsabilidade na coleta e tratamento de esgoto e respeito às pessoas.
“A empresa lançou o plano, mas não conseguiu dar sequência. Ela resgata essa narrativa em 2020, quando o mundo inteiro foi chacoalhado pela pandemia e posicionou a água e os recursos hídricos como elementos estratégicos do desenvolvimento socioeconômico do mundo”, conta Rosane, que chegou à companhia há pouco mais de um ano.
Em 22 de março, no Dia Mundial da Água, um novo planejamento foi lançado, desta vez com um olhar mais ambicioso e compromissos bem definidos: sustentabilidade se tornou um pilar estratégico e passou a ter a mesma relevância que áreas como novos negócios. É a garantia, conta Rosane, de que o tema não será preterido. Esse foi o primeiro passo.
“Eu vejo ESG como um elemento adicional da gestão de riscos da companhia. As empresas estavam acostumadas a fazer seu ‘risk assessment’ [avaliação de risco] muito voltado para riscos financeiros e operacionais. O que o ESG faz é iluminar temas que não apareciam antes ou não tinham o peso adequado.”
Para dar o peso que essa agenda pede hoje, a empresa passou em 2020 e 2021 por uma revisão dessa estratégia. O segundo passo foi formar um comitê ESG, envolvendo a alta liderança da companhia, e, na sequência, criar uma diretoria de sustentabilidade.
A BUSCA POR PADRÕES INTERNACIONAIS EM ESG
Outra decisão tomada pela companhia durante esse processo foi não ter um plano de negócios separado de outro de sustentabilidade, mas ter um plano de negócios que é sustentável. “Não quisemos fazer isso de qualquer jeito. Trazemos referenciais que ajudam a gente a calibrar os esforços e saber para onde mirar”, conta Rosane.
Quem ajudou a calibrar essa estratégia foram três indicadores internacionais:
A Iguá tem 100% de seu plano estratégico ligado a esses três indicadores, de acordo com o setor em que atua.
“Qual é o grande valor quando nos conectamos com padrões internacionais? Eles refletem visões múltiplas: o SASB tende a olhar muito a visão do investidor externo; o GRI cobre a lógica financeira, economia e social; e os ODS cobrem o desenvolvimento social e econômico como um todo. Então conseguimos garantir que nosso plano de trabalho contribui para cada uma dessas vertentes que esses padrões querem referenciar”, explica Rosane.
Definidos os parâmetros, a empresa passou por um grande mapeamento para identificar, dentro de cada área de negócio, a contribuição que poderia fornecer para essa agenda. Depois de identificamos programas e projetos, eles receberam metas no curto (um ano), no médio (4 a 5 anos) e no longo prazos (até 2030). Cada uma dessas metas tem um gestor comprometido com o seu cumprimento.
Para 2021, foram definidos 72 programas e projetos. Para o próximo ano, no entanto, esse mapeamento deve crescer significativamente. Rosane diz que nenhuma área da companhia ficará de fora: envolverá TI e proteção de dados, direitos humanos, alta administração, compliance e governança, entre outras.
REFORÇO NO SOCIAL E NA GOVERNANÇA
Rosane diz que a Iguá saiu do trivial e decidiu dar muito mais peso aos pilares ‘S’ e ‘G’. A companhia de saneamento conduz 19 operações em seis estados brasileiros – Alagoas, Mato Grosso, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio de Janeiro. Dessas, 15 são concessões e quatro são parcerias público-privadas.
O fato de concentrar suas ações em cidades pequenas e médias e de ter órgãos públicos como clientes exigiu uma ampliação nas estratégias sugeridas para o setor pelos indicadores internacionais.
“A nossa agenda ESG é voltada para o Brasil, o que quer dizer que precisamos trazer alguns aspectos que esses padrões não enxergam”, diz Rosane. Ela explica que o SASB está divido por indústria e reforça muito a parte ambiental; na parte social, está orientado para clientes e quase não cobre governança. Já o GRI cobre ambiental, diz ela, mas é forte no Social.
“A Iguá reforça os indicadores de governança. Porque a governança no Brasil é absolutamente fundamental. Uma empresa de saneamento que tem uma interação muito forte com o poder concedente, que é um ente público, em um setor muito regulado como o nosso setor precisa de uma boa governança.”
Traçado o plano, a diretoria de Sustentabilidade da Iguá se volta o acompanhamento mensal desses compromissos, levando ao conselho o status dos projetos mais críticos ou mais estratégicos para a companhia.
“Para mim, ESG vai ter a característica de cada país. Eu trabalhei numa empresa japonesa e o S no Japão é completamente diferente daqui. A discussão lá era diversidade de gênero no conselho de administração. Aqui, é de cima a baixo. Preciso trabalhar de muitas outras formas, porque estou falando de um país que tem deficiências sociais muito básicas. Então não posso ser básica, preciso ser audaciosa.”
TRANSPARÊNCIA PARA VALORIZAR A GOVERNANÇA
Ao reforçar seu pilar de sustentabilidade, a Iguá aumenta a visibilidade sobre suas ações. Depois de estabelecido o plano estratégico, a empresa busca validar sua matriz de materialidade, em que especifica os temas críticos em que atua.
Em paralelo, a Iguá também quer que essas informações sejam auditadas por instituições independentes, assim como já acontece com dados financeiros. Ao mostrar que os números alcançados refletem o compromisso assumido, a empresa investe em transparência para seus stakeholders.
Auditar seus dados e dar mais transparência aos resultados de suas ações de sustentabilidade funcionam como uma prestação de contas da Iguá a um mercado que valoriza cada vez mais a governança. Segundo Rosane, o ESG ganhou relevância porque o mercado financeiro está olhando para isso e leva diversos setores a olhar para temas que fogem do específico do negócio.
São empresas olhando para temas com os quais não estavam acostumadas. Mas agora incentivadas pelo retorno em investimentos trazido pelas práticas ESG.
“Majoritariamente a gente fala de ESG numa perspectiva coorporativa, mas os órgãos púbicos precisam assumir uma posição clara e estar em consonância com a atuação das empresas em ESG naquele país. Porque sustentabilidade é potencializar as externalidades positivas e reduzir as negativas que a atuação da empresa gera. Se todo mundo faz dentro de uma mesma lógica, a gente terá um cenário menos desconfortável.”
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