Como a Novelis, maior recicladora de alumínio do mundo, sustenta seu modelo de negócio baseado na economia circular

Daniella Grinbergas - 14 jul 2023
Francisco Pires é presidente da Novelis América do Sul
Daniella Grinbergas - 14 jul 2023
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Sinônimo de consumo consciente, a lata de alumínio é totalmente reciclável e consolida um modelo de negócio sustentável no Brasil que é exemplo para o mundo. Nesse contexto, a Novelis, líder em laminação e reciclagem, concretiza o conceito de economia circular. Para se ter ideia do protagonismo da companhia, em 2022, o Brasil atingiu o índice inédito de 100% de latas recicladas, sendo que a Novelis é responsável por 2/3 desse total, garantindo que as latas descartadas voltem ao ciclo, tornando-se matéria-prima para a produção de novas embalagens, em um processo sem fim.

A empresa tem a economia circular como estratégia de negócio. Atualmente, a Novelis possui 33 fábricas em 9 países pelo mundo. No Brasil, conta com o maior centro integrado de laminação de chapas e reciclagem de alumínio do mundo, além de uma fábrica de folhas, 14 centros de coleta próprios e uma ampla rede de parceiros distribuídos de norte a sul do país.

Nesta entrevista, Francisco Pires, presidente da Novelis América do Sul, conta sobre o pioneirismo da empresa no mercado brasileiro, a mudança de perfil do consumidor e as inovações que a companhia vem fazendo para atingir suas ambiciosas metas ESG.

Que leitura faz sobre a mudança de perfil do consumidor e, nesse sentido, como a Novelis enxerga cada vez mais espaço para expandir no mercado de latas de alumínio para bebidas?

Percebemos dois principais vetores que vêm gerando essa mudança de perfil. O primeiro é o aumento do consumo de embalagens ligado à praticidade. E isso está totalmente alinhado com as latas, porque elas possibilitam o consumo individual em qualquer lugar, ajudam a gelar a bebida mais rapidamente, são mais leves, fáceis de manusear e transportar. O outro ponto tem a ver com a sustentabilidade, uma preocupação que vem ganhando força. Nesse sentido, as embalagens de alumínio são 100% e infinitamente recicláveis sem que haja perdas.

A Novelis é pioneira na produção de chapas para o mercado de latas de alumínio no Brasil e vem acompanhando essa história de crescimento. Atualmente, mais de 50% do consumo de cerveja é em lata, sendo que há 10 anos essa faixa era de 30%. Vemos uma curva ascendente e sabemos que há um enorme potencial. Além disso, encontramos hoje uma variedade de bebidas em latas como água, vinho, bebidas alcoólicas prontas, entre outras. Enxergamos aí uma grande oportunidade para crescer.

Conte sobre a visão e a estratégia de sustentabilidade da Novelis. 

Desde que a Novelis investiu em um laminador a quente para possibilitar o desenvolvimento do mercado de latas de alumínio no Brasil, em 1989, veio também a preocupação e o compromisso de fazer isso de forma sustentável. A Novelis tem uma visão de liderar a indústria do alumínio por meio de soluções sustentáveis e inovadoras. Nosso foco é garantir um modelo de negócios baseado na economia circular.

Entre os objetivos da Novelis estão a criação de produtos com uma pegada de carbono cada vez menor e a ampliação do uso de material reciclado. Hoje, as chapas de alumínio fornecidas pela empresa são compostas por mais de 80% de conteúdo reciclado, mas esse índice pode aumentar.

Uma latinha se transforma em outra nova em 60 dias. Zelamos para que ela permaneça na nossa cadeia, voltando a ser uma embalagem nova e se mantenha nesse ciclo.

Já em relação ao segmento automotivo, um outro mercado que atendemos, a cadeia é mais longa, mas também trabalhamos com reciclagem em circuito fechado, recuperando o máximo possível de alumínio e reinserindo na cadeia de abastecimento.

Como o crescimento da Novelis se mostra benéfico do ponto de vista social e ambiental? 

A reciclagem do alumínio utiliza apenas 5% da energia que é necessária para produção de alumínio primário a partir do minério. O produto reciclado evita a extração da bauxita e ainda deixa de emitir 95% de pegada de carbono. Uma diferença imensa. Nessa linha, temos metas ousadas: redução de 30% da pegada de carbono entre 2016 e 2026 e ser carbono zero até 2050.

Do ponto de vista social, estima-se que 800 mil famílias vivam da reciclagem e o alumínio é o principal produto em termos de renda. Temos um forte compromisso de melhorar o nível de reciclagem no Brasil, contribuindo com melhorias de gestão das cooperativas, treinando pessoas para o trabalho, além de investir na segurança e bem-estar dos cooperados/as. No último ano, a Novelis destinou R$ 13 milhões em investimentos sociais, incluindo iniciativas voltadas para educação e reciclagem.

A Novelis é hoje a maior recicladora de laminados de alumínio do mundo. Fale sobre a importância da companhia na cadeia de reciclagem.

Construímos do zero essa cadeia que não existia. Da mesma forma que viabilizamos toda a infraestrutura para trazer fabricantes de latas ao Brasil em 1989, construímos a infraestrutura para fazer com as latas voltassem para nossa fábrica em Pindamonhangaba (SP), que se tornou o maior centro de reciclagem da América Latina. Investimos em equipamentos para limpar, tirar resíduos orgânicos, remover o verniz e garantir que o alumínio volte a ser uma nova lata. Além de olhar para dentro, desenvolvemos mecanismos e abrimos centros de coleta pelo Brasil – são 14 nossos e 22 centros de parceiros. Vale ressaltar um enorme esforço que adotamos para obter uma logística reversa competitiva, para que o valor econômico não se perca nesse percurso da volta da lata. Produtos reciclados não são intrinsecamente de alto valor agregado, então qualquer perda de valor em um elo da cadeia pode significar a inviabilidade da economia circular. 

Recentemente, a Novelis investiu cerca de R$ 20 milhões na criação do Centro de Soluções ao Cliente. Qual é a importância do CSC?

Este centro para inovação focado em latas é o primeiro da América Latina. Nós entendemos que o mercado de latas no Brasil tem muito a crescer. Por isso, queremos trazer para cá a oportunidade de viabilizar outras soluções, como envasamento de vinho, bebidas alcoólicas prontas, água, leite, café e outras bebidas. Além disso, queremos testar novas possibilidades, trabalhar a espessura da lata, entender como o alumínio performa nas fábricas dos clientes, por meio de sensores conectados às plantas deles, e, por fim, viabilizar a produção de uma lata com 100% de conteúdo reciclado (hoje esse número fica acima de 80%).

Como enxerga a importância de estreitar o relacionamento com os clientes no desenvolvimento de novas tecnologias e soluções sustentáveis?

Estamos sempre atentos às necessidades de nossos clientes e queremos testar novas soluções que atuem nas necessidades deles. Porém, sabemos que eles não podem parar seus processos para isso. Então, asseguramos que os equipamentos de análises estejam dentro de casa, no nosso Centro de Soluções, para que todos os testes possam ser realizados ali. Sabemos que não adianta chegarmos a uma solução ótima se ela não fizer sentido para o cliente. A inovação não pode ser restrita, ela precisa ser aberta para a indústria, adotada de forma ampla para que seja interessante para todos os players da cadeia.

O CSC fica em São José dos Campos. Qual foi a estratégia para a definição do local?

Buscamos uma cidade com vocação para a inovação. E uma conjunção de fatores nos levou a escolher o local: olhamos para a logística, buscamos ficar próximos dos nossos clientes, de nosso escritório central de São Paulo, de nossa principal fábrica, em Pindamonhangaba, além de ter acesso próximo a aeroportos.

Em São José dos Campos ainda temos um cliente global importante do segmento aeroespacial que é a Embraer – no longo prazo, o CSC poderá abranger os setores automotivo e aeroespacial.

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