Tinha um vírus no meio do caminho: como a pandemia impactou (para melhor, inclusive) o Criativar, Festival de Economia Criativa

Bruno Leuzinger - 24 set 2020
Mariana Nobre, gestora do Atelier do Futuro e uma das curadoras do Festival CriAtivar.
Bruno Leuzinger - 24 set 2020
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Era para o evento ser presencial. Logo ali em Santos, a 70 quilômetros de São Paulo. 

A pandemia, porém, interferiu nos planos. 

Começa hoje (24) o Festival CriAtivar. A programação é extensa (e eclética). Hiperlocalismo, cannabusiness, afrofuturismo, design fiction, economia prateada, empreendedorismo trans… 

Ao todo, até domingo (27), serão 40 painéis online com participantes como Domenico de Masi, Brian Solis, Watatakalu Yawalapiti, Glamour Garcia, Facundo Guerra, Barbara Soalheiro (do Mesa & Cadeira), Blubell, Heitor Dáhlia… Os painéis podem ser conferidos via Facebook, YouTube e por meio de algumas lives  no Instagram do festival (confira a programação c0mpleta).

Na curadoria estão Denise Covas, cofundadora do LAB 4D e diretora do DCovas Projetos Culturais e Corporativos, e Mariana Nobre, gestora do Atelier do Futuro. A seguir, elas contam um pouco dos bastidores — e o que esperar do evento.

 

Quando e por que o festival começou a ser desenhado? E como vocês reagiram à Covid-19?

Denise: O festival começou a ser desenhado no ano passado, porque Santos iria sediar, em 2020, o encontro anual da rede de cidades da Unesco. Santos é Cidade Criativa na categoria “Cinema” pela rede da Unesco, e vem montando um ecossistema de vários atores da Economia Criativa. Essa rede hoje tem 246 cidades no mundo, e todo esse pessoal estaria em Santos para o evento.

Com a pandemia, levamos um baque e tivemos que aguardar para ver como iríamos seguir. Achávamos que iria acabar em dois, três meses, então seguramos um pouco a ideia de fazer no digital… Até que o encontro da Unesco foi adiado para 2021. Aí, redesenhamos o festival para fazer uma versão online. 

E o online dá essa facilidade de conseguir trazer tantas pessoas bacanas, que no presencial talvez a gente não conseguisse no mesmo volume. Teremos cerca de 160 convidados em quarenta painéis, gente do mundo todo. O digital tem essa facilidade. É uma forma da gente mostrar Santos para o mundo

Optamos por fazer neste mês por causa da Agenda 2030, o acordo feito em (setembro de) 2015 em relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Já estamos em 2020, portanto temos dez anos para cada um fazer a sua parte. Cidades, pessoas, a iniciativa privada: todo mundo é responsável.

A lista de participantes é eclética, inclui de Domenico de Masi a Watatakalu Yawalapiti. O que norteou a curadoria? Quais são os pontos de convergência? 

Mariana: Uma prática dos festivais de inovação de todo o mundo — tanto na curadoria que faço para o Festival Path ou mesmo para o CriAtivar, que são altamente inspirados no SXSW — é uma grande profusão, uma grande mistura. 

Em primeiro lugar, porque essa profusão cria uma catarse: é o momento de apreensão de novas ideias, e essa profusão acaba mexendo com a cabeça das pessoas. E em segundo porque quanto mais interseccionais esses temas forem, mais inovadores eles são. 

Um grande erro da inovação é a gente acreditar que estamos seguindo um exemplo ou fazendo uma inovação, um “me too” seguindo exatamente os passos que o concorrente fez, ou que alguém do mesmo segmento fez. Inovar é justamente deslocar as questões 

Aparentemente os convidados podem parecer diversos demais, ou até díspares — mas no contato, na conversa, na interação, aí sim fica muito claro que os fazeres de um estão muito conectados com os fazeres de outro. Estamos falando de um pensamento de futuros, no plural, que tem essa noção de impacto e interdependência em todo o momento.

O que o público pode esperar dos painéis? Que tendências vêm sendo aceleradas pela Covid-19 e serão discutidas na programação?

Denise: Não dá para inovar se você não tiver uma sociedade que esteja caminhando junta para que a gente tenha uma cidade mais sustentável, equilibrada socialmente… E a pandemia escancarou todos esses problemas sociais. Temos que repensar e refletir sobre esses temas. 

Na nossa curadoria, direcionamos para vários assuntos nesse sentido. Vamos falar do #liberteofuturo, da questão climática, das ODS, da renda básica mínima universal… Vamos refletir sobre mulheres no empreendedorismo, sobre empregabilidade e empreendedorismo trans, afrofuturismo… 

Estamos trazendo problemas à tona para que se faça uma reflexão de tudo isso. Não tem como a gente fugir de todas essas questões se queremos ter uma sociedade melhor.

 

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