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Como criar uma cultura de voluntariado corporativo de sucesso? A 3M tem uma ou outra coisa para contar sobre isso

Cláudia de Castro Lima - 6 out 2021
Na 3M, a cultura de voluntariado existe há décadas
Cláudia de Castro Lima - 6 out 2021
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Em sua aula inaugural do programa de formação profissional Formare, um dos professores da turma de 2021 falou que, um dia, foi muito parecido com aqueles alunos para os quais ele agora ensina.

O professor lembrou de sua infância na Argentina, quando, filho de pais imigrantes da Espanha que não conseguiram concluir o ensino médio, teve uma infância difícil, mas em que a educação era absoluta prioridade.

Promovido pela 3M em parceria com a Fundação Iochpe, o programa é voltado para jovens de classe baixa, com famílias em que a renda é de até um salário mínimo por pessoa.

Hoje, esse professor, Marcelo Oromendia, é presidente da operação brasileira da multinacional, e vai ministrar as aulas de espanhol como parte da cultura de voluntariado da 3M do Brasil.

“Marcelo disse para aqueles jovens que é muito importante expandir seus limites. Não é porque o jovem é filho de um pedreiro, de uma faxineira ou de um açougueiro que precisa obrigatoriamente seguir a mesma carreira”, conta Liliane Moura, supervisora de projetos sociais do Instituto 3M.

“Se for a escolha desse jovem ser pedreiro, açougueiro, faxineiro, pipoqueiro, está tudo bem. A parte em que isso não é ok é quando não é uma escolha, e sim resultado de um determinismo, porque todo jovem tem direito a fazer escolhas”, afirma.

Segundo Liliane, um dos fatores fundamentais para que uma cultura de voluntariado seja criada e perpetuada em uma empresa é o envolvimento da alta liderança nas ações sociais. E Marcelo Oromendia está mostrando como as coisas funcionam na 3M.

INSTITUTO TEM 15 ANOS, MAS AÇÕES NA EMPRESA TÊM 75

Liliane é uma das responsáveis por promover as iniciativas de voluntariado estruturadas debaixo de quatro pilares do Instituto 3M: ciência e tecnologia, tecnologia social, educação e desenvolvimento social.

Hoje, o Instituto oferece 400 vagas todos os anos, em diversas iniciativas diferentes, para colaboradores de todos os perfis se envolverem – e, anualmente, essas vagas são todas ocupadas.

Mas, muito antes de o Instituto ser criado, há 15 anos, os funcionários da 3M já eram voluntários constantes em ações de responsabilidade social.

“A 3M é uma multinacional americana e a cultura do voluntariado vem bastante de lá. As ações voluntárias aqui no país têm 75 anos, a mesma idade da empresa no Brasil”, conta Liliane.

No Brasil, a tendência do voluntariado corporativo começou a ganhar mais força a partir da década de 1990, e o conceito, que antes era restrito à filantropia, ou seja, ao ato de doar, agora é muito mais abrangente e está ligado às estratégias e aos valores da empresa.

Na 3M, a cultura é tão arraigada e antiga que o funcionário está liberado para ser voluntário nas iniciativas do Instituto em seu horário de trabalho.

“Aqui no Brasil isso é um conceito até novo. Mesmo as grandes empresas brasileiras, que têm iniciativas sólidas de investimento social privado, não costumam fazer isso”, conta Liliane.

“Na ótica brasileira, talvez esse seja o último passo de envolvimento com responsabilidade social. Mas na 3M é o contrário.”

Tudo começou lá com o voluntariado, com grupos muito engajados em campanhas assistenciais, em atividades pontuais com instituições sociais. “Em 2006, tudo isso foi reunido em formato de pilares e organizado para a criação do Instituto 3M”, diz ela.

COMO CRIAR UMA CULTURA DE VOLUNTARIADO DE SUCESSO

A aula inaugural do Formare, com a presença do presidente da 3M

Além da proposta do projeto social e do que a empresa quer atender, é importante entender como os voluntários vão participar dele.

Na 3M, todos os programas desenvolvidos pelo Instituto precisam de colaboração voluntária dos funcionários da companhia. No Formare, por exemplo, os professores são os próprios colaboradores da empresa.

Eles recebem uma preparação oferecida pelo Instituto e devem, como afirmou Liliane, usar seu horário de expediente para as atividades voluntárias.

“Isso depende de uma visão da companhia de olhar para o funcionário com mais flexibilidade, de saber que ele tem condições de priorizar o resultado, mas também de se organizar para fazer atividade de voluntariado.”

Para dar oportunidade a todos os colaboradores de serem voluntários, o Instituto 3M oferece vários tipos de iniciativas, que acontecem em diferentes horários, em diferentes dias da semana e que exigem distintos níveis de dedicação.

Algumas duram seis a nove meses, como o Formare. Outras têm três dias, a exemplo da Mostra de Ciências e Tecnologia. Outras, ainda, duram apenas um dia, para que colaboradores de todas as áreas, inclusive das fábricas, possam participar.

“Com a pandemia, percebemos que o modelo online é perfeito para atrair pessoas que queriam participar de alguns programas, mas que não ficavam nas cidades em que eles aconteciam, como a nossa força de vendas”, relata Liliane.

Possibilidades diferentes de atuação, de públicos-alvo das iniciativas, de instituições parceiras, de horários, de propostas: de acordo com a supervisora do Instituto, é preciso ter variedade no cardápio de atividades voluntárias para que elas sejam duradouras e tenham sucesso a longo prazo.

“E, claro, o engajamento da liderança é um fator bastante importante”, afirma ela. “Ter os líderes falando sobre as ações, se engajando e indicando os programas de voluntariado como pontos de desenvolvimento das pessoas faz toda a diferença”, continua.

“Ver a companhia toda engajada e com a mão na massa traz outra verdade. É a coerência do voluntariado que faz com que sua base seja sólida para crescer e durar com a companhia.”

QUAL A IMPORTÂNCIA DE CRIAR UMA CULTURA DE VOLUNTARIADO?

Para Liliane, engajar os colaboradores da empresa em trabalhos voluntários é importante porque traz consigo diversos valores e benefícios. “Um exemplo: a cultura da colaboração”, afirma ela.

“Como se inova sem colaboração? Ambientes muito competitivos, onde as pessoas consideram que informação é poder, por exemplo, é muito difícil promover essa cultura de inovação”, diz Liliane.

“Esse olhar diferente para educação, de compartilhar aprendizagens, de ajudar as pessoas, querer dividir iniciativas, se importar mais com o resultado do que com o crédito de quem vai ganhar aquele reconhecimento, tudo isso o voluntariado traz consigo.”

Para ela, o trabalho voluntário tem 100% foco no resultado – e o resultado é quem está sendo atendido com aquela iniciativa, o impacto que ela produz.

“É importante falar de inovação, de colaboração, de cultura inclusiva, discutir isso tudo e trazer para o debate. Mas é com o voluntariado que mostramos coerência nesse discurso”, ela diz.

“É na iniciativa voluntária que todos estão de fato juntos. É em uma aula do Formare, por exemplo, em que funcionários brancos falam sobre a importância da inclusão de negros na empresa para jovens em situação de vulnerabilidade que vão montar o planejamento de vida e carreira deles”, continua.

“Mas, ao mesmo tempo, ao lado desses funcionários brancos há funcionários negros falando da mesma coisa, há funcionários com deficiência ou LGBTs. Tem pessoas de vários perfis falando e praticando os mesmos valores, de maneira integrada e cooperativa, e expandindo isso para a sociedade.”

Ela dá como exemplo a próxima Mostra de Ciências e Tecnologia do Instituto 3M, que acontece de 8 a 12 de novembro, na qual está programado um painel sobre mulheres na ciência. “Dele vão participar mulheres e homens e é um painel para ser assistido por meninas e meninos”, explica.

“Não dá para pensar ou acreditar em criar realidades unilaterais. O voluntariado congrega, reúne tudo isso, todos os valores positivos que se quer disseminar na empresa. Ele é vínculo entre teoria e prática, entre o que se idealiza e a realidade.”

E O VOLUNTÁRIO? ELE GANHA MAIS DO QUE ESPERA

Voluntários no encerramento online do Impact, um dos programas do Instituto 3M

A pessoa que participa voluntariamente de uma iniciativa promovida por sua empresa geralmente faz isso porque quer compartilhar suas experiências e seus aprendizados e quer genuinamente ajudar.

“O que vejo muito acontecer é a pessoa achar que tem a oferecer e, porque gosta de ajudar, porque gosta de pessoas, se voluntaria. Ela não pensa muito nela mesma quando tem esse primeiro impulso”, diz Liliane.

“E a verdade é que, em qualquer atividade voluntária que ela faça, e isso fica muito claro logo de início, a transformação nessa pessoa é tão grande ou maior do que a que ela causa nas pessoas que impacta quando é voluntária.”

A troca com outras pessoas com perspectivas e experiências muito diferentes enriquece tanto do ponto de vista emocional como em relação ao próprio trabalho no dia a dia.

“Ela volta para seu cotidiano com um poder ilimitado de buscar muito mais eficiência e eficácia, porque vem com uma perspectiva de colaboração e de significado muito maior”, explica a supervisora.

Para Liliane, a experiência traz uma perspectiva de coletivo. “Esse olhar para o poder de cada um, mas com a responsabilidade de cada um dentro do todo, o voluntariado traz como uma injeção na veia.”

Ela diz acreditar que é nossa obrigação deixar o mundo que habitamos hoje um lugar melhor. “A gente se ilude com várias outras coisas, tenta criar uma série de outros objetivos, mas de fato o que temos de fazer é praticar o bem – para a gente e para o outro”, conta.

“O voluntariado é uma forma de fazer isso em conjunto. E o voluntariado corporativo é muito forte pelo tamanho do grupo que trabalha pelas mesmas coisas, pela quantidade de gente que se envolve e que acredita nisso ao mesmo tempo.”

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