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Como mudei de carreira e renovei a empresa do meu pai, focada em turismo 50+

Rodrigo Pastore - 24 out 2025 Rodrigo Pastore, co-CEO da Pastore Turismo.
Rodrigo Pastore, co-CEO da Pastore Turismo.
Rodrigo Pastore - 24 out 2025
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Trocar de profissão nunca é simples. Eu já estava na advocacia, começando a colher alguns frutos do que vinha plantando, quando decidi mudar de rumo. 

Não foi porque as coisas estavam ruins, mas porque eu sentia que precisava construir algo maior, e que tinha dentro de casa uma oportunidade única: a Pastore Turismo, criada pelo meu pai em 1992, em São Paulo. 

Desde criança, eu via meu pai investir na empresa, acreditando no negócio mesmo sem grandes retornos, e senti que poderia ajudá-lo a perceber o verdadeiro potencial daquilo que ele vinha construindo com tanto esforço 

O peso dessa decisão de deixar minha carreira e trabalhar com meu pai foi  intenso. Cheguei a ficar doente e a ser internado por três dias, fazendo exames. 

No fim, meu quadro foi atribuído à baixa imunidade provocada pelo esgotamento físico e emocional.

MEU PAI PERCEBEU UMA DEMANDA DE MERCADO E CRIOU A EMPRESA DO ZERO

Entrar na empresa não significou ter cargo, um bom salário ou qualquer tipo de regalia. Eu comecei de baixo, e precisei ganhar a confiança do meu pai e da equipe. 

Ele começou como recreador e monitor de viagens. Com muito esforço e paixão, construiu a empresa do zero. 

Antes de muita gente, meu pai percebeu que havia um déficit no mercado de turismo para o público da terceira idade e decidiu especializar a empresa nesse segmento 

Entre momentos de oscilação financeira, manteve a empresa de pé com resiliência, – e abrir espaço para novas ideias vindas de alguém jovem e sem experiência no negócio não foi algo imediato. 

Enfrentei resistência interna e externa, e essa última, de certa forma, ainda se faz presente hoje.

Com o tempo, convivendo na rotina da agência, fui aprendendo na prática. Negociava com clientes, errava, corrigia, recomeçava

Percebia onde estavam os gargalos, os processos internos que podiam ser mais ágeis, os pontos que travavam o crescimento  e também quem, na equipe, não estava funcionando ou não acompanhava o ritmo necessário. 

Foi nesse aprendizado diário, vivendo o dia a dia do “balcão”, que comecei a enxergar os gaps e, ao mesmo tempo, as possibilidades de inovação.

REMANEJAMOS VIAGENS E RESISTIMOS À PANDEMIA

Pouco tempo depois, veio a pandemia. Para muita gente, foi o fim da linha. Para nós, um divisor de águas. 

Eu já vinha mexendo em processos internos e ajustando o financeiro, e isso acabou sendo determinante. 

Conseguimos manter um caixa saudável, não demitimos ninguém e conseguimos remanejar viagens que já estavam vendidas 

Enquanto concorrentes maiores fechavam as portas, nós resistimos. Claro que os planos atrasaram, mas a lição foi clara: resiliência não se negocia.

A ECONOMIA PRATEADA E O TURISMO 50+ ESTÃO BOMBANDO

Quando o mundo voltou a abrir, o mercado de turismo estava aquecido. As pessoas queriam viajar como nunca. 

Para nós, isso era uma oportunidade,  mas também uma enorme responsabilidade. 

Nosso público é majoritariamente 50+, um grupo de risco. Não dava para simplesmente vender pacotes. Era preciso redobrar o cuidado, investir em protocolos, garantir segurança

O público sênior estava mudando e continua em constante transformação. Já naquela época as análises de mercado apontavam essa tendência, ficava cada vez mais claro: se quiséssemos crescer e continuar conquistando clientes, precisávamos inovar, adaptando nossos serviços e produtos a essas novas demandas. 

E os números que vieram em seguida só confirmam: em 2023, 66% dos brasileiros com 60 anos ou mais já utilizavam a internet, contra apenas 24,7% em 2016. 

A chamada economia prateada movimenta 1,8 trilhão de reais por ano e já representa 15% do turismo doméstico e 10% do internacional

Ao contrário do que se imaginava no passado, a terceira idade não é um período de retração, mas uma fase de descoberta e reinvenção,  com as viagens ocupando um papel central nesse processo.

CRIAR UMA CULTURA DE INOVAÇÃO LEVA TEMPO

Foi após esse período de pandemia que comecei a implementar mudanças mais profundas. 

Com o caixa fortalecido, modernizamos a empresa, criamos novos departamentos e ampliamos o time, que cresceu de dois para mais de 20 colaboradores fixos. 

Mas cada passo trazia resistências. Tive que ganhar a confiança de clientes antigos que preferiam o “jeito de antes”. Tive também que conquistar cada vez mais o meu próprio pai, que sempre foi a referência na empresa 

Esse processo não foi rápido, nem simples. Foram meses, anos de conversa, ajustes, e aprendizados até que a cultura da inovação começasse a fazer sentido para todos.

Dessa virada nasceram projetos que desenhei do zero, como a Pastore Travel, voltada a um público mais amplo; a Pastore Luxury, para experiências exclusivas; e a Pastore DMC Brazil, focada em receptivo internacional; além da filial em Santos e do modelo de franquia. 

NOSSA EMPRESA CRESCEU SEM PERDER A ESSÊNCIA

A reestruturação marcou um novo capítulo para a empresa. Ver o negócio que meu pai fundou e que por tantos anos viveu dias difíceis chegar a esse patamar é a realização de um sonho. 

Mais do que triplicar o faturamento, foi emocionante ver o sobrenome da nossa família, que também é o nome da empresa, estar cada vez mais presente na boca das pessoas, um cliente indicando para o outro, familiares agradecendo emocionados pelo cuidado com o parente durante a viagem. É a prova de que todo o esforço valeu a pena.

Mas a transformação não foi só da empresa. Eu também amadureci. Sempre fui disciplinado e focado. Mas foi depois da pandemia que virei a chave de vez. 

Nesse período, noivei, me tornei pai da Valentina e passei a enxergar meu trabalho de outra forma. Hoje, cada decisão que tomo é também pensando nela e nos filhos que ainda quero ter

Construir um legado deixou de ser apenas um objetivo profissional: virou uma missão de vida.

Já levamos mais de 35 mil pessoas em viagens. Continuo junto ao meu pai,  acompanhando de perto os grupos, porque acredito que estar presente é o que faz a diferença.

O que aprendi nessa trajetória é que inovar é preciso e que a inovação verdadeira não significa abandonar a tradição — mas combinar o que já funciona com o que podemos criar de novo

Inovar é sobre evoluir constantemente, sem perder a essência, é sobre entender que cada desafio é uma oportunidade de reinventar, de tornar cada experiência mais memorável e de fazer a diferença na vida das pessoas.

O Brasil e o mundo estão mudando rapidamente: em 2030, teremos mais idosos do que crianças, e nosso país será a quinta população mais envelhecida do mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). 

A oportunidade de inovar e oferecer experiências únicas para o público 50+ só tende a crescer

Para mim, isso não é apenas um número ou uma previsão. É um convite para continuar criando soluções, antecipando necessidades e transformando cada viagem em momentos que fazem a diferença na vida das pessoas.

 

Formado em Direito pelo Mackenzie e pós-graduado em Administração pela FGV, Rodrigo Pastore, 30, é co-CEO e sócio da Pastore Turismo.

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