Fui recebida por Carlos Margarido, 32, Gustavo Ferriolli e Rafael Pato, ambos com 31 anos, no escritório quase escondido dentro da Endossa, a primeira loja colaborativa de São Paulo, que fica na Rua Augusta, 1372. Tímidos, os rapazes são daquele tipo que não gosta de tratar da vida pessoal e prefere passar despercebido pelas ruas mas, dentro dessa simplicidade, há três jovens empreendedores ousados. Desde 2005, os então estudantes de propaganda e marketing, na ESPM, uniam-se em reuniões de brainstorm para pensar em possíveis negócios e áreas de atuação. Não queriam simplesmente sair da faculdade e ir para uma agência e sim, trabalhar por si.
“A gente estava muito nessa coisa da web 2.0, falava-se muito disso na época. Facebook, Orkut… Entramos nesse raciocínio e criamos várias ideias, várias coisinhas. A gente teve a ideia de fazer um cinema colaborativo, uma balada colaborativa e no meio disso, criamos a Endossa. E a gente não parou logo e ficou: ‘Agora vamos fazer isso’, a gente foi indo”, conta Carlos.
A ideia inicial da Endossa incluía uma loja física que tivesse forte presença na internet, mas isso foi guardado para o futuro. Em 2007, eles pegaram um empréstimo de 120 mil reais, com os pais, e investiram, primeiro, no espaço físico. Procuraram um bom ponto comercial, e o local escolhido foi a rua Augusta.
O local é conhecido por ser bastante heterogêneo e receber diferentes públicos, de acordo com o horário e o dia a semana. Carlos conta que, na época, a Augusta era bem diferente de hoje, mas que a heterogeneidade sempre existiu. “Talvez tenha até aumentado o número de pessoas que vêm aqui com o tempo, porque agora há várias opções. Tem food truck, lugares para comer, porque antes não tinha praticamente nada. A gente até fez parte desse processo de gentrificação. Enfim, escolhemos a Augusta, porque era esse lugar meio indiezinho, meio geek, com público aberto a novidades e era mais barato.”
NA LOJA COLABORATIVA, RISCO E SUCESSO SÃO COMPARTILHADOS
A Endossa funciona assim. Qualquer pessoa pode alugar um espaço (“caixas” que são estantes de madeira) entre os 201, de várias tamanhos, disponíveis. Por isso, é possível encontrar roupas de pequenos designers, óculos de diferentes estilos, bijuterias, objetos para casa e decoração, além de carteiras e bolsas. A curadoria é feita pelos clientes — ou melhor, pelo sucesso ou não das vendas —, já que todos espaços alugados precisam atingir uma meta de vendas a cada três meses e pagar a taxa de administração, que depende do tamanho de cada caixa alugada. Cada compra, portanto, é um endosso do cliente, como explica o site da marca e assim os consumidores decidem quais marcas permanecem ou acabam dando lugar a outra. Na loja da Augusta, o aluguel varia de 200 a 900 reais.
A disposição dos produtos na Endossa (foto da unidade Augusta) mudou para deixá-los mais acessíveis ao público.
“A receita da venda é da marca. A gente desconta apenas o que gastamos com os impostos, taxa de cartão, vendas parceladas, porque pagamos à vista… Algumas taxas de custo, como as sacolas”, diz Gustavo. Carlos emenda: “Quando a gente começou, a gente nem cobrava comissão. Descontávamos apenas o imposto e a taxa do cartão exata da venda. Hoje a gente tem uma taxa fixa, porque, principalmente no Natal, a gente começou a sofrer, porque a venda incorre em custo, né? Tem sacola, etiqueta, papel de presente, o número de funcionários que a loja precisa para funcionar”.
Foi assim durante todo o processo da loja, que abriu as portas em 2008 e segue firme até hoje. Eles faziam de um jeito, mas se a coisa acabava caminhando para outro ele iam se adaptando às mudanças e corrigiam erros. Um exemplo disso é o posicionamento das caixas na loja. No começo, algumas ficavam muito baixas e os clientes tinham dificuldade em acessar os produtos. Isso foi modificado.
Outra coisa que logo se adaptou foi o tipo de produto vendido. A ideia era ter uma loja que vendesse coisas mais caras com design, como abajures e objetos para casa, mas quando abriram as portas, as caixas estava cheias de artesanatos, pimentas e “coisas para vovó”, como diz Gustavo. “Fomos atrás desses fornecedores e até locais de exposição, mas percebemos que o que eles queriam mesmo era revender para grandes lojas e não vender direto ao consumidor como acontece aqui”, afirma Rafael.
Em dez meses, conseguiram amortizar a dívida com os pais e a operação começou a gerar lucro. Tudo aconteceu muito rápido. Logo foram destaque em vários veículos de comunicação tanto em reportagens sobre economia e novos negócios, quanto em revistas e blogs de moda e isso ajudou na disseminação do modelo colaborativo e disruptivo da loja. Chegaram até a entrar na lista da CNN de lugares para conhecer em São Paulo, numa pauta sobre turismo.
ERROS NA HORA DE EXPANDIR
Veio a vontade de expandir. Logo receberam um convite do Centro Cultural São Paulo (CCSP), que fica na Rua Vergueiro, 1000, espaço que abriga teatro, música, biblioteca e diversos tipos de aulas envolvidos com cultura e abriu-se então um sistema de franquias que abrangeu também Brasília e Curitiba. No CCSP, a loja é bem menor (com 70 caixas para aluguel) e os produtos são voltados para arte.
A Endossa de Curitiba chegou a ter um café, mas acabou fechando.
Em Curitiba, o empreendimento foi mais ambicioso. Guiados pela longa lista de espera (de até seis meses) na unidade da Augusta, o trio optou por uma loja maior, com mais de 80 espaços para diferentes comerciantes. Um casal de amigos mudou-se para Curitiba e a coisa caminhou na informalidade. Para eles, este foi o primeiro erro, já que não eram pessoas da cidade, ou seja, eles não “tinham a pegada de Curitiba”. A franquia abriu em 2010, mas por uma diferença de pensamento acabou fechando este ano. Segundo os meninos, por não ser um ponto bom para a venda. Além da Endossa, o espaço também era uma galeria de arte e um café.
“Para mudar de ponto, nós tínhamos que ter uma discussão com os franqueados. Chegou a época da renovação e a gente falou: ‘Olha, o ponto não é bom, a gente não acha que a loja vá decolar aí’, mas eles queriam ficar naquele ponto, porque eles estavam montando um café. Então, preferimos terminar, porque se aparecer outro franqueado em Curitiba a gente vai pra lá. A loja estava se pagando, mas não dava grandes lucros”, conta Rafael.
Em Brasília, a situação foi parecida, mas dessa vez foram pessoas da cidade que optaram por abrir a loja, o que facilitou na hora da escolha do ponto. A franquia abriu espaço para designers da capital federal em 2012, mas mais uma vez o tamanho da loja e principalmente, o tamanho das caixas para alugar, foi um problema. Dessa vez, resolvido rapidamente, com a mudança de ponto. Lá, a loja firmou espaço e nome, e faz também pequenos eventos com DJs, comes e bebes e pequenas feiras. Em Brasília, são 104 caixas para aluguel.
Em um paralelo com as duas lojas, os meninos afirmam que a experiência de ambas mostrou que para abrir uma franquia é preciso que o franqueado conheça a cidade, saiba como lidar com os clientes dessa cidade e saiba também qual é o melhor ponto para abrir. Mais uma vez, vivendo e aprendendo.
Fachada da Endossa em Brasília, no momento em que recebia uma intervenção artística.
Agora, a grande questão é: para onde ir? Continuar o sistema de franquias ou expandir por conta própria? Mesmo ainda sem ter a resposta correta para a pergunta, o trio de empreendedores resolveu arregaçar as mangas mais uma vez e fez um projeto para o Shopping Ibirapuera, previsto para abrir até novembro deste ano. A aposta é que a loja seja um piloto para os próximos projetos em shoppings.
“A gente escolheu o Ibirapuera por ele ser super tradicional, não é tão longe geograficamente daqui [loja na Augusta] e ainda sim com o perfil diferente daqui, então ainda vamos ver que tipo de produtos se dão bem por lá.”, conta Gustavo.
Lá serão apenas 64 caixas para aluguel e o investimento inicial foi de 500 mil reais, mas com a demora na aprovação da reforma, esse montante está aumentando. O Ibirapuera tem alguns pequenos problemas burocráticos. O shopping trabalha até hoje com fax, uma das coisas que dificulta a vida conectada do século XXI.
Debruçados neste projeto, gastam mais tempo agora com a parte administrativa da loja e não trabalham mais de 10 a 12 horas por dia, como acontecia logo que a loja abriu. Isso dá tempo para até passear com a cachorra, como faz Gustavo, que antes de virar “rabugenta” era até a mascote da Endossa.
Cansados das opções sem graça do mercado de roupas esportivas, eles resolveram fundar a sua própria marca. A BAD RUNNING privilegia o estilo acima da performance e cria peças versáteis que podem ser usadas em vários momentos do dia.
Allan e Símon Szacher empreendem juntos desde a adolescência. Criadores da Zupi, revista de arte e design, e do festival Pixel Show, os irmãos agora atendem as marcas com curadoria, branding, vídeos e podcasts através do estúdio Zupi Live.
Anne Galante só conseguia se concentrar nas aulas quando tinha linha e agulhas nas mãos. Hoje, ao lado da irmã, Ana, ela empreende a Señorita Galante, que combina artigos de decoração, aulas de crochê e tricô online e projeto social.