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“Deixei o meu cargo de professor concursado e hoje alcanço mais de 4 mil alunos com conhecimento útil, aplicável e transformador”

Sam Adam Hoffmann - 13 jun 2025
Sam Adam Hoffmann, fundador da Investeendo.
Sam Adam Hoffmann - 13 jun 2025
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Minha trajetória como empreendedor social começou por um caminho bastante diferente do universo empreendedor: o funcionalismo público. 

Ainda muito jovem, prestei concurso para professor da rede pública de ensino do estado do Paraná e, por conta disso, tornei-me o mais novo entre os aprovados. 

Como na rede pública o critério de desempate para escolha das escolas no início do ano é a idade, eu invariavelmente acabava ficando com aquelas que os demais professores não queriam. Escolas afastadas, com altos índices de violência, pouca estrutura e muitos desafios

Em 2017, fui designado para uma escola que se destacava pelos níveis de desafio. Não havia repasse de verba para impressão de provas e trabalhos. 

Diante disso, as opções eram duas, uma pior do que a outra. A primeira seria arcar com os custos do próprio bolso, o que, para mim, estava fora de cogitação, já que eu não achava correto “pagar para trabalhar”… 

A outra alternativa seria repassar essa cobrança para os alunos – o que era ainda mais absurdo, considerando que muitos iam à escola pela merenda, que era a única refeição que tinham no dia. 

AO SUGERIR UMA ATIVIDADE EXTRACURRICULAR, VOLUNTÁRIA, NO CONTRATURNO, TIVE UMA GRATA SURPRESA

Foi nesse contexto que tive a ideia de propor algo diferente à direção: uma atividade extracurricular, voluntária, no contraturno, com uma pequena contribuição opcional para os alunos que tivessem condições de pagar.

Passei em todas as minhas turmas perguntando qual tema dentro da minha especialidade, biologia, eles gostariam de aprender. A resposta foi quase unânime. Todos queriam uma aula prática de anatomia. 

Preparei a atividade com muito carinho. A escola não contava nem com um laboratório, mas a direção conseguiu ceder uma sala que estava em reforma e organizamos tudo para receber os estudantes interessados. 

Nossa expectativa era que poucos aparecessem. Para nossa surpresa, formamos duas turmas cheias. E com os valores arrecadados conseguimos imprimir todas as provas e trabalhos dos alunos da escola até o final do ano letivo

Nessa aula especial, percebi algo que mudaria completamente minha carreira… Diferente das aulas tradicionais, nas quais o desinteresse era quase regra, naquela experiência os alunos estavam completamente envolvidos. 

E o celular, que costumava ser vilão, virou aliado: os alunos usaram o aparelho para gravar as explicações (o que era realmente curioso, já que esse conteúdo nem seria cobrado em aula). 

Ali ficou evidente para mim que o sistema de ensino precisava, com urgência, de uma transformação.

CRIEI UM NOVO PROJETO: LEVAR AULAS PRÁTICAS E GAMIFICADAS DE CIÊNCIAS PARA ESCOLAS CARENTES E VULNERÁVEIS

Decidi fazer daquela experiência pontual um projeto maior: a Iniciativa Divulgadores. 

A proposta era simples, porém ousada. Levar aulas práticas e gamificadas de ciências para escolas carentes e vulneráveis, como eventos especiais, com dinâmicas lúdicas e experiências imersivas. 

O sucesso foi imediato. O boca a boca entre alunos, professores e diretores fez com que mais e mais escolas nos convidassem. 

Chamei um amigo, o Lucas, para tocar o projeto comigo, e juntos visitamos mais de 30 escolas, conduzindo atividades que iam desde simulações de cirurgias e investigações criminais até aventuras de sobrevivência em apocalipses zumbis

Começamos 2020 com a agenda completamente tomada. Reduzi minha carga horária no concurso para apenas 20 horas semanais, de modo a me dedicar mais ao projeto. 

E foi então que, em fevereiro, tudo parou com a chegada da pandemia de Covid-19. Escolas fechadas, agendas canceladas, menos aulas, salário reduzido – e um projeto sem perspectivas de retorno. 

ENTENDI O QUANTO O SISTEMA DE ENSINO ESTÁ ULTRAPASSADO. POR QUE A ESCOLA NÃO PREPARA OS JOVENS PARA A VIDA REAL?

Nesse momento, comecei a refletir profundamente sobre finanças pessoais. Ao mesmo tempo, nas aulas remotas, os alunos relatavam as dificuldades econômicas de suas famílias. 

Foi quando tive meu segundo grande questionamento sobre o sistema formal de ensino. Já havia notado que a forma de ensinar era ultrapassada. Agora, percebia que o próprio conteúdo era descontextualizado e insignificante para aqueles jovens. 

Enquanto muitos passavam por dificuldades financeiras reais, eu seguia tentando ensinar a função do peroxissomo nas células eucarióticas… Aquilo me incomodou profundamente. Por que a escola não prepara os jovens para a vida real? Onde estão as aulas sobre finanças, política e empreendedorismo?

Com o retorno das aulas presenciais decidi retomar o projeto, mas com um novo foco. Levar educação financeira, empreendedorismo e desenvolvimento socioemocional às escolas. 

O desafio era oferecer um ensino de alta qualidade, tanto para escolas vulneráveis quanto para as mais bem estruturadas. Mas havia um problema: eu mesmo não dominava profundamente esses temas. Ficou claro que eu precisaria de um time.

NUM WEBINÁRIO DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA PARA PROFESSORES, CONHECI AS MINHAS FUTURAS SÓCIAS

Coincidentemente, naquela mesma semana, um amigo professor me falou sobre um webinário de educação financeira para professores da rede pública. Participei. 

Foi lá que conheci a Mari e a Vanessa. A forma como explicavam era clara, acessível, envolvente. Tive certeza de que precisava delas para seguir com o novo projeto. 

Mandei uma mensagem para a Mari pelo Instagram mesmo, já esperando um não. Mas para minha surpresa, ela adorou a ideia e topou na hora. Em seguida, Vanessa também se juntou ao time. E assim nasceu a Investeendo

Enquanto elas ofereciam os conteúdos e fundamentos da educação financeira, eu trabalhava em transformar isso tudo em experiências gamificadas, jogos, dinâmicas e metodologias imersivas. 

Nosso maior desafio era criar uma metodologia que oferecesse a mesma qualidade de ensino que os sistemas voltados às escolas de elite, mas direcionada ao público da escola pública. 

Desenvolvemos então nosso primeiro material: o Desafio Empreendedor, um kit gamificado baseado em um simulador analógico de mundo aberto 

Trata-se de um jogo de tabuleiro aplicável a partir dos anos fundamentais, entre 9 e 10 anos, e até o ensino médio e superior. E por ser um recurso físico, conseguíamos aplicá-lo nos mais diversos contextos.

Mais tarde veio um novo obstáculo. Como criar uma solução digital que não excluísse ninguém? 

A resposta veio com a criação de um aplicativo que não precisa de celular para ser usado. Sim, isso mesmo. Algo disruptivo e feito sob medida para o contexto das escolas públicas.

ABRI MÃO DA ESTABILIDADE DO EMPREGO PÚBLICO PARA FOCAR NA MINHA STARTUP EDUCACIONAL E NÃO ME ARREPENDO

Hoje, levamos educação financeira e empreendedora para mais de 4 mil estudantes todos os anos com a nossa metodologia. 

Atuamos também na formação de professores e organizamos a Copa Investeendo de Educação Financeira, uma gincana itinerante de finanças e investimentos realizada em escolas de Curitiba e região metropolitana. Nossa meta é alcançar 10 mil estudantes por ano até 2027.

Com o crescimento e impacto da Investeendo, tomei a decisão de me desligar definitivamente do cargo público. 

Foi uma das decisões mais emblemáticas da minha vida. De um lado, a estabilidade e o prestígio de um concurso que muitos almejam; do outro, a oportunidade de causar um impacto real e coerente com aquilo em que acredito. Escolhi o segundo caminho e não me arrependo

Os desafios agora são outros, mas minha perspectiva de vida mudou completamente. Empreender socialmente é um caminho sem volta. Depois que você começa, simplesmente não tem como retornar. 

Antes, como professor concursado, eu impactava no máximo 200 alunos por ano com conteúdos que, muitas vezes, não faziam nenhum sentido para as suas vidas. Hoje, como empreendedor, alcanço mais de 4 mil com conhecimento que é útil, aplicável – e transformador.

 

 

Sam Adam Hoffmann, 35, é professor, pesquisador, designer de experiências educacionais gamificadas e fundador da Investeendo. Doutor em Educação, é também autor do livro Introdução à Gamificação na Educação, no qual compartilha sua trajetória prática e criativa na aplicação da gamificação como ferramenta de engajamento e transformação da aprendizagem.

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