“Meu coração estava disparado e eu só conseguia pensar que ia morrer. Foi assim que paralisei bem na porta da sala de aula da academia onde trabalhava.”
É dessa forma que a treinadora física e mental Juliana Romantini, 43, descreve um dos momentos mais tensos da sua vida: uma crise de pânico aos 31 anos.
Era 2013 e ela já trabalhava há mais de dez anos na Cia.Athletica, rede com 16 academias pelo país. Além de professora de diversas modalidades e personal trainer, era gerente da unidade Anália Franco, na Zona Leste de São Paulo.
“Fui até a sala da coordenação sorrindo e cumprimentando as pessoas que passavam para ninguém perceber como eu estava. Entrei e disse para a coordenadora: ‘Não vou conseguir dar aula, estou suando nas mãos e nos pés e não consigo respirar”
Depois de conversar com algumas pessoas e fazer uma ligação para a psicóloga da empresa, Juliana conseguiu dar a aula, mas teve outra crise de ansiedade em casa.
Poucos dias depois, ela fez sua primeira consulta com um psiquiatra, que diagnosticou Síndrome do Pânico e receitou um antidepressivo e um remédio para dormir.
“Saí do consultório completamente arrasada”, diz Juliana, que resistia em aceitar aquele diagnóstico:
“Eu tinha uma vida muito feliz, já era casada, meu filho estava com um ano e meio e eu amava o meu trabalho. Como poderia ter desenvolvido uma doença dessa? Como alguém saudável poderia estar doente?”
Ela decidiu tomar os remédios porque precisava aliviar o sofrimento. Porém, não se conformou com a solução estar em uma medicação. E decidiu buscar outra forma de se livrar do pânico e da ansiedade.
“Eu não sabia como nem quando, mas eu ia parar de tomar aqueles remédios.”
Graduada em Educação Física e pós graduada em reabilitação cardíaca e grupos especiais, até aquele momento o caminho profissional que Juliana seguia era um dos mais tradicionais e bem sucedidos dentro da sua área.
Ela era gerente da academia, dava aula nos horários mais nobres, além de personal com a agenda cheia.
Mas, ao romper com a própria saúde, teve contato com uma visão integral do ser humano e acabou criando uma metodologia própria: a Prática Integral, que abarca todos os conhecimentos aos quais teve acesso e trabalha corpo e mente de forma integrada para treinar pessoas a serem mais fortes na vida e focadas nas suas realizações pessoais.
A metodologia é baseada em 8 pilares que ajudam na construção de um estilo de vida saudável e longevo (contato com a natureza, movimento, comer com qualidade, viver no agora, viver em equilíbrio, generosidade, autoconhecimento e senso de comunidade).
Em aulas no parque Ceret, em São Paulo, cursos online, na imersão Reconectar-se e em programas corporativos, Juliana já atendeu mais de 5 mil pessoas ao longo de dez anos.
“Se as pessoas conseguirem encontrar a Prática Integral antes de um médico como aquele que me atendeu, talvez entendam que não é só tomar o antidepressivo, mas sim olhar para o problema de forma integral.”
Hoje, Juliana entende que a ansiedade e o pânico foram consequências de faltas e excessos no seu estilo de vida: dormir pouco, trabalhar muitas horas, exagerar no café, na cafeína em cápsula e no energético.
“Eu não me permitia estar cansada e comecei a ‘bugar’. Tinha taquicardia na hora de dirigir, medo de sair de casa, de perder o ar e desmaiar. Aí, comecei a paralisar até que um belo dia não consegui entrar para dar aula”
Enquanto tomava os remédios que o psiquiatra receitou, ela foi pesquisar sobre o que poderia ajudá-la a se curar e mergulhou em um universo de práticas de saúde.
Indicado por uma amiga, o livro O poder do agora, de Eckhart Tolle — um best-seller das prateleiras de auto-ajuda — trouxe uma percepção sobre o viver no agora que ela ainda não conhecia e abriu portas para o autoconhecimento, área para a qual ela não dava muita importância até então.
“O livro começa com a história de um homem que teve pânico e entrou em um vazio existencial. Não me identifiquei de cara com tudo que ele falava porque eu não estava no fundo do poço, só estava confusa.”
Até que Juliana chegou num trecho que dizia: “Você não é os seus pensamentos, você é quem os observa”.
“Fiquei dias com essa frase na cabeça até que virou a chave. De fato, o problema eram os meus pensamentos aterrorizantes, que me deixavam ainda pior. Isso fazia total sentido, só que os pensamentos continuavam pulsando e me levando para um lugar de medo”
Seguindo o que dizia o livro, ela conta que começou a sentir mais o agora, principalmente por meio do contato com a natureza no sítio da família e no parque.
“Saber que eu não era os meus pensamentos não mudou tanto assim a minha ansiedade, mas me deu grandes pistas para a minha cura. Comecei a entender que eu precisava trabalhar, também, a minha mente.”
Ela já havia tido contato com algumas práticas de foco e concentração dentro da própria academia mas, para se aprofundar, foi estudar um pouco mais sobre mindfulness.
A prática de meditação ganhou popularidade com o trabalho do médico Jon Kabat Zinn, criador do Programa de Redução do Estresse Baseado na Atenção Plena, que propõe oito semanas de treinamento em mindfulness.
Em 2015, Juliana cursou um módulo da formação em Atenção Plena na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e aprendeu mais profundamente sobre a pesquisa de Kabat Zinn.
Nas mãos de uma profissional da área de Educação Física, esse conhecimento abriu espaço para pesquisar e aprender sobre a conexão corpo-mente, que acabou se tornando a base do método desenvolvido por Juliana.
“No momento da síndrome do pânico eu não entendia como aquele desequilíbrio podia acontecer, já que meu corpo estava são. Mas, estudando bastante sobre mindfulness e outras práticas, pude perceber que faltava essa conexão entre corpo e mente”
Ela fala sobre o valor dessa descoberta. “Me abriu um leque muito grande de percepção de saúde e vem me ajudando a trabalhar até hoje com as pessoas que chegam a mim.”
Enquanto o mindfulness trouxe uma visão de treinamento mental, um curso de formação com Nuno Cobra Júnior e Renato Cobra, filhos de Nuno Cobra (treinador que acompanhou Ayrton Senna em sua preparação física e mental por 11 anos) trouxe um novo olhar sobre o treinamento físico.
Foram dois anos (2013-2014) de aulas em um bosque do Parque Ibirapuera.
“Ali eu aprendi muitas coisas, mas, principalmente, sobre a importância do sono, a atividade física em equilíbrio e o contato com a natureza. Eu trabalhava no subsolo de um shopping, sem saber quando anoitecia, então estar naquele lugar era mágico”
Ao conhecer mais profundamente novas práticas de saúde, Juliana começou a praticar na sua própria vida o contato com a natureza, o movimento equilibrado, a alimentação consciente e foi desenvolvendo um novo estilo de vida.
“Passei a agradecer intencionalmente todas as manhãs que estava no parque, a colocar os pés na terra todos os dias e a mentalizar os meus objetivos. E foi assim que consegui deixar de tomar os remédios, com muito treinamento físico e mental.”
Conforme essas novas aprendizagens ocupavam espaço na sua vida, Juliana começava a sentir algumas desconexões com o trabalho na academia.
“Quando entendi o poder de transformação dessa conexão corpo-mente, o trabalho que me nutria há mais de uma década começou a não fazer mais sentido. Minhas ideias e minha percepção de saúde já não cabiam mais na rotina de uma academia”
Depois de 16 anos, ela decidiu então sair da Cia Athlética. “Ali já não era mais o meu lugar de expansão.”
Por escolha dela, a transição foi gradual. Primeiro, Juliana deixou o cargo de gerente e ficou apenas como professora. Foi diminuindo o número de aulas aos poucos até que parou.
“No dia em que pedi demissão, chorei embaixo do chuveiro. Por mais que tenha sido uma decisão pensada, foi muito difícil. Eu tinha percebido que as minhas ideias já não colaboravam com o caminho que aquela empresa queria seguir, mas o meu ego ainda não estava convencido”
Naquele emprego ela tinha conquistado reputação, benefícios como férias e 13º, além de estabilidade profissional. “Como deixar tudo isso?”
Nesse momento, Juliana já tinha começado a dar aulas no parque para alguns grupos, aplicando esses novos conhecimentos ao treinamento.
Era o início da Prática Integral, que segue sendo incrementada com novos conhecimentos como a Cultura de Movimento (práticas que associam o movimento a atividades do dia a dia e geram um estilo de vida mais saudável) e a calistenia.
“Não existe apenas uma prática que possa desenvolver o ser humano. Então, um treinamento de equilíbrio, malabares, uma percepção de relaxamento, uma meditação, um olhar filosófico sobre a mente e sobre o corpo são pontos que vão sendo integrados como peças de um grande quebra-cabeça que não termina nunca”
O que não muda, segundo ela, é a essência da metodologia, que busca levar os oito pilares para o estilo de vida das pessoas e, assim, ajudá-las a ter mais saúde e longevidade.
“Eu construí um novo estilo de vida pra mim e um novo propósito: disseminar práticas de saúde física e mental para grupos, formando grandes comunidades de bem viver.”
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