Draft ano 2 – A Noocity vai bem. O CEO quase teve uma estafa, mas se recuperou…

Simone Tinti - 27 set 2016Pedro, Rafael e Laís, no escritório-quintal da Noocity. Para eles, é como se o tempo não tivesse passado.
Pedro, Rafael (que enfrentou uma crise de ansiedade e quase teve uma estafa mental) e Laís, no escritório-quintal da Noocity.
Simone Tinti - 27 set 2016
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Pela segunda vez, o Draft chegava ao Beco do Batman, em São Paulo, para uma entrevista na sede e showroom da Noocity. É ali, atrás de um portão discreto, em um conhecido ponto turístico da cidade, que fica o escritório brasileiro da empresa (o outro é em Portugal) especializada no desenvolvimento e venda de equipamentos para hortas urbanas.

A conversa seria novamente com o arquiteto Rafael Loschiavo, 33, responsável pelas operações no Brasil. Ao nos sentarmos, ele estava com o computador ligado e tinha lido a primeira reportagem sobre a Noocity, publicada no Draft há quase um ano atrás. “Foi legal relembrar e perceber como está tudo ainda tão vivo. A gente não parou desde então, e não parece que já faz quase um ano”, diz. Ao nosso redor, tudo estava calmo e silencioso. Mas este período, como conta Rafael, foi de muito aprendizado e também algumas águas turbulentas.

Há um ano, o Draft contou a história da Noocity (clique na imagem para ler a reportagem).

Há um ano, o Draft contou a história da Noocity (clique na imagem para ler a reportagem).

Seja pessoalmente, seja em relação à empresa, muita coisa mudou. “Hoje, tenho mais experiência e enxergo melhor o caminho. Também estou mais tranquilo. Passamos algumas dificuldades que serviram para fortalecer a empresa e nos dar mais direção”, conta.

Empreender numa startup de ecologia urbana não é fácil, pois não é um caminho conhecido e que baste seguir: é preciso criá-lo. E é importante manter-se inteiro no processo.

No caso de Rafael, o excesso de ansiedade e o ritmo intenso de trabalho quase o levaram a uma estafa mental — isso mesmo. Mas, passado o susto, tudo entrou nos eixos. Ele diz que a empresa está mais estruturada, e a equipe, mais calejada:

“Hoje, estamos mais tranquilos e focados. Os resultados vão aparecendo e, com isso, acabamos ficando menos assustados”

No Brasil, além de Rafael, está Laís Andrade, enquanto em Portugal estão os sócios José Ruivo, Leonor Babo e Pedro Monteiro. Algumas novidades ajudaram nessa reorganização da empresa. Uma delas foi a chegada de um consultor estratégico, que os sócios conheceram durante uma mentoria em Washington, Estados Unidos, em um evento organizado pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).

Acima, uma Growbed tamanho médio contendo 5 pés de tomate, 3 de berinjela, 3 de pimentão, 4 alfaces, 5 radites, 2 couves, 2 rúculas, 7 salsinhas, 1 manjericão comum e 4 pezinhos de manjericão roxo.

Acima, uma Growbed tamanho médio com 5 pés de tomate, 3 de berinjela, 3 de pimentão, 4 alfaces, 5 radites, 2 couves, 2 rúculas, 7 salsinhas e 5 de manjericão.

Para atingir a todos, a consultoria é feita em reuniões semanais, por Skype. Além da consultoria, a Noocity agora também é uma das startups do Braskem Labs, um programa de incentivo a empreendedores bancado pela multinacional. Rafael já sente os impactos do programa.

“Ao participar dessas mentorias, a gente consegue desmistificar muita coisa. Percebemos que o empreendedorismo não é um bicho de sete cabeças. Ele é, sim, um novo mercado, mas temos tudo à mão. Vemos que existe um conhecimento padrão que todo mundo deveria ter. A gente percebe que os outros empreendedores solucionam do mesmo jeito: tem que sentar, focar, ter uma meta e trabalhar”, conta.

A ARTE DE CRESCER NA CRISE

Vender bem também ajuda — e a Noocity tem conseguido enfrentar bem este desafio. Um ponto importante para conseguir bons resultados foram as parcerias com revendedores em todo o país, em cidades como Porto Alegre, Maceió, Rio de Janeiro, Florianópolis e Belo Horizonte. Mais do que jardineiros, Rafael conta que os revendedores entendem o conceito de agricultura urbana que envolve o trabalho da Noocity. A startup também trabalha com escolas, hortas públicas, condomínios e restaurantes (como o Chez Vous, no bairro de Moema), mas é com os revendedores que alcança mais gente. Ele descreve o que é este novo mercado:

“Tem muita gente transformando suas vidas, deixando empregos tradicionais, e elas encontram na instalação de horta urbana um caminho novo. Queremos trazê-las para o nosso negócio”

O mercado também está se abrindo, aos poucos, na América Latina. Depois de conceder uma entrevista para a CNN Español, Rafael conta que surgiram interessados nos produtos Noocity em países como Colômbia, Argentina e Chile. A aproximação é positiva, ainda que nenhum negócio tenha sido fechado ainda.

Montagem da horta do restaurante Chez Vous, um dos parceiros da Noocity.  

Montagem da horta do restaurante Chez Vous, com as “camas” e equipamentos da Noocity.

O faturamento, atualmente, é de cerca de 40 mil reais por mês. “Já conseguimos aumentar a receita, mas ainda não chegamos a um crescimento ordenado”, afirma Rafael.

O principal produto da startup continua sendo a Growbed, semelhante à tradicional “jardineira” para hortas, mas com um aparato tecnológico que faz com que não seja necessário regar as plantas todos os dias.

Cada peça tem um tubo de alimentação que faz o escoamento, além de um espaço para a oxigenação das raízes e de um reservatório para recolher a água da chuva. Esta inovação de engenharia é o diferencial da Noocity até hoje.

Os produtos (que podem ser consultados aqui) custam de 89 reais (a Growpocket pequena) a 799 reais (a Growbed grande). Lá no site, também continuam disponíveis as fichas de cultivo com dicas de como plantar e manter diferentes tipos de hortaliças.

NEM TODOS OS PLANOS SE REALIZARAM

Entre os planos da Noocity há um ano estava a ampliação do portfólio. Mas eles colocaram um “pé no freio”. Lá atrás, um dos objetivos era levantar recursos para desenvolver uma composteira e também um secador de alimentos. “A ideia ainda existe, as peças estão sendo desenvolvidas e aprimoradas, mas não queremos nos afobar. Estamos estruturando bastante coisa e buscando acordos com fornecedores”, conta Rafael. Na Europa, esses planos estão um pouco mais adiantados: lá, uma campanha arrecadou 6 500 euros para a produção da composteira (já em andamento).

Desacelerar planos não significa, porém, abrir mão deles. Em um futuro próximo, a Noocity quer conseguir mais revendedores e quer ter representantes nas principais capitais da América Latina. Rafael acredita no crescimento do setor. “A gente recebe pedido de gente que viu uma horta urbana na novela ou no Globo Repórter. Acredito que seja algo sólido e que só tende a aumentar.” Ele também enxerga que o momento atual, de instabilidade econômica, pode facilitar a mudança de paradigmas: “A crise está muito ligada a grandes empresas e grandes indústrias. Assim, as pessoas se abrem mais e apostam em iniciativas que não vêm de multinacionais”.

Em uma coisa que o tempo, definitivamente, ajudou Rafael: trouxe serenidade.

“Não adianta querer fazer tudo hoje. Assim, você não vai conseguir trabalhar amanhã. É preciso estabelecer uma disciplina e focar no que dá resultados positivos”

Ele prossegue: “Um ano atrás, a gente travava mais diante dos problemas. Hoje, estamos mais fortalecidos: os problemas acontecem sempre, mas todo dia é preciso almoçar e jantar. Se você deixar de comer, só vai piorar o problema”.

O que não mudou, a seu ver, é a persistência. “Lembro que, na primeira entrevista, eu falei no vídeo sobre como cada tijolinho é importante. Hoje vejo todos esses nossos trabalhos bem-feitos. Também continua a persistência de acreditar em montar uma empresa não apenas visando ao lucro, mas sim em melhorar a qualidade de vida das pessoas e das cidades”, diz. O desafio continua grande, mas as sementes certas estão sendo plantadas e regadas. Esperar também faz parte da vida.

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