Elas se especializaram em colocar arte nas paredes a preços amigáveis: esse é o diferencial da Kola

Isabela Mena - 11 mar 2016Elisa e Taís, foram de room mates a sócias e fundaram a Kola, um e-commerce de papel de parede e adesivos artísticos.
Elisa Rocha e Taís Barbosa, foram de room mates a sócias e fundaram a Kola, um e-commerce de papel de parede e adesivos artísticos.
Isabela Mena - 11 mar 2016
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A história da Kola, e-commerce de papel de parede e adesivos de parede assinados e curados, tem semelhanças com seu conceito artístico. Elisa Rocha, 34, e Taís Barbosa, 36, eram apenas conhecidas (Elisa tinha frilado para o portal de tecnologia em que Taís trabalhava) quando as duas resolveram dividir um apartamento. Decoraram o novo lar, viraram amigas, mudaram de casa, largaram emprego e criaram em sociedade a Kola — não necessariamente nessa ordem.

Designer e ilustradora há 14 anos, Elisa tinha acabado de voltar de Barcelona (morou lá entre 2005 e 2006), onde estudou ilustração e trabalhou com e-commerce em um estúdio alemão, o Machinas. Da época do boom da internet no Brasil, em seu currículo constam o portal iG e o time online de agências como Wunderman, WMcCann, Africa, Leo Burnett.

Taís é publicitária e também pegou o bolha da internet, mas fez um caminho diferente: ficou por mais de dez anos na mesma empresa, na área de marketing de um portal de tecnologia que teve origem no trabalho de conclusão de graduação de seu (agora ex) chefe. No primeiro ano (1997), a internet era discada; no último, ela atendia os principais fornecedores ao lado dele. “Participei desde o começo, muito de frente e foi inspirador, serviu como grande exemplo de como empreender no Brasil e manter uma empresa sem investimento”, conta ela.

Desde essa época, Taís tinha claro que não desejava trabalhar em grandes empresas mas, sim, abrir o próprio negócio, algo atrelado à internet. Já Elisa, depois de dois anos na Leo Burnett, entrou na leva de demissões da agência (e do mercado em geral), em 2008. Com isso, tornou-se frila, como conta:

“Eu ficava um mês em cada lugar e não me via mais seguindo aquele caminho. Gostava do trabalho, mas não concordava com a dinâmica e não sentia que construía algo”

Mas o click mesmo, e para ambas, veio com a proximidade dos 30 anos. Elisa frilava para uma agência na qual trabalhava demais, virando noites. “Pensei: não quero mais fazer isso.” Taís, dois anos mais velha, se deu um ultimato: “Ou tomo uma decisão e empreendo agora ou vai ficar mais difícil a cada ano que passa”, conta. “Por melhor que fosse o relacionamento com meu chefe, não me via mais lá, queria fazer algo do meu jeito.”

AGORA OU NUNCA

E foi o que fez em 2010. Ainda como projeto paralelo, Taís definiu que abriria algo ligado à decoração, gosto que tomou quando foi morar sozinha pela primeira vez, e, colocando os conhecimentos de marketing e internet em prática, definiu o primeiro parâmetro para o novo business: teria que ser algo sob demanda, para que não tivesse trabalho com gerenciamento de estoque nem de fluxo de produto. Teve a ideia de vender adesivos e papéis de parede adesivos: estava criado o modelo de negócio.

Suriani é um dos artistas que desenvolve adesivos de parede para a Kola. Este custa 119 reais.

Suriani é um dos artistas que desenvolve adesivos de parede para a Kola. Este bulldog custa 119 reais.

“Havia pouquíssimas empresas na época que vendiam adesivos e papel de parede era apenas importado, em uma só loja e com desenhos muito básicos. Como eu era heavy user, vi aí uma oportunidade. Com um braço forte de design de produto, percebi que poderia desenvolver coisas diferentes”, conta ela.

Taís, então, pediu à amiga Elisa um orçamento para as telas de e-commerce e para os desenhos do site. Nem chegou a orçar com outras pessoas: em vez de cobrar pelo trabalho, Elisa entrou como sócia. O investimento inicial, gasto em tecnologia e com fotos de produtos, foi cerca de 10 mil reais, das economias de ambas.

Durante o primeiro ano (o site for ao ar em junho de 2011), elas tocaram a Kola paralelamente a suas ocupações anteriores. Foi aqui, com a ajuda do Sebrae, que fizeram um business plan (eles forneceram material simples, para que elas usassem como base), e se dividiram entre tirar as fotos, construir o site e lidar com fornecedores — essa parte, especificamente, demandou muita paciência e fôlego. Taís conta que, mesmo diante de uma apresentação formal da empresa e do plano de negócios, muitos fornecedores que não as levavam a sério.

“Um fornecedor falou: ‘Compra um maquininha e fica brincando de imprimir os desenhos em casa’. Foi uma fase bem difícil”

Difícil. Mas essa seria só uma das muitas provações que novos negócios, e empreendedoras de primeira viagem, encontram. Elas fizeram o que se deve fazer, persistir, até que encontraram a pessoa certa, um fornecedor que entendeu a proposta da Kola: produzir adesivos artísticos, às vezes cheios de recortes. “Nosso fornecedor é praticamente nosso sócio”, dizem as duas.

UMA CORRIDA DE OBSTÁCULOS PARA COLOCAR O NEGÓCIO EM PÉ

A dificuldade em fazer o produto físico era só uma etapa. Gerar o produto no ambiente online também teve suas particularidades. “Uma coisa era falar de decoração. Outra, de decoração com personalidade criativa”, conta Elisa.

Para o negócio da Kola dar certo, era preciso transformar em realidade o que elas conceituaram lá no início, ou seja, mostrar o valor de haver uma curadoria na escolha das imagens e no fato dessas imagens serem assinadas por artistas. A ideia de Elisa foi chamar artistas e ilustradores para participar do site, como colaboradores, e para isso ela ativou a própria rede de conhecidos. Também visitou, com Taís, eventos como o Pupunha Ink, uma reunião mensal de ilustradores, que acontece em São Paulo. Uma vez contactados, os artistas desenvolvem adesivos geralmente com exclusividade para a Kola, que ficam expostos no site, e o artista recebe royalties a cada venda.

Na linha de adesivos de parede da Kola há kits (de coração, âncoras, bolinhas) a 79 reais; cabeceiras que vão de 99 a 158 reais (dependendo do recorte, mais ou menos trabalhado) e mapas, por 199 reais, entre os 15 temas existentes.

Na linha de papel de parede adesivo (também com 15 temas), o preço médio é 299 reais por dois rolos (que cobrem até 3 metros quadrados de área). Há também a linha de adesivos para azulejo, a maioria dos quatro temas a 79 reais e pôsteres e quadros (seis temas), a partir de 39 reais.

Papel de parede da Kola, assinado por Cyla Costa: 299 reais cobrem três metros quadrados.

Papel de parede da Kola, assinado por Cyla Costa: 299 reais cobrem três metros quadrados.

“A parceria com artistas é uma forma de evidenciar novos artistas e de misturar seus trabalhos com o universo da decoração. No contrato, eles recebem por venda. Grande parte acabou virando amigo”, diz Elisa. Dois deles, é verdade, se tornaram um pouco mais do que isso: Taís casou-se com o ilustrador Raphael Sonsino e, Elisa, com o designer David Bergamasco, do Estúdio Colletivo.

Os ilustradores Cyla Costa, Zé Otávio, Fábio Corazza, Adri Stolfi e o Estúdio Colletivo participaram da Kola desde o começo. Alguns entraram com desenhos que já tinham, outros criaram especialmente para elas. “A Cyla Costa fez todo um estudo de padronagem de papel de parede para a Kola, com muitas cores e desenhos. Os produtos dela saem bastante e têm mais a ver com clima de decoração tradicional”, afirma Elisa. O comentário dela é melhor entendido dentro do contexto comercial de um negócio: a arte, o grande diferencial da marca, não vendeu tão bem no começo.

HORA DE ABRAÇAR A REALIDADE

As sócias não entendiam muito como o mercado funcionava, quem é este público comprador de papel de parede. Também não tinham muito clara a noção de que, no varejo, há demandas mais convencionais. “A Cyla tem muito ver com isso porque ela já entrou com olhos comerciais”, conta Taís. A experiência da artista acabou servindo como o fio condutor que “salvou” o negócio do fracasso daqueles que sonham bonito mas se perdem ao perceber que a realidade é um pouco diferente do que foi idealizado. Taís fala dessa transformação:

“Nunca vamos deixar de ser artísticos, mas somos um varejo. Só quando alinhamos a parte de design com a parte comercial, o negócio começou a gerar receita”

Outra faceta dessa questão mais comercial aconteceu espontaneamente e foi muito bem-vinda: o B2B, ou seja, trabalhar para empresas fazendo ambientação criativa, um mercado que se mostrou financeiramente atrativo para a Kola. Elas ainda não tinham pensado nesse nicho, que surgiu por meio de um pedido no site. “O marketing de uma empresa entrou em contato com a gente e perguntou se fazíamos projetos personalizados, enviromental design, que é fazer uso do branding para transformar um espaço de trabalho. É algo muito importante do nosso negócio”, diz Taís.

Parte do faturamento vem de trabalhos para empresas, como o desenvolvido pela Kola para a Rakuten, criando um adesivo de parede exclusivo.

Parte do faturamento da Kola vem de trabalhos desenvolvidos para empresas, como este para a Rakuten, no qual a concepção e produção do adesivo foi feita sob medida.

Elas tocam tanto o lado artístico quanto o comercial e o B2B, costurando tudo dentro da proposta da marca, para que faça sentido. Às vezes, estão apenas produzindo brindes. “Se você tem uma empresa e quer que ela dê frutos você tem que analisar todas as oportunidade e não dizer ‘Não faço’. Sem, claro, perder o foco na sua proposta inicial”, fala Elisa.

No primeiro ano de operação, a Kola fez mais projetos para empresas do que vendas pelo site e isso foi o que sustentou o e-commerce e deixou o negócio redondo. Hoje, elas já caminham com todos os geradores de receita.

DIVIDIR E SOMAR PARA CRESCER

Outro desafio, inerente a qualquer e-commerce, é levar as pessoas para o site. “Descobrimos que teríamos de fazer um novo tipo de trabalho, que é o branding e a construção de conteúdo. A Taís começou a mandar emails para alguns blogs sugerindo que escrevêssemos posts sobre decoração, citando a Kola, e eles toparam”, conta Elisa. “Todo o universo que construímos sobre conteúdo foi tomando forma. Dávamos exemplos do que as pessoas poderiam fazer com os nossos produtos.”

Taís fala que a ideia de escrever para blogs de decoração foi inspirada em outros e-commerces que o faziam porque não queriam (ou podiam) investir em AdWords. “Sempre tentamos fazer com um custo baixo. Tivemos experiência com Google e Facebook mas é para quem tem investimento”, diz.

Hoje, a Kola tem parceria com o site Idea Fixa e com o blog Achados da Bia e já publicou posts também no Hypeness e no Brainstorm 9. Outra parceria, que já dura três anos, é com a Oppa: todos os adesivos e papéis de parede da loja de móveis de design são da Kola. “Produzimos estampas que eles mesmos criam e também fazemos coleções especiais, assinadas por nós, que só vendemos no site deles”, diz Elisa. Taís conta que essas ações não só aumentaram o fluxo no site como também fizeram com que elas aumentassem o portfólio de produtos. “É um incentivo ter canais para fazer lançamento e para dar ideias de decoração às pessoas de como usá-los”, diz.

Elas acreditam que começaram a loja em uma época boa para empreender com adesivos para decoração. Há também o fato de seus produtos serem acessíveis financeiramente, principalmente para jovens.

Depois de dois anos funcionando na casa de Taís (quando Elisa já tinha se casado e Taís ainda morava sozinha) elas levaram a Kola para uma sala, em um prédio comercial no bairro de Moema, na capital paulista. Quando iniciaram o negócio, elas tinham se preparado para (apertando as economias pessoais) aguentar dois anos até que pudessem fazer uma retirada financeira que as sustentasse. Mas, apesar das dificuldades, a empresa prosperou e após seis meses de operação elas já conseguiam faturar o suficiente. Por isso, elas dizem que foi natural deixar o trabalho anterior e encarar o trabalho na Kola full time. “Quando vimos, já estávamos fazendo projeto para empresas grandes. Uma coisa foi puxando a outra, de uma forma tão orgânica que até assusta quando a gente conta”, diz Elisa. É, mas colou.

DRAFT CARD

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  • Projeto: Kola
  • O que faz: E-commerce de papel de parede e adesivos de parede assinados e curados
  • Sócio(s): Elisa Rocha e Taís Barbosa
  • Funcionários: 2 (as sócias)
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: junho de 2011
  • Investimento inicial: R$ 10.000
  • Faturamento: NI
  • Contato: (11) 2362-3674
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