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Em “A Ponte”, discussão familiar levanta debate sobre respeito às diferenças e empatia

Giovanna Riato - 28 fev 2019
Peça em cartaz em São Paulo traz as atrizes Bel Kowarick, Débora Lamm e Maria Flor no papel de três irmãs que se reencontram (foto: Flávia Canavarro).
Giovanna Riato - 28 fev 2019
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Estar na casa da família depois de adulto e sentar à mesa com os irmãos para conversar. A partir deste ato banal, nasce a narrativa de A Ponte, montagem teatral feita pela primeira vez no Brasil a partir do texto do autor canadense Daniel Maclvor. A peça já foi apresentada em Belo Horizonte e, até 25 de março, está em cartaz em São Paulo, no Centro Cultural Banco do Brasil. A história é centrada no reencontro de três irmãs que têm personalidades completamente diferentes e voltam para a casa onde foram criadas para encarar um problema compartilhado: a perspectiva da morte da mãe.

Na cozinha da residência que já foi o lar de cada uma delas, as personagens debatem pontos de vista, discutem crenças, revisitam suas histórias e tentam resolver diferenças. “O que me atraiu no texto foi esse potencial de gerar identificação com todo mundo que tem uma família e, vez ou outra, já encarou seus conflitos com ela”, diz Bel Kowarick, que dá vida a Theresa, a irmã mais velha, uma freira que vive retirada e imersa nas próprias crenças.

Na peça, ela encara uma série de discussões com Agnes, uma atriz fracassada e beberrona, interpretada por Débora Lamm. A mais jovem das irmãs é Louise, representada por Maria Flor e a única que ainda mora na casa da mãe, mas vive desconectada da realidade, mergulhada em uma maratona de seriados na televisão.

CRISE FAMILIAR E RESPEITO ÀS DIFERENÇAS

História trata de temas densos com leveza, sem drama em excesso.

A história é sobre o esforço da família, há muito tempo fragmentada, para voltar a se reunir, resolver seus problemas e lidar com a morte iminente da mãe. “As três são muito diferentes umas das outras e a peça mostra o esforço delas para chegar a um consenso sem que uma precise impor seu pensamento sobre a outra. É sobre respeito, sobre passar por cima de algumas coisas porque o amor é maior do que esse distanciamento”, diz Bel. Ela entende a narrativa como uma espécie de microcosmo da disputa constante e da polarização que o mundo encara atualmente. “Sem ser óbvio, o texto traz um pouco desta reflexão”.

Para a atriz, é interessante notar essa relação familiar tão comum. “No fim, não importa quem você se tornou fora de casa, quando você senta na mesa ainda é a irmã mais velha. Muitas vezes a sua avó ou tia nem mesmo entendem com o que você trabalha, se é ou não bem-sucedida”, brinca Bel, que optou por fugir do estereótipo da freira enclausurada e séria para interpretar sua personagem, que é bem humorada e capaz de arrancar risos da plateia em algumas cenas, apesar do tema denso da história.

“Quando li o texto original imaginei essa mulher solar, feliz. Quis fugir da imagem fechada, sisuda”, conta. Essa leveza e certa comédia também aparecem nas outras personagens da história. Assim como na vida, no palco em A Ponte ninguém se define por apenas uma característica: tem drama, mas tem graça.

COMO IMPORTAR UM TEXTO TEATRAL DO CANADÁ PARA O BRASIL

Bel conta que a ideia de montar a história no Brasil veio da atriz Maria Flor. “Ela assistiu à peça fora do país e se encantou com a narrativa focada em mulheres que se ajudam e amadurecem ao longo da história”, conta. “Quando ela me falou, fomos atrás de produzir e tornar viável a montagem local”, diz.

A história inteira se passa na cozinha da casa. Ao fazer a montagem brasileira, o diretor Adriano Guimarães, que assina também o cenário em parceria com Ismael Monticelli, optou por criar um cômodo lúdico, todo feito de objetos vermelhos, algo que distancia o espaço de uma cozinha da vida real. “A ideia dele foi estabelecer um contraste entre o realismo do texto e a fantasia da peça, do teatro”, conta Bel.

Um detalhe aparece como pano de fundo durante toda a narrativa: os blocos de recados Post-It ®. Na história, a mãe acamada usa os papéis de recado para se comunicar com as filhas. “É interessante porque isso já estava no texto original e demoramos para notar que poderia ser uma possibilidade de parceria para viabilizar a peça. É algo já tão inserido no cotidiano que nem percebemos como um elemento de marca”, analisa Bel.

Depois que se deram conta da presença tão clara do produto na narrativa, os realizadores conversaram com a 3M, fabricante da marca Post-It®, que então entrou como patrocinadora da peça via ProAC, lei estadual de incentivo à cultura. A atriz concorda que o slogan da marca, Ciência Aplicada à Vida, se encaixa na história com perfeição. “Ali o Post-It surge como algo que permeia a história, um recurso que faz parte da vida das pessoas e, por isso, não chama a atenção”.

Bel diz que, por tratar de um tema tão comum e democrático quanto os conflitos familiares, A Ponte tem tido aceitação grande da audiência. “Vemos gente de todas as idades na plateia, pessoas que assistem uma vez e depois voltam com a família”, diz. Depois da temporada em São Paulo, a peça tem como destino certo Brasília e, em seguida, Rio de Janeiro.

 

A Ponte
Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo
Rua Álvares Penteado, 112, centro
Sexta, Sábado e Segunda às 20h
Domingo às 18h
Ingressos: 30 reais | www.eventim.com.br

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