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Empresa ajuda grandes corporações a quebrarem resistência para colocarem em prática novas demandas de inovação

Maisa Infante - 3 ago 2022
Gabriela Bonotti, sócia-diretora do Quintessa. (Foto: Divulgação)
Maisa Infante - 3 ago 2022
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De que forma as grandes corporações podem inovar em um mundo em emergência climática, com as mazelas sociais expostas, e uma geração que já coloca a sustentabilidade à frente das suas decisões? 

Para empresas maiores, esta resposta não é tão simples – e é aí que entra o Quintessa, ecossistema de soluções empreendedoras e inovadoras para os desafios sociais e ambientais centrais da sociedade. A aceleradora ajuda empresas a se aproximarem destas questões, além do desenho e implementação de medidas que vão de encontro aos desafios e metas ESG. Gabriela Bonotti, sócia diretora do Quintessa, explica:

“O trabalho das áreas de pesquisa e desenvolvimento das empresas não está sendo suficiente para prover todos os avanços e inovações sociais e ambientais que são necessários para que elas de fato evoluam, principalmente pelo grau de maturidade que nos últimos dois anos a gente entendeu sobre o tema socioambiental, que foi o boom do ESG.”

O Quintessa foi fundado em 2009 como um instituto para fomentar empreendedores que tivessem algum tipo de impacto social e ambiental em seu core business. Em 2017, o instituto tornou-se uma empresa focada em acelerar negócios de impacto e startups e, em 2019, começou a operar um novo pilar, que é o relacionamento com as grandes empresas. 

Hoje, fazem parte do portfólio companhias como Grupo Fleury, Braskem, Itaú e Ambev.

Na entrevista a seguir, Gabriela fala sobre os desafios de atuar junto a grandes corporações e como elas estão lidando com as novas – e cada vez mais urgentes – necessidades de inovação. 

NETZERO: Por que as empresas estão buscando a terceirização da inovação?

GABRIELA BONOTTI: Estamos vivendo o boom do ESG, que não é algo novo, mas um ‘rebranding’ da sustentabilidade, um tema que está aí há 10 anos e nos últimos dois anos ganhou uma nova organização, com outra comunicação. Mas se trata do mesmo assunto, que ganhou muita relevância e repercussão internacional. E o P&D das empresas não está dando conta de prover a evolução que elas precisam para bater as metas que elas próprias criaram. 

Como o Quintessa consegue ajudar essas corporações?

Temos ajudado de 3 principais formas. A primeira é com inovação e novos negócios, que passa pela criação de novos produtos e serviços, novas formas de se relacionar com o cliente, e os stakeholders de uma forma geral. O Grupo Fleury, por exemplo, um dos nossos parceiros, emitiu no ano passado debêntures atreladas às metas ESG. Uma das metas é ampliar o acesso à saúde de qualidade para pessoas das classes C, D e E , que é um novo público para eles, já que o grupo se estabeleceu na classe A. Nós vamos ajudá-lo nessa missão.

A segunda forma de ajudar é com a melhoria de desempenho nas práticas ESG, já que nossos programas também apresentam startups que trazem soluções para que elas avancem em práticas como consumo de água, eficiência energética, diversidade, resíduos. Na aceleradora 100+ da Ambev, por exemplo, temos o case da TRC Sustentável, startup que implementou um sistema de gestão de água que resultou em 1,5 milhão de litros de água economizados naquela planta e gerou um ganho financeiro de R$ 70 mil.

A terceira forma de ajudar é com a responsabilidade social e filantropia corporativa. Há um espaço de inovação para os institutos e para a área filantrópica das empresas, principalmente na atuação do entorno de fábricas. Acabamos de finalizar o projeto Ecco Comunidades, com o Instituto BRF, em que aceleramos 8 negócios e desenvolvemos cinco pilotos em relação a perdas e desperdício de alimentos em cinco municípios onde a atuação da empresa é relevante. Tivemos ótimos indicadores e destinação de recursos para negócios de impacto que trazem soluções inovadoras. 

Como a ajuda do Quintessa funciona na prática?

Sempre começamos entendendo quais são as metas ESG da empresa ou os compromissos já assumidos. Algumas empresas já estão evoluídas no conhecimento dos desafios sociais e ambientais da sua operação. Nesses casos, fazemos primeiro uma imersão na realidade da empresa para entender compromissos e desafios. Abrimos, então, uma chamada para as startups se inscreverem dentro dos temas que vamos comunicar. Fazemos toda a seleção das startups, o que costuma durar três meses.

Temos uma régua própria de análise de negócio e de impacto e aí somamos uma terceira régua, que é a adequação aos desafios do parceiro. No caso da BRF, apresentamos 16 startups que, no nosso crivo, são sérias em termos de compromisso com o impacto. E os executivos deliberaram quais seriam as 8 que participariam do programa. A última etapa é bolar para cada empresa o seu próprio programa de aceleração corporativa ou implementação de pilotos, ou ainda os dois juntos. 

Qual a diferença entre aceleração corporativa e piloto?

O Quintessa trabalha só com a aceleração dos negócios, só pilotos, ou uma fase inicial de aceleração como um filtro para chegar nos melhores pilotos. A aceleração é mais focada nas metas de médio e longo prazo, com tempo para desenvolver novos negócios e pegar inovações mais disruptivas, ainda que estejam em fase mais inicial. Os pilotos acabam entrando nas metas já estabelecidas porque é mais assertivo, já que são startups mais maduras que vão implementar sua solução dentro da operação daquela empresa. 

Esses programas têm contrapartida financeira? Há garantia de negócios entre as startups e a empresa? 

No caso dos pilotos já existe uma contrapartida financeira. O Quintessa entra pra ajudar a desenhar escopo, fazer diagnóstico, aliando nossa visão e experiência. Mas é um piloto, ou seja, é um projeto pequeno. Se gerar resultados, abre-se espaço para um relacionamento comercial mais robusto. 

No caso da aceleração, o programa ajuda as startups e coloca os dois em contato e, quem sabe, em médio prazo, gera uma sinergia de negócios entre eles.  

O Quintessa trabalha com qualquer tipo de empresa ou há restrições?

Um dos nossos diferenciais é não escolher só as top five de sustentabilidade do Brasil. Queremos trabalhar com todo mundo porque só as top five não vão gerar as transformações que precisamos para evoluir como país e como planeta. Então, todo mundo tem que colaborar. E pra todo mundo colaborar precisamos aceitar que alguns parceiros com os quais vamos lidar tem sua área que gera impacto negativo, onde ele poderia ser melhor, mas não está disposto neste momento a evoluir naquela questão.

Não queremos trabalhar só com quem já está nota 10 no ‘B Corp’. Queremos ajudar todo mundo a evoluir, mas não queremos quem esteja a fim fazer greenwashing e usar nosso programa só como chamariz. Isso seria usar o nosso programa para manipular o sistema e continuar a prática já existente. Mas aceitamos as empresas que estão na jornada, sendo transparentes e reais em relação ao estágio em que se encontram.

Grandes empresas costumam ter processos mais burocráticos e engessados que podem barrar a inovação. A abertura com as startups traz mais aceleração para conseguir resolver questões?

É exatamente isso. Mas os bloqueios ainda existem. As áreas de sustentabilidade, comunicação, marketing e responsabilidade social corporativa, normalmente responsáveis pelas metas ESG das companhias, viraram nossas aliadas para acelerar esses processos. Elas estão ajudando o Quintessa e as startups a quebrarem essas resistências, que ainda existem. Sempre tentamos vender para grandes empresas nos últimos anos e sempre foi muito desafiador. De dois anos para cá, começamos a ver mais abertura do mercado a tomar risco de contratar startups mais iniciais. Talvez porque, hoje em dia, o risco socioambiental de não evoluir passou a ser maior do que o risco de apostar em soluções emergentes.

Estão surgindo mais startups ESG no cenário nacional? 

Ainda é um cenário inicial. Em 10 anos de atuação do Quintessa, mapeamos 4.500 startups e negócios de impacto. Eu acho pouco para o potencial que temos e para o tamanho do desafio. Mas quando olhamos ano a ano, vemos um crescimento, principalmente em termos de negócios de impacto, que já nascem para solucionar um desafio social e ambiental. Até porque acho que a nova geração já entendeu que isso é futuro. Para essa geração, a forma de fazer já leva em consideração os aspectos sociais e ambientais.

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