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“Estimulo as pessoas a errar – mas a errar só uma vez. Essa é uma regra da empresa”

Marcela Marcos - 5 ago 2018
Gustavo Caetano: "O Brasil precisa de empreendedores com propósito – e um dos nossos é levar educação, por meio do vídeo" (foto: Maurício Nahas).
Marcela Marcos - 5 ago 2018
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Para alguém que nunca tinha sonhado em ser empreendedor, Gustavo Caetano se saiu muito bem. O mineiro, de 35 anos, é o fundador e CEO da Samba Tech, uma plataforma de gestão e distribuição de vídeos que tem como clientes algumas das maiores emissoras de televisão e empresas de educação do mercado. Ele fundou, também, a Associação Brasileira de Startups, criada para dar vazão a um propósito  apaixonante de estimular o empreendedorismo no Brasil.

“Paranoico por evolução”, Gustavo faz o tipo que “não para” de aprender, seja por meio de cursos, leituras, podcasts ou em conversas com outros empreendedores. Também está sempre pronto para ensinar, inclusive pelas redes sociais (são quase 400 mil seguidores no seu LinkedIn). Ele conta que nos seus posts fala não apenas de sucesso, mas também do que deu errado. “O empreendedor acredita muito no plano – mas, muitas vezes, não dá para mapear tudo.”

O CEO da Samba Tech dividiu um pouco de sua bagagem e trajetória em entrevista a Phydia de Athayde, editora-chefe do Projeto Draft, durante sessão de fotos para a campanha da Oficina, marca do Grupo Reserva. Confira:

Por que você acha que está participando da campanha da Oficina?
Porque invisto muito do meu tempo para estimular o empreendedorismo. Fundei a Associação Brasileira de Startups, que, hoje, tem quase 6 mil empresas afiliadas, e fiz isso por paixão. Um dos meus propósitos é estimular o empreendedorismo no Brasil, que tem tudo a ver com essa campanha.

Teve algum “gatilho” que o levou a empreender?
Nunca sonhei em ser empreendedor. Quando entrei na faculdade, meu sonho era ser diretor de marketing da Coca-Cola. Em 2004, comprei um celular colorido, tentei baixar um joguinho e não tinha. Como também não tinha ninguém vendendo, pensei: “Aí está uma oportunidade de negócio!”.

Entrei em contato com empresas estrangeiras e disse que queria trazê-las para o Brasil. Uma me respondeu e pediu um plano de negócios. Eu tinha 19 anos, peguei um avião e fui para Londres. Expliquei que no Brasil havia um mercado inexplorado, uma janela de oportunidades, e foi aí que surgiu a Samba Mobile, primeira versão da Samba Tech. Era uma empresa para vender joguinhos para as operadoras.

O que significa empreender no Brasil?
Muita gente reclama, diz que tem muita burocracia, mas as burocracias existem para todo mundo. Saúde, educação, segurança, mobilidade são áreas que têm atraído empreendedores porque onde há grandes problemas, há grandes oportunidades.

Já me perguntaram por que eu não vou para os Estados Unidos, para o Vale do Silício. Aqui, temos uma capacidade de criar coisas de altíssimo impacto, sem tanta competição como lá fora. O Brasil precisa de empreendedores com propósito – e um dos nossos é levar educação, por meio do vídeo, a pessoas que não têm acesso.

Pessoalmente, como você aprende e como se informa?
Sou paranoico por evolução e educação. Sempre busco aprender algo novo, porque entendo que não vou chegar mais longe se não me renovar. Leio livros, sites, blogs; escuto podcasts e tento fazer, pelo menos uma vez por ano, algum curso fora do Brasil, em áreas que não têm a ver com aquela em que estou atuando. Já fui à universidade da Disney, MIT, Stanford, Singularity University. A todo momento busco novos caminhos em que eu possa ter insights que ajudem meu negócio.

Pode citar três livros que foram importantes para você como empreendedor?
Startup [da americana Jessica Livingston], que conta a história por trás de várias empresa de sucesso nos Estados Unidos, histórias que não são de glamour; tem também The Hard Thing About the Hard Things (Ben Horowitz) e Rebeldes Têm Asas, do Rony [Meisler], meu livro de prateleira. Sou fã e embaixador da Reserva.

O mote da campanha é “transformar limões em limonada”. Qual foi a sua sacada para transformar um momento difícil?
Quando surgiu a ideia de criar uma plataforma de vídeos, contratei um freelancer e pedi: “Tá vendo o YouTube? Copia para mim e muda a cor!”. Pegamos o material e eu queria chegar nas emissoras, mas não conseguia falar com ninguém. Até que vi em uma revista um artigo de uma diretora da Band, Silvia Saad.

Descobri que ela era parente do dono da emissora e comecei a testar e-mails que poderiam ser o dela. Fiz uma mensagem muito amigável, dizendo que queria apresentar minha plataforma, e dois dias depois recebi uma resposta. Acabamos fechando um contrato grande com a Band, que foi o início da nossa trajetória.

Muita gente diz que não tem dinheiro, oportunidade, mas temos que saber nos virar. Tive sorte de ter uma oportunidade e também competência para realizar esse sonho.

Quem, pelo estilo de liderança, você admira no mundo dos negócios?
Tem duas pessoas que me inspiram e com quem já tive a oportunidade de estar. Uma é o Richard Branson, fundador da Virgin, que tem um estilo de delegar gestão. Na Samba Tech, tento descentralizar o poder, assim as pessoas vão se sentir mais engajadas com a empresa. A outra é o Satya Nadella, presidente mundial da Microsoft. O conceito dele é de que você nunca pode parar de aprender. E eu trouxe isso com muita força para mim.

Como você lida com a vulnerabilidade, quando erra ou não sabe o que fazer?
Sempre tentei estimular outras pessoas a empreender, dando palestras, mentorias, falando com outros empreendedores. Participei de várias aceleradoras como mentor. Quando comecei, senti falta de ter ajuda de alguém que já errou. No meu LinkedIn, tenho quase 400 mil seguidores, e falo sobre o meu cotidiano. Não sou polêmico, mas tento trazer coisas que acontecem no meu dia a dia – tanto de sucesso, quanto do que deu errado. Estimulo as pessoas a errar – mas a errar só uma vez. Essa é uma regra da empresa.

Cite uma frase que o ajuda a ser um empreendedor melhor.
Se houver disparidade entre o mapa e o terreno, fique sempre com o terreno”. Basicamente, se você tem um mapa indicando um rio, mas, ao olhar para o chão, não tem rio, acredite no que vê: não nade na areia. O empreendedor acredita muito no plano, mas, muitas vezes, não dá para mapear tudo.

A segunda frase, eu aprendi com minha família de médicos: “Você não pode ser ginecologista e tarado ao mesmo tempo”. Você tem que ter foco. Quanto mais genérica sua empresa for, maior a chance de ela virar um commodity. As startups que estão mudando o mercado de banco, por exemplo, fazem coisas específicas. Criamos na Samba Tech a teoria dos “pinos de boliche”. Vamos tentar derrubar um pino por vez? O primeiro pino que derrubamos foram grupos de mídia; depois, a educação.

Hoje está em voga a cocriação, uma forma mais fluida de gestão. Ao mesmo tempo, há momentos em que alguém deve tomar as rédeas para decidir. Qual é o seu estilo de liderança?

Copiamos uma regra da Apple, o DRI: Direct Responsible Individual. Tudo dentro da empresa tem um responsável direto. Nós temos um prefeito da Samba Tech, que, ao ser eleito, ganha o direito de fazer o que quiser. Ele pode quebrar parede, comprar videogame, trocar o que for… Temos a cultura de criar empreendedores no nosso negócio.

Se sua empresa deixasse de existir, o que o Brasil perderia?
A falta que a Samba faria é que diversos produtos do dia a dia, poderiam [também] desaparecer. Entregamos quase 1 bilhão de vídeos por mês aqui na América Latina, com uma grande infraestrutura. Fazemos com que o entretenimento e a educação cheguem à casa das pessoas.

A Samba Tech tem alguma política inclusiva ou de diversidade?
Nos estudos que fiz, vi que as empresas mais inovadoras são as que têm pessoas com perfis diferentes. Não pedimos foto [no processo seletivo], não olhamos nome e nem a faculdade de ninguém; tentamos trazer pessoas muito mais pela capacidade de resolver problemas, ou seja, gente empreendedora. A maioria das pessoas que deixam a empresa saem para empreender.

E você? Como devolve à sociedade o que o mundo lhe dá?
Primeiro, com conhecimento. Faço parte do conselho do Instituto Ayrton Senna, que fomenta educação, e da Saraiva, que tem papel de estimular a leitura para que o conhecimento chegue na ponta. Toda a renda do meu livro Pense Simples é doada ao Instituto Ayrton Senna. Também tento buscar iniciativas que estimulem empreendedores: faço mentorias para aceleradoras, ajudo pessoas de diferentes mercados, desde jogador de futebol em fim de carreira até projeto social, trazendo empreendedorismo para inspirar crianças.

 

Esta é uma das entrevistas que fazem parte da campanha da Oficina. Conheça a marca e leia o bate-papo com os outros empreendedores

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