Mirando a eliminação de resíduos plásticos e o aumento do índice de reciclagem no país, que ainda é inferior a 2%, segundo dados do Atlas do Plástico, a petroquímica Braskem quer transformar, todos os anos, 250 milhões de embalagens em resina de alta qualidade para a fabricação de produtos de limpeza, eletrodomésticos e óleos lubrificantes. Para isso, acaba de inaugurar sua primeira fábrica de reciclagem mecânica em Indaiatuba, a 108 km de São Paulo.
“A reciclagem é um caminho para a economia circular, que está totalmente alinhada com nossos objetivos ESG de trazer impacto social, ambiental e também econômico”, afirma Fabiana Quiroga, diretora de Economia Circular para América do Sul da empresa, que foi pioneira na produção de biopolímeros em escala industrial.
NetZero visitou a fábrica, com 9.000 metros quadrados de área construída, que fica no distrito industrial de Indaiatuba. O fluxo de entrada e saída de caminhões ainda não é grande, e a fachada não dá pistas sobre o que acontece lá dentro. É preciso se aproximar do galpão onde ficam máquinas com tecnologia de ponta para ouvir seu barulho intenso e descobrir que, em breve, aquela linha de produção será responsável pela geração de 14 mil toneladas de resina de alta qualidade para a indústria de transformação.
Com investimento de R$ 67 milhões, a fábrica foi construída em parceria com a Valoren, empresa especializada em gestão e desenvolvimento de tecnologia para transformar resíduos em produtos reciclados e atingir o lixo zero. A iniciativa faz parte do compromisso da petroquímica com o desenvolvimento sustentável.
Outros dois grandes projetos que devem sair do papel em breve são o Cazoolo, um centro de desenvolvimento de embalagens para economia circular que vai operar com parceiros como designers, startups e universidades, e uma planta de reciclagem avançada (também com tecnologia da Valoren) para transformar quimicamente resíduos plásticos em matéria-prima circular certificada.
“A Braskem também é pioneira na produção de plástico de origem renovável: o polietileno I’m green bio-based, feito a partir do etanol da cana de açúcar, produzido em escala industrial e comercial desde 2010 e primeiro polietileno do mundo vindo de fonte renovável”, conta Fabiana.
A ideia é que essas iniciativas e soluções sustentáveis contribuam para a empresa cumprir suas metas globais: eliminar 1,5 milhão de toneladas de resíduos plásticos que hoje vão para incineração, aterros ou descarte no meio ambiente até 2030 e chegar a 300 mil toneladas de produtos com conteúdo reciclado em 2025 e a 1 milhão cinco anos depois – sua capacidade mundial de produção bate 16 milhões de toneladas anuais.
“Queremos trazer resultados que chamem a atenção e estimulem outras empresas a investir também em novas plantas como essa nossa fábrica de reciclagem mecânica em Indaiatuba.”
O timing da inauguração da planta é preciso: no início deste mês, a Assembléia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unea) aprovou um acordo para criar o primeiro tratado global de combate à poluição causada pelo plástico. Embora o texto deva ser finalizado até 2024, a expectativa é que inclua metas relacionadas à produção, uso e design do material, o que deve movimentar a indústria.
MATERIAL CHEGA EM FARDOS E PASSA POR DESCONTAMINAÇÃO
Hoje, a unidade está em fase de pré-operação assistida. Quando estiver operando em sua capacidade máxima, ainda sem data prevista, a fábrica, que conta com equipamentos de ponta nacionais e importados, deve receber anualmente 250 milhões de embalagens usadas de itens como alimentos e produtos de limpeza e de higiene pessoal vindos de condomínios, cooperativas e outras instituições da região. De acordo com a empresa, a ideia é que a planta funcione por décadas, com adaptações e aperfeiçoamento constantes de seus processos.
Durante nossa visita, acompanhamos o passo a passo da transformação que acontece ali: desde o armazenamento dos fardos de polietileno e polipropileno, que já chegam à planta pré-selecionados e separados por famílias de cor, ao ensacamento dos flocos de resina produzidos com as características apropriadas para suas novas aplicações.
A primeira parte da produção envolve a descontaminação dos resíduos, com a retirada de metais ferrosos que comprometeriam o restante do processo, e de moagem. A lavagem molhada com produtos químicos de limpeza garante a regularidade do material produzido, que segue para filtragem, secagem e extrusão (processo para dar formato e estrutura à matéria-prima).
Por fim, os flocos de resina são selecionados de forma automatizada para a detecção de tipos de polímeros e cor e para a remoção de metais não-ferrosos, como alumínio. O resultado final são flocos de resina com características apropriadas para novas aplicações.
A Braskem estima que a cada ano esse processo de transformação gere 14 mil toneladas de resina de alta qualidade, que poderão ser usadas na indústria de transformação. A diretora de economia circular explica:
“Hoje o reciclado já é utilizado no mercado para aplicações que exigem menos necessidade técnica. O grande objetivo dessa unidade é ampliar seu uso, agregando qualidade e propriedades específicas necessárias para os mais diversos produtos, com exceção dos que possuem restrições regulatórias, como alimentos.”
O reuso estimulado pela fábrica é uma resposta a um dos principais problemas do material, seu descarte irregular, especialmente em países de baixa e média rendas. Em todo o mundo, mais de 20 milhões de toneladas de plástico vão para o meio ambiente anualmente, de acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Dos resíduos lançados no oceano no Brasil, estima-se que quase 50% seja plástico, comprometendo fauna, flora e saúde pública – somos, aliás, o quarto país do mundo na geração de lixo plástico.
Um dos sócios da Valoren, o administrador Ferdinando Demarchi Neto, gosta de lembrar de todos os benefícios e evoluções trazidas pelo plástico, como a capacidade de armazenar remédios e soros. Para ele, a sociedade como um todo precisa aprender a lidar com a questão para colocar o material no lugar onde ele deve estar – e, definitivamente, o mar brasileiro não é o lugar.
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