Se o Brasil é o país do futebol, nada mais justo que inovações no mundo da bola também partam daqui. A novidade é jogar futebol profissional – bonito – sem nenhum consumo de produtos de origem animal e com sustentabilidade por todos os lados. Estamos falando do Clube Laguna, estrela da segunda divisão potiguar, o primeiro vegano das Américas – e o segundo do mundo.
“Para nós, não faria nenhum sentido ter um time (ou melhor, uma empresa) que não estivesse, desde o início, de acordo com nossos valores. O veganismo é um valor inegociável entre os sócios, portanto seríamos incapazes de servir produtos de origem animal aos jogadores”, explica Gustavo Nabinger, sócio-fundador e gerente-geral do futebol do clube.
Nabinger é ex-jogador e atua há 13 anos como treinador. No início de 2021, junto com seus dois sócios, Rafael Eschiavi e Deia Nabinger, iniciaram o processo de estruturação do time, que foi fundado oficialmente em 2022. O lugar para a sede foi escolhido a dedo: o pequeno município de Tibau do Sul, onde fica a paradisíaca Praia de Pipa, no Rio Grande do Norte.
“Avaliamos diversas possibilidades e aqui é um local estratégico. Seja por sua geografia, suas atrações turísticas que têm potencial de levar nossa mensagem mais longe, mas, principalmente, porque é um lugar com possibilidade de gerarmos impacto positivo: o Estado tem um dos piores indicadores de qualidade de ensino e o número de desempregados é maior do que o número de pessoas que recebem auxílio do governo. Portanto, podemos investir para melhorar estes pontos”, diz Nabinger.
VEGANISMO ALÉM DO PRATO
O ex-volante – e atual dirigente – conta que, no centro de treinamento do Laguna, são servidas refeições para 40 pessoas 6 vezes ao dia, sem contar a suplementação. O cardápio dos atletas foi criado por duas chefs veganas e a equipe conta com o apoio da Sociedade Vegetariana Brasileira (SAF), psicólogo, nutricionista, fisioterapeuta e médico.
Nenhum atleta é obrigado a seguir a dieta vegana fora das dependências do clube, mas Nabinger garante que a maioria elogia o sabor dos pratos e está se adaptando bem ao veganismo, que não é uma novidade no meio esportivo. Lewis Hamilton no automobilismo, Serena Williams e Novak Djokovic no tênis, Marta e Alex Morgan, no futebol, são alguns exemplos de atletas de alta performance veganos.
Em dias de jogos, só entram lanches e alimentos veganos no estádio. Nos treinos, nada de copos ou garrafas descartáveis, e uma parceria com cooperativas locais garantem o destino correto para os resíduos. O time também conta com uma parceria com a Sea Shepherd, organização americana focada na conservação dos seres marinhos, que promove ações integradas com os atletas de limpeza de praias.
Quem estiver em campo no Laguna também conta com o oferecimento – gratuito – de protetores solares veganos. Algo imprescindível para quem joga debaixo do sol forte da região.
“Nosso objetivo é trazer informações e quebrar mitos, como aquele que diz que a dieta vegana é fraca, falta nutrientes. Então apostamos na educação. O Laguna é um time que preza pela liberdade. Principalmente pela escolha individual de cada um aqui. Pelo respeito ao ambiente, aos animais, à diversidade”.
COR-DE-ROSA NO PEITO
E por falar em diversidade e escolhas, a cor do uniforme do time também é um convite ao diálogo: rosa.
“Em primeiro lugar, eu acho rosa bonito. Depois é uma cor original: no Brasil, nenhum time de futebol usa esta combinação de rosa com azul. Nós sabíamos que haveria o preconceito. Achamos ótimo porque ao manifestar o preconceito temos a oportunidade de fazer a pessoa refletir. É bom colocar para fora”, diz o dirigente do clube, cujo slogan é “alegria de jogar”.
Inspirado no time de terceira divisão inglês chamado Forest Green Rovers, este sim o primeiro vegano do mundo, o Laguna não quer ficar só na teoria: a ambição é chegar na série A em 10 anos. A ideia de Nabinger é levar suas ideias de esporte, sustentabilidade e respeito para a elite do futebol.
“O futebol é o meio de comunicação mais democrático do mundo. Por meio de uma bola, você conecta pessoas de orientações, etnias, crenças opostas. Pretos, brancos, nordestinos, sulistas, muçulmanos, cristãos. Todo mundo ali está unido pela bola”.
O mercado de comunicação ainda é muito elitista. Vinda da periferia, Ellen Bileski inverteu essa lógica ao criar a Ecomunica, que prima pela diversidade na equipe e conta com um assistente de IA para ajudar a tornar conteúdos mais inclusivos.
O bagaço de malte e a borra do café são mais valiosos do que você imagina. A cientista de alimentos Natasha Pádua fundou com o marido a Upcycling Solutions, consultoria dedicada a descobrir como transformar resíduos em novos produtos.
O descarte incorreto de redes de pesca ameaça a vida marinha. Cofundada pela oceanógrafa Beatriz Mattiuzzo, a Marulho mobiliza redeiras e costureiras caiçaras para converter esse resíduo de nylon em sacolas, fruteiras e outros produtos.