Por Marcelo Tripoli
A minha falta de maturidade quando comecei não me permitiu romantizar ou idealizar o que seria empreender. Eu tinha 17 anos, estava fazendo a faculdade de publicidade na FAAP, em São Paulo, e gostava de uma coisa: tecnologia.
Um pouco antes, quando tive que escolher que curso iria fazer, meu short-list era completamente esquizofrênico: medicina, direito ou marketing.
Apesar de gostar de tecnologia nenhum curso na área de exatas passava pela minha cabeça já que sempre fui muito ruim em matemática (tive que superar isso mais tarde).
Eu não tinha a menor idéia do que seria na prática o dia-a-dia de qualquer uma das carreiras que estava especulando, não sabia nem mesmo a diferença entre um curso de Marketing e um de Publicidade.
Como aprendi depois, a escolha da faculdade teve pouquíssima relevância na minha trajetória profissional. Acabei fazendo Publicidade e já no primeiro semestre montei minha primeira empresa, uma produtora multimídia chamada MTM.
Quatro anos depois a empresa foi vendida para o Grupo Cemex e passei os 24 meses seguintes como executivo trabalhando em São Paulo, Buenos Aires e Cidade do México.
Tinha 23 anos quando vendi minha primeira empresa e achava que sabia tudo, mas na verdade eu não sabia nada. Não foi difícil tomar a decisão de largar um excelente emprego e começar tudo de novo, eu tinha claro na cabeça o que eu queria.
Em abril de 2002, fundei a agência digital iThink. Onze anos depois a agência foi incorporada pela Sapient Nitro, maior agência digital americana. Desde então meu desafio tem sido me reinventar novamente. Desta vez como executivo de uma empresa global com 10 mil funcionários e 1,3 bilhão de dólares de faturamento.
Divido abaixo com você algumas perguntas que adoraria ter feito para mim mesmo quando comecei essa jornada.
1. Você é cara de pau?
Sabe a história do xaveco na balada – quando o “não” você já tem e por isso não tem nada a perder ao abordar a pessoa em que está interessado? Eu sempre levei isso ao pé da letra nos negócios.
Comecei uma empresa do zero, sem networking algum, sem nenhum patrocínio. Por isso eu buscava agarrar toda e qualquer oportunidade.
Um exemplo disso aconteceu em 2009, durante o festival de publicidade de Cannes. Ao assistir uma apresentação do Martin Sorrell, presidente da WPP, a maior holding de publicidade do mundo, tive acesso ao e-mail dele, que foi divulgado ao final da apresentação, para quem quisesse lhe enviar perguntas.
Mandei um e-mail me apresentando e contando minha história. No dia seguinte estava tomando café da manhã com ele. Você nunca deve pensar que uma meta é grande demais ou inatingível: tente.
2. Você está disposto a abrir mão da diversão?
Acredite: não existe equilíbrio na vida de um empreendedor. Enquanto os outros se divertiam, eu trabalhava. Ajuda muito se você tiver paixão pelo negócio que escolheu. Eu passava horas focado no trabalho. E isso nunca foi algo insuportável para mim.
Mesmo tendo afinidade com a área que escolheu, no entanto, várias coisas que terá de fazer serão muito chatas. Além disso, tive que lidar com a pressão social de amigos e família porque é muito difícil para quem está de fora entender e aceitar o ritmo de vida e de trabalho imposto pelo empreendimento.
3. Você está preparado para não pedir para sair?
Aprendi rápido que Business Plan é a expressão de um desejo. E que o Excel aceita tudo. Tendemos sempre a planejar a receita de forma otimista e a subestimar as despesas. A realidade é muito mais dura e a sensação é que todas as forças jogam contra você, na hora de tirar um negócio do chão.
Quando a realidade se impuser, só há uma coisa a fazer: não reclamar e começar de novo. Depois de 20 anos empreendendo, é incontável o número de vezes que caí e levantei. Algumas quedas são duras. E a coisa mais fácil do mundo é desistir. Por isso a resiliência é fundamental para quem quer empreender.
4. Você aprende rápido algo que nunca fez?
Para mim, esta foi a lição mais importante: a capacidade de mudar, de me ajustar ao contexto. Independente do seu sonho, do que planejou, no dia-a-dia as coisas vão mudar. E quando isso acontecer, a sua facilidade para observar a mudança e se adaptar rapidamente a ela fará toda a diferença à sobrevivência do seu negócio. Pode ser uma mudança de mercado, de regras, de equipe, de tecnologia, de demanda – não importa. O fundamental é você ter a cabeça aberta e desapegar do paradigma anterior. E rápido.
Por fim, acredite naquele chavão de que um negócio novo é 99% de transpiração e 1% de inspiração. No mundo, não faltam boas ideias. Tropeçamos nelas todos os dias. Um chope no bar com seu amigo renderá ideias maravilhosas para cinco startups diferentes. O que faz a diferença é a execução, a capacidade de sair da inércia e de colocar a coisa na rua. E depois ajustar, dia após dia.
Boa sorte!
Marcelo Tripoli é Latam Chief Creative Officer da Sapient Nitro.
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