“Hoje, as estrelas do Counter Strike são mais populares entre os adolescentes do que os jogadores da seleção de futebol”

Karina Amaral - 28 maio 2021
Karina Amaral, fundadora da Overclock.
Karina Amaral - 28 maio 2021
COMPARTILHE

Desde a época em que trabalhava com moda, minha ideia sempre foi empreender. 

Comecei na moda em 2008, como funcionária de uma profissional que já possuía bastante experiência nesse mercado, a Maria Eugênia Xavier. Logo, me tornei sócia ao propor um modelo diferente de negócio, ainda novo no Brasil.

A ideia era realizar parcerias com grifes francesas, importar e revender para lojas multimarca brasileiras. Fui para Paris com a cara e a coragem (e meu inglês bem mais ou menos), depois de enviar um e-mail para o representante de uma marca. Fiz a reunião e acabei fechando com três grandes grifes internacionais.

Nesse universo, conheci pessoas incríveis, trabalhando com marcas como as francesas Paul & Joe e Antik Batik, a indiana Rajesh Pratap Singh e as brasileiras Graça Ottoni, AUA e Lalah.

LIDAR COM O CÂMBIO ERA RUIM; SER JULGADA PELA APARÊNCIA, AINDA PIOR

O modelo de negócio que havia proposto me motivava a continuar nesse ramo, que era por vezes muito desafiador. 

Eu tinha de vender em reais os produtos que adquiria em dólar. Lidar com questões cambiais — e a alta do dólar, em 2011 — começou a me trazer problemas.

O que era apenas um desafio se tornou, com o tempo, um obstáculo para o sucesso do negócio. Tivemos situações, por exemplo, em que as roupas ficavam retidas pela Receita Federal, sem a possibilidade de recuperá-las. 

Mas não era só a questão cambial que me incomodava. No setor que trabalhava, de revenda para lojas multimarcas e butiques, eu precisava estar sempre arrumada, vestindo grifes da moda.

Tudo era, de certa forma, símbolo de poder. Eu sabia que estava sendo constantemente avaliada e julgada pela forma como me vestia

Um dia, durante um evento, fiquei amiga de uma estilista. Contei a ela que às vezes me sentia como um peixe fora d’água nesse setor. E ouvi, de volta, que esse ramo não se encaixava com a minha personalidade.

SAIR DA MODA FOI UMA LIBERTAÇÃO. MAS EU NÃO SABIA O QUE FAZER

Tem gente que gosta de estar o tempo todo arrumado, atrás da última tendência de moda… Mas eu não era feliz nesse mundo. 

Tomar a decisão de sair do mercado de moda foi uma libertação. Em 2018, decidi fechar a empresa que fazia as importações das marcas internacionais; minha ex-sócia seguiu com as marcas nacionais, com sua própria empresa.

Lembro que na primeira semana após sair do negócio, acordei e pensei como era bom não precisar vestir uma roupa que eu não queria… Podia andar de chinelo de dedo e usar roupas confortáveis

Era muito desgastante incorporar um “personagem” e não poder me expressar da forma como me sinto melhor.

Nesse período em que fiquei sem empreender, meu marido estava conversando com amigos sobre uma possibilidade de negócios: um suplemento para gamers. 

Eu ainda planejava montar um site ligado à moda… Afinal, minha única experiência profissional tinha sido naquele mercado. Mas estava indecisa. E aquela conversa do meu marido despertou minha curiosidade. 

OS JOGADORES DE ESPORTS HOJE SÃO OS ÍDOLOS DOS ADOLESCENTES

Fui pesquisar sobre o assunto. E mergulhei de cabeça no mercado de games.

Para quem ainda não sabe, esse é um mercado que vem crescendo muito mais que o de esportes tradicionais.

Hoje em dia, é mais fácil que jovens e adolescentes saibam quem são os principais jogadores de CS [Counter Strike] do que quais são os atuais jogadores da seleção brasileira de futebol, por exemplo

Plataformas como Twitch, que transmitem jogos de modo interativo em que o espectador interage simultaneamente, crescem a cada ano (enquanto os meios tradicionais de transmissão perdem público simultaneamente).

A profissionalização das organizações de eSports me chamou atenção. Assim, em 2019, decidi abraçar esse universo e empreender a Overclock, uma marca de suplementação voltada aos gamers.

SUPLEMENTO EM PÓ PARA GAMERS? SIM!

Esse público já costuma consumir energéticos, mas que não foram desenvolvidos para pessoas que precisam ficar concentradas e melhorar o desempenho.

Desenvolvido com apoio de nutricionistas e engenheiros de alimentos, o suplemento da Overclock veio para ser uma opção saudável aos energéticos, ajudando a melhorar o foco e a performance dos jogadores. Sua formulação contém colina, vitaminas do complexo B e biotina.

O nome da empresa é uma referência a um processo utilizado pelos entusiastas da tecnologia que, com pequenas alterações e ajustes, conseguem aumentar o desempenho de componentes, como CPU, placa de vídeo, memória e monitores.

TIVE QUE LIDAR COM MEU PRECONCEITO EM RELAÇÃO A ESSE MUNDO

Naturalmente, tive muitos obstáculos pelo caminho. Quando a história da Overclock começou, eu não era uma gamer.

Não sabia as diferenças entre computadores ou plataformas. Para ser sincera, só conhecia Paciência e Donkey Kong, que jogava quando era pequena.

Desde a época em que trabalhava com moda, tinha preconceito com os games. Achava um horror quando meus filhos jogavam games de tiro, porque imaginava que eles se tornariam violentos

Essa percepção ficou para trás. Comecei a estudar sobre a comunidade gamer, acompanhar as transmissões e competições e a seguir os influenciadores da área, tudo por meio do Twitch.

Ao entrar neste mundo, logo você percebe que tem muitas coisas para aprender. Não é só a linguagem. É um universo bastante complexo, que envolve diferentes tribos, jogos, comunidades e plataformas distintas de streaming. 

POR DIVERSAS VEZES FUI CONFUNDIDA COM UM HOMEM NESSE NICHO

No começo, também sofri preconceito por ser mulher em um meio predominantemente masculino.

Quando já estava entendendo um pouco mais, comecei a entrar em contato com influenciadores através de nossas redes sociais, por mensagem no Direct. O curioso é que, do lado de lá, sempre achavam que eu era homem 

Se antes eu tinha preconceito com os games, fui percebendo como estava enganada.

Os games podem ser tanto uma brincadeira quanto um esporte profissional, com times e treinos. E é, às vezes, até menos violento do que esportes convencionais.

MEU SONHO É UM DIA CRIAR JOGOS E TORNEIOS COM A MINHA MARCA

Nem todo mundo, claro, sonha ser um jogador profissional. 

Tem muita gente que leva uma vida paralela distinta — como professores, jornalistas, economistas — e é gamer nas horas vagas.

É um universo vasto, com uma comunidade que se apoia e valoriza iniciativas brasileiras como a Overclock. Estamos desbravando um mercado em que os grandes players são empresas multinacionais, com orçamentos gigantes de marketing

Desde janeiro, a Overclock é patrocinadora oficial do MiBR, um dos maiores times de Counter Strike do mundo. Meu sonho é crescer e ver a minha marca se tornar a número um no Brasil, como referência desse tipo de produto para os gamers.

Para além disso, sonho em ampliar o nosso portfólio e oferecer também periféricos , como um mouse Overclock, um watercooler da marca… E, quem sabe, um dia desenvolver um jogo Overclock.

Tenho ainda a ambição de patrocinar campeonatos e, mais para frente, organizar os nossos próprios torneios. Imagine uma Olimpíada Overclock, com delegações de diversos países em várias categorias? Um dia vai acontecer!

 

Karina Amaral é paulistana, casada e tem dois filhos. Cursou Psicologia na Universidade de Belgrano, na Argentina, e empreendeu no mercado de moda no Brasil antes de fundar, em 2019, a Overclock, empresa de suplementos para incrementar a performance na prática de eSports.

COMPARTILHE

Confira Também: