A visita de um estranho. Este é o título de um vídeo de Marcos Piangers no YouTube em que o comunicador (que tem mais de 390 mil inscritos no canal) conta como foi a primeira vez em que esteve com o pai biológico que o abandonou.
O encontro aconteceu em 2016, quando Piangers estava lançando a sequência de seu livro O Papai É Pop (Belas-Letras, 2015), que vendeu mais de 1 milhão de cópias e gerou um filme com Lázaro Ramos e Paolla Oliveira.
“Estendi a mão para ele e disse: ‘Tudo bom, cara? Eu sei quem você é’”. Em seguida, deu um abraço para tranquilizá-lo. “Eu fui super bem criado por uma mulher forte, uma mãe solo.”
Pai de Anita e Aurora, Marcos Piangers, 44, nasceu em Florianópolis e vive em Curitiba. É hoje uma das vozes mais eloquentes do Brasil sobre paternidade, um tema que ele desconstrói, de forma direta, sensível, e bem-humorada, em livros, palestras e conteúdos nas suas redes sociais, que somam 6 milhões de seguidores.
Defensor da ampliação da licença paternidade no Brasil, que hoje é de apenas cinco dias corridos, ele busca questionar, no diálogo com outros pais, os impactos do conceito de masculinidade que herdamos, seu peso sobre os ombros de filhos, filhas e mães, e o que significa ser homem na sociedade contemporânea.
Ser percebido como um cara legal e uma referência no assunto não torna ninguém imune a erros. Piangers faz questão de apontar os equívocos que cometeu na criação das filhas — em muitos casos, diz ele, intensificados pela falta de um modelo de paternidade na própria vida.
“Se meu pai biológico tivesse participado, com todos os seus defeitos, ele pelo menos teria me inspirado a ser um pai presente. Foi mais difícil ser um bom pai não tendo pai”
No bate-papo com o Draft, Marcos Piangers fala sobre sua infância sem a presença de um pai em casa, o desafio de educar em tempos de redes sociais e o que aprendeu de mais importante com as filhas:
Você foi criado por uma mãe solo. Em O Papai É Pop, chega a contar que ela quase fez um aborto. Como foi a sua infância? De que forma a ausência de um pai moldou a sua vida e a sua visão de mundo – e o seu próprio exercício da paternidade?
Minha infância foi em Florianópolis. Minha mãe e meu pai começaram a namorar, ela engravidou e meu pai biológico decidiu que não estava preparado para ser pai.
A paternidade é opcional para o homem, infelizmente, e a gente tem configurações familiares quebradas quando esse homem não se empodera, não se fortalece, não se percebe como cuidador. Foi o que aconteceu com o meu pai biológico. Ele teve muito medo, despreparo, falta de incentivo.
Não foi um acontecimento específico e único. Pelo contrário, seis milhões de crianças não têm o nome do pai na certidão de nascimento no Brasil, 11 milhões de mulheres criam sozinhas seus filhos e um terço das famílias é de mães solo
Demorei bastante para entender que não era pessoal, era uma questão sistemática todo homem ser desincentivado a se cuidar e a cuidar do outro, a firmar compromissos familiares.
Durante toda a infância você cresce com um buraco no peito, uma revolta, uma vontade de entender porque seu pai fez isso. O pai é uma figura que precisa de incentivo e reconstrução. Foi maravilhoso aprender com a minha mãe, minha esposa e filhas que também sou capaz de cuidar, um ser forte e importante no ambiente familiar, e posso ser um pai melhor do que o meu pai biológico. Não é porque não tive incentivo que não posso fazer diferente.
O abandono não faz bem para ninguém, ele deseduca, cria trauma e falta. E, em geral, os traumas se repetem. Então a gente vê pessoas que foram abandonadas abandonando
Mas existe uma chance muito bonita que a vida nos dá de quebrar os ciclos e recomeçar outros. Foi o que eu tentei fazer com muita dor e muito erro.
Se meu pai biológico tivesse participado, com todos os seus defeitos, ele pelo menos teria me inspirado a ser um pai presente. Foi mais difícil ser um bom pai não tendo pai. Eu errei muito, por não ter tido um bom pai e por não ter tido o incentivo de ser um pai participativo numa sociedade doente, que dá cinco dias de licença-paternidade para os homens, e os incentiva a ter um comportamento autodestrutivo e afastado do ideal.
Que bom que as minhas filhas, minha esposa, minha mãe tiveram paciência, para que eu tentasse me transformar num homem melhor. Também tive que me inspirar em vários homens, nossos melhores antepassados, para hoje ser o pai que eu sou.
Como aconteceu essa organização da sua carreira em torno da paternidade? Foi algo que se fortaleceu naturalmente na sua trajetória?
A carreira falando sobre paternidade surgiu de forma não planejada. Quando a minha filha nasceu, em 2005, eu comecei a escrever tudo que aprendia. Alguns desses escritos viraram frases, essas frases viraram desenhos e textos que eu ia guardando num arquivo. Fui transformando isso numa espécie de diário de aprendizados com a Anita, e depois a Aurora.
Um amigo meu, o David Coimbra, escrevia no jornal uma vez por mês sobre o filho dele numa coluna chamada “Meu Guri”. Ele disse: “Cara, meu filho está crescendo, não tenho mais tempo para escrever. Você não gostaria de escrever no meu lugar?”
Que medo que dá escrever sobre família. Primeiro, porque você pensa que podem desrespeitar a sua. A coisa mais preciosa que eu tenho na vida são minhas filhas, imagina alguém mandando comentários maldosos com relação ao pai, ao marido, ao filho que eu sou
Tive que ser cuidadoso e expus minha vida familiar de forma ainda reticente, muito medrosa no começo.
O segundo desafio era a percepção de que o homem era menos homem quando cuidava dos filhos, quando levava o filho para a creche, quando tinha a felicidade e prazer de estar com as filhas. Eu me sentia não menos, mas mais homem, mais forte. Só que ao meu redor, via sinais opostos.
Mas foi muito bom abrir publicamente o meu coração, porque isso me apresentou pais que são muito melhores do que eu, que me inspiraram a ser um pai e um marido melhor.
Depois de dois anos escrevendo a coluna, se consolidou uma comunidade ao meu redor falando sobre o assunto, algo que eu não esperava, mas que me deixou profundamente agradecido
E aí lancei o livro O Papai é Pop, que a gente esperava que não fosse vender nada num país que não incentiva a paternidade, mas vendeu um milhão de cópias e me colocou como referência no assunto.
Ainda assim, tive muito medo, pois não sou psicólogo nem pediatra. Um amigo me disse: “Você é pai, escreve como pai”. É o que eu tento fazer, uma comunicação bastante horizontal, que fala dos desafios, dos erros e da alegria, da leveza de uma paternidade ressignificada.
Nos seus conteúdos você mescla bom humor e um jeito sincero e transparente. Fala com frequência sobre a importância de “estar presente”. Essas características traduzem bem o seu jeito de ser pai? O que significa ser pai hoje?
Uma parte da discussão é que o homem tem que ser mais feminino, e eu não acho isso. Outra é que precisa ser como antigamente, e também não quero ser um homem do passado.
Quero ser de 2024, o homem que as minhas filhas merecem que eu seja. Esse homem moderno entende as transformações sociais que aconteceram no último século, o papel da mulher e o respeito necessário.
A etimologia da palavra família vem de “famulus”, que significa escravo doméstico. Ou seja, existe um vestígio cultural na cabeça do homem de que ele é o dono da casa, e os filhos e a mulher são escravos. Isso precisa ser desconstruído
Outro vestígio cultural é aquele que nos diz que o homem forte é o que não sente, que não tem medo, nojo, tristeza nem alegria. Qualquer criança que viu Divertida Mente sabe. O filme tem base científica, as pesquisas do [psicólogo] Paul Ekman e do [neurocientista] Jaak Panksepp. A neurociência afetiva comprova que um ser humano que abafa essas emoções é doente.
E esse homem durão vai ter uma linguagem. Ele sabe se comunicar apenas pela raiva e através dela muitas vezes vai agredir inclusive as pessoas que diz que ama, porque só sabe falar daquele jeito.
É importante que o homem moderno descubra que tem dentro dele emoções que precisam ser reconhecidas, contempladas e sentidas. Esse é um homem maduro.
O homem doente, que abafa suas emoções, é o que se suicida quatro vezes mais do que as mulheres, o que pratica homicídios, a maioria dos acidentes de trânsito, dos casos de violência doméstica
É o homem que não soube lidar com as transformações sociais, apegado a uma construção masculina doente e autodestrutiva.
Embora a ampliação da licença paternidade esteja sendo mais discutida, ela segue sendo de apenas cinco dias corridos. Além de sobrecarregar a mãe, como isso dificulta o exercício da paternidade num momento crucial da vida da criança?
O Brasil tem uma das menores licenças paternidades do mundo, cinco dias, criados lá na Constituição de 1988. Isso dá um sinal de que o homem é um acessório na família, e cinco dias são suficientes para ele virar pai. Qualquer pesquisa mostra que cinco dias não são suficientes.
Tem países oferecendo licenças parentais de até 480 dias. Essa licença maior dá ao homem a chance de participar, se descobrir pai, dá à mulher mais igualdade no mercado de trabalho e dentro de casa, e à criança a possibilidade de ser melhor cuidada.
Transtornos como ansiedade e depressão têm afetado crianças e adolescentes. O celular e as redes sociais surgem com frequência (vide o livro A Geração Ansiosa, de Jonathan Haidt) no papel de vilões, e o Instagram parece ter um impacto particularmente cruel sobre a autoestima das meninas. Como você vê o papel dos pais no controle desse acesso?
Eu li o livro do Jonathan Haidt com muita felicidade. Já vinha acompanhando as discussões sobre minimalismo digital provocadas por um professor de que eu gosto, chamado Carl Newport. Como estudioso de tecnologia, trabalhei com o tema e coordenei equipes de inovação em empresas de comunicação.
Nunca me esqueço de uma entrevista do designer que criou a timeline infinita [Aza Raskin]. Em vez de ter aqueles botõezinhos de página dois, três, ele criou a ideia de arrastar para cima a timeline e ter conteúdos novos carregados infinitamente.
Ele disse que aquilo foi o maior erro da experiência de usuário, porque criou uma “garrafa de vinho” que nunca acaba. As pessoas se viciaram no conteúdo, e são alcoólatras digitais sem perceber
Quando você termina uma garrafa de vinho, é um sinal palpável de que você está passando de um limite aceitável. Quando ele elimina a página, torna invisível o gatilho de quanto conteúdo você está consumindo.
Os especialistas sabem. O Steve Jobs não deixava os filhos usarem iPad e controlava a tecnologia em casa. Bill Gates tem uma frase maravilhosa: “Meus filhos terão computadores, mas antes terão livros”. Sem livros, é impossível escrever sua própria história.
Como você lida com a questão do tempo de tela e das redes sociais em casa?
Desde que minha filha tinha 10 anos, eu já era muito cuidadoso com tecnologia. Minhas filhas nunca tiveram videogame, iPad, nem permiti que ficassem sozinhas no computador.
O celular a gente tentou dar o mais tarde possível. E, quando demos, fizemos um contrato: “Esse celular não é seu, é da família. Você está recebendo o direito de usá-lo bem. Vai ser cuidadosa para não quebrar, com o tempo que gasta nele, com aquilo que consome e posta”. Tudo isso está em contrato, assinado por pais e filha
De tanto conversar com minha filha mais velha, ela foi tendo essas percepções. Um dia ela me disse: “Pai, minhas amigas ficam tempo demais no celular”. Na adolescência, ela dizia que conseguia controlar o tempo de tela. E eu respondia: “Filha, como você consegue, se nenhum ser humano consegue?”. Criam sistemas tão viciantes que a nossa biologia é hackeada.
Na prática, ela foi percebendo que as redes deixavam ela mais ansiosa, insegura, preocupada com a imagem. Em determinado momento, saiu de todas as redes e apagou o TikTok, porque não conseguia mais ler um livro ou assistir a um filme. Falou que os amigos estavam com a memória curta, viciada em conteúdos de TikTok.
Hoje ela não tem Instagram e usa o TikTok como ferramenta de pesquisa, para se manter atualizada e mandar mensagem. Alguns amigos também largaram por causa dela e por perceberem essas limitações intelectuais e cognitivas. Com a filha mais velha educada nesses pontos, fica mais fácil educar a mais nova. Ela tem 12 anos, também não tem rede social e tem um celular que fica na sala, que usa só quando precisa.
Quando a gente vai para um restaurante, elas não estão com iPad, mas com o livro, um entretenimento fantástico do ponto de vista cognitivo, maravilhoso para criar conexão social na família, porque a gente conversa sobre o que cada um lê
Dá muito trabalho numa sociedade doente criar uma família saudável, explicar exaustivamente para sua filha que aquilo faz mal. Hoje em dia eu vejo que é possível. É o que digo para todos os pais.
Existem temas tabus em casa? Assuntos como drogas e sexo fazem parte das conversas?
Quanto mais eu vivo, mais percebo que não existe essa coisa de educar criança. O que existe é educar pai. Nos dez primeiros anos, nossos filhos vão nos imitar. Não existe outra forma de educar que não pelo exemplo. Se a gente der um mau exemplo, começou tudo errado.
Então, quando fala de tabus, esse pai tem que ser melhor educado do que o filho. É importante que esteja preparado para, em algum momento, a criança ouvir e perguntar sobre sexualidade, drogas, assuntos mais complicados e cabeludos.
Ou seja, esse pai vai ter que se informar, evoluir e romper com uma certa preguiça. Se o seu pai não conversou com você sobre sexo, maconha ou cocaína, sobre a possibilidade de existirem pessoas com inclinações diferentes das suas, é importante que você se aprimore
Porque, se não for você, vai ser outra pessoa, sites e amigos, muito provavelmente mal informados. Quando a gente discute todas as questões dentro de casa, traz segurança. E isso só é possível quando o pai e a mãe mantêm a conexão com os filhos na adolescência.
Quais os períodos mais difíceis que você enfrentou como pai?
Na primeira filha, trabalhei demais quando devia estar apoiando minha esposa. Errei nisso. Errei em lidar com a vergonha que eu tinha de estar feliz com a minha filha.
Quando a creche estava fechada, eu levava ela para o escritório e meus amigos caçoavam. Diziam: “Ah, você está de babá, Piangers?”. Eu dizia que não, estava de pai, mas tive desafios de confiança.
Tive uma profunda dificuldade quando minha filha fez 11 anos e eu deixei de ser o herói, o melhor amigo dela, porque ela estava entrando na adolescência e passando a gostar mais das amigas. É um acontecimento natural, mas eu lidei mal. Era o pai palestrinha, queria sempre falar o que ela precisava fazer, e me tornei uma presença desagradável.
Um dia falei: “Filha, você parou de me contar as coisas”, e ela respondeu: “Pai, é que você nunca ouve, sempre quer dar opinião”. Assim fui aprendendo que precisava ser uma pessoa agradável, me reconectar, me interessar pela minha filha e o mundo dela
É difícil para um pai fazer isso, descobrir quem é Naruto, ouvir K-pop e não agir de forma irônica a respeito daquela música. São processos difíceis, e errei em todos eles.
Se eu falo sobre ser um pai presente, é porque fui um pai ausente. Se falo sobre ser um pai amoroso, é porque caí nessa mentira de que pai tem que ser duro e agressivo. E, se falo de ser um bom marido, é porque fui um mau marido. Errei na adolescência, na primeira infância, em todos os momentos. Só que eu fui ler, entender onde errei e tentei botar na prática o que a ciência ensina. E aí eu recuperei a conexão com a minha filha.
O melhor que a gente pode fazer é não se sentir sozinho, se rodear de pais, homens inspiradores, que fazem a gente se sentir melhor, e entender que a vida não é uma competição com os outros, mas com o nosso eu de ontem
Todo dia a gente melhora 1%. Os nossos filhos são incrivelmente generosos e nos perdoam, essa é a parte mais bonita.
O Papai É Pop gerou um segundo livro e um filme. Como você vê o impacto do seu trabalho como comunicador, palestrante, escritor, produtor de conteúdo? Como esse diálogo com as famílias, especialmente os pais, foi evoluindo?
É o motivo de eu continuar. Hoje recebi um e-mail dizendo: “Piangers, você me fortalece sempre que estou fraco na minha paternidade. Continue seu trabalho”.
Passeando com a minha mãe no centro da cidade, um cara me parou e pediu para contar a história dele: “Há cerca de cinco anos, li um texto seu que falava sobre mudar de vida e ter mais tempo com os filhos. Saí de um trabalho que eu odiava e fiquei mais tempo com a minha filha, vi minha filha crescer. Hoje sou muito feliz fazendo o que eu faço”.
Eu tenho um arquivo onde guardo todos os e-mails e comentários de pessoas que me falam isso. Em algum momento, a pessoa que produz conteúdo pensa: “Não tenho mais o que falar, não quero mais escrever”. Esses comentários me fazem ver que ainda tenho que publicar. Tenho que chegar nessa família que precisa ouvir aquilo.
Qual o comentário mais gratificante que você já recebeu?
Tem dois comentários que para mim são muito tocantes. Um foi de um pai que estava com pensamentos suicidas, e leu um texto meu que dizia que todo dia a vida te dá a chance de se reconectar com seu filho. Ele me disse: “Chorei pra caramba, liguei para minha ex-mulher, falei com meu filho com quem não falava há anos. Hoje eu sou um pai muito mais presente”. Essa mensagem me fortaleceu lá no início, lembro dela sempre.
A segunda é de uma amiga que faz trabalho voluntário no sertão nordestino. Ela entrou numa casa de chão batido, numa localidade muito afastada. Lá dentro tinha um pai assistindo a um vídeo meu no celular. O cara disse: “Minha esposa me passou o canal dele no YouTube, porque não estou sendo um bom pai”.
Pensei: “Olha que coisa maravilhosa, lá no sertão nordestino, onde às vezes a televisão, o jornal e os amigos não levam uma inspiração do que é ser um bom pai, lá estou eu”
A mensagem é o mais importante. Muita gente não lembra nem o meu nome; brinco que sou um entregador: chego na vida das pessoas e entrego um espelho. As pessoas se olham e dizem: “Caraca, olha como eu sou lindo, como posso ser um bom pai, um bom marido”.
Não é sobre o Piangers. Eu vou lá no celular, no computador da pessoa e mostro como ela pode ser incrível. Só de falar isso já estou com meu coração transbordando.
Qual foi a coisa mais importante que você aprendeu com suas filhas, e que jamais aprenderia sem elas?
Essa possibilidade de ser um ser completo, e não pela metade, como tantos homens. O filho dá para o homem a chance de chorar, amar, cuidar, passar por um rito de passagem que, sem filhos, às vezes ele não passa. Muitos homens não amadurecem nem com os filhos, lamentavelmente.
As minhas filhas, especificamente, me deram essa chance de amadurecer, de me dizer: “Papai, até aqui alguém cuidou de você, a partir de agora você tem que cuidar dos outros”. Existe algo gratificante no amadurecimento, uma sensação de legado quando você entende o seu lugar no mundo, percebe que é uma peça importante.
Acho que uma parte do desencanto moderno é esse desalento do homem de não se enxergar encaixado em nada. É uma peça antiga num quebra-cabeça novo.
Minhas filhas me permitiram descobrir quem eu sou e qual o meu papel como homem, pai e filho. Sou muito agradecido por elas não se adequarem a mim, mas exigirem a minha transformação e me darem esse presente que é um homem que se entende, entende o mundo e o outro
E claro, me ensinaram a ser mais paciente e sensível, que toda pessoa tem uma personalidade e que filho nenhum vem do jeito que a gente espera. Tenho que aceitar e celebrar minhas filhas do jeito que são, e conhecê-las também é um processo bonito de autoconhecimento.
A paternidade é um chamado, a experiência mais íntima que você vai ter, porque é uma viagem para dentro de você mesmo, para a cura dos seus próprios traumas e a busca de não passá-los adiante.
Minhas filhas são professoras, e me dá pena do pai que não entende que esse é um processo de aprendizado.
Não é sobre moldar o seu filho; é sobre se moldar um ser melhor, e assim ter certeza de que os seus filhos vão ter melhores referenciais. É muito bonito, a melhor coisa que me aconteceu.
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