Zoinha é uma cachorra que foi resgatada das ruas do Rio de Janeiro pela ONG Ajuda Patas, após sofrer um acidente e não receber socorro. Por conta disso, o animal precisou ter os dois olhos retirados em um procedimento cirúrgico. A cachorrinha, no entanto, recebeu de doação da Blindog um exemplar de suas coleiras para cães cegos.
“A adaptação ao acessório permitiu que Zoinha retomasse sua autonomia, o que facilitou o processo de adoção”, diz Luana Wandecy, fundadora da startup de Natal. E prossegue:
“Hoje a família que adotou está super feliz. Eles têm um projeto de cães terapeutas, com foco em saúde mental, e a Zoinha inclusive passou a ajudar pacientes com a sua presença”
Para Luana, são casos como esse que fortalecem o propósito do negócio, que mensalmente reverte 10% das vendas em doações de seu produto para ONGs da causa animal. A própria empreendedora teve um cachorra que ficou cega, a Princesa, e sabe quão difícil é ver o bichinho perder a segurança e mudar a rotina por conta da doença.
Foi justamente isso que fez ela fundar a startup, em 2015, junto com a então sócia Natália Dantas, que ano passado deixou a Blindog para se dedicar aos negócios da família. Mas foi o cachorro dela, Sherlock, o primeiro usuário do acessório.
A coleira funciona por meio de um sensor ultrassônico, emanando ondas sonoras que batem em um obstáculo e retornam ao colar, emitindo alertas vibratórios pulsados para avisar o animal cego sobre um objeto em seu caminho. Segundo Luana, trata-se do único dispositivo do tipo no mundo, que recebeu, inclusive, uma carta patente em 2023.
A empresa passou a vender o produto, de fato, em 2018 e foi pauta no Draft em 2020. Mas de lá para cá, muita coisa mudou e o mercado pet cresceu bastante. Para se ter uma ideia, em relação a 2023, o crescimento foi de mais de 12% e a previsão de faturamento para 2024 é de 77 bilhões de reais, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet).
Quando o acessório da Blindog chegou ao mercado, ele era vendido nas calibragens PP, P, M e G (hoje, é apenas na P, M e G). Essa nomenclatura, no entanto, nada tem a ver com o tamanho do aparelho – todos são iguais, com 6 x 6 x 4 centímetros –, mas sim com a distância entre o pescoço e a ponta do focinho, medida essencial para o funcionamento da coleira.
Mas com o tempo, Luana disse que percebeu que precisava criar uma versão menor, 6 x 3 x 3 cm, para atender cachorros de porte mini ou micro.
“A gente criou um aparelho menorzinho para esses animais que têm patas encurtadas ou menos de 2 kg, para que a ponta da coleira não fique arrastando no chão”
O peso do dispositivo também mudou. Antes, ele tinha 60 gramas, agora são 15 a menos. A redução tem como objetivo tornar o uso ainda mais confortável, segundo a fundadora.
Ela também apostou na mudança de material na fabricação dos cases do hardware. Os modelos tradicionais eram feitos em impressão 3D, com plástico ABS, atualmente, a startup usa injeção de plástico, com plástico PP, para fazer as coleiras tradicionais e mantém a impressão 3D, que não comporta uma produção em escala, apenas na confecção da versão mini, já que esse modelo tem menos saída. São sete cores disponíveis.
Outras mudanças têm relação com o modo de carregamento do hardware, que passou a adotar a entrada USB, e com a forma de vibração.
“Antes a gente utilizava uma vibração contínua, mas percebemos que não era necessário. Vimos que, à medida que o animal se acostuma com aquele comando, se mandássemos apenas um pulso vibratório, ele já entendia que havia um obstáculo. A ideia é que haja o mínimo de estímulo possível”
A adaptação do cachorro ao significado da vibração costuma ocorrer em até sete dias, sem a necessidade de adestramento. Se isso não acontecer nesse prazo, os clientes podem devolver a coleira. E se ocorrer algum problema técnico, a garantia é de 90 dias.
Além disso, a startup conta com assistência técnica, que pode ser acessada a qualquer momento.
Na primeira conversa com o Draft, Luana havia contado que, em dois anos de operação, a Blindog havia vendido 500 unidades da coleira. Hoje, esse número já chegou aos 6 mil exemplares.
O aumento exponencial tem uma explicação: as parcerias. Se antes, a estratégia era na venda direta para os clientes, hoje a startup investe no B2B.
“A gente começou a participar de muitas feiras do mercado pet para chegar aos veterinários, investir na parte de marketing e também fazer parcerias com pet shops e clínicas veterinárias”, diz. Entre os mais de 30 parceiros, Luana cita a rede Encrenquinha’s.
“Investimos nessas parcerias para facilitar o acesso ao nosso produto, porque a gente sabe que quando um tutor descobre que seu animal está com um problema de saúde, ele tem urgência em encontrar uma solução”
Parte dessas vendas também são de compradores internacionais. A coleira da Blindog já foi enviada para 12 países, como Estados Unidos e Portugal.
“Lá fora, só existe uma espécie de bambolê que impede a colisão dos pets cegos, então a nossa solução é diferente e as pessoas acabam nos encontrando com mais facilidade na internet pelo fato de nosso nome estar em inglês.”
No Peru, diz Luana, já tem até uma rede de pet shops revendedora oficial da coleira, a Planeta Mascota.
Atualmente, a coleira da Blindog custa 499 reais. Luana sabe que o valor não é acessível a todos os tutores com cachorros cegos, por isso segue em busca de uma forma de reduzir o custo de produção.
Ela afirma que, na pandemia, houve falta de chips no Brasil (e no mundo) e os preços da matéria-prima subiram, por isso o valor para o consumidor final foi ajustado. Uma alternativa para reduzir o custo é produzir na China.
“Em 2020, a gente chegou a fazer um primeiro lote lá, mas acabou dando errado, o circuito de carregamento veio com problema, mas queremos voltar a testar um lote na China, aproveitando que estamos estudando reduzir em 50% o tamanho da coleira”
Se essa versão menor produzida na China der certo, ela acredita que será uma oportunidade boa também para lançar um modelo de coleira para gatos, pois esse dispositivo precisaria ser bem menor do que o atual.
Apostar nos felinos e em outros produtos é um sonho antigo de Luana.
Ela chegou a levantar essa ideia na primeira entrevista com o Draft, quando estava fechando um aporte com João Appolinário, fundador da Polishop, depois de participar do Shark Tank Brasil. Na época, o acordo parecia quase certo, mas Luana conta que acabou desistindo do investimento:
“Primeiro, porque o equity, de 33%, era alto para a gente, e depois porque em meio à pandemia, a ideia de criar outros produtos pareceu difícil e preferimos investir em alavancar nosso canal digital”
Agora, com mais respiro e recursos, já que a Blindog captou 300 mil reais com a aceleradora WOW, a empreendedora pretende retomar essas ideias. Além de uma versão para gato, ela aposta em uma nova coleira que impede os animais de entrarem em cômodos considerados proibidos pelos donos, idealizada em 2020. O produto já está em teste com 90 usuários beta.
Outra ideia que acabou ficando para trás, mas foi retomada, é um dispositivo de monitoramento dos sinais vitais do animal (batimentos cardíacos, temperatura, pressão etc.). Antes, o foco eram os tutores, agora a Blindog quer vendê-lo para veterinários e está testando o aparelho em dez clínicas.
Certas coisas, como é comum na jornada empreendedora (e na vida), não aconteceram como a empreendedora planejava, já outras vieram como uma boa surpresa. Ano passado, Luana foi eleita uma das CEOs mais inovadoras do país na premiação Innovators Under 35, da MIT Business Review e, também em 2023, a Blindog foi vencedora da categoria “Startup Revelação” no Startup Awards.
“A gente não esperava por isso. No Brasil, existem poucas startups de hardware, as pessoas e os investidores olham mais para SaaS, então esse tipo de negócio não tem tanto reconhecimento, ainda mais quando liderado por uma mulher. E essas premiações a nível nacional foram muito boas para mostrar que nosso trabalho está sendo bem construído e ajudar a chamar a atenção do mercado para a nossa startup.”
Picadinho de frango com cúrcuma, risoto suíno com abóbora… Com receitas caprichadas vendidas no petshop ou entregues na porta de casa, A Quinta, dos irmãos Diego e Tiago Tresca, quer mudar a forma como você alimenta o seu cão.
Enquanto a Neuralink, de Elon Musk, investe em chips cerebrais, a Orby, de Duda Franklin, aposta em outro caminho. Ainda em busca de regulamentação, a startup de Natal sonha em inovar na reabilitação física com uma tecnologia não invasiva.
Conquistar o público é cada vez mais difícil em meio à oferta massiva de conteúdo nas redes. Saiba como a Stages simplifica a tarefa de criar um canal próprio para quem quer produzir e veicular vídeos na internet – e ganhar uma grana com isso.