Enquanto bancos tradicionais correm atrás de atualizar suas operações para adequá-las ao mundo digital, o Banco Neon é mais uma das empresas da safra brasileira de fintechs, startups que unem tecnologias e serviços financeiros, nativas desta nova realidade. Ali não há taxa de manutenção e tudo é feito pelo celular, desde a abertura da conta — que leva cinco minutos. No iPhone, dá até para transferir dinheiro pela Siri: é só pedir que ela passe o valor para alguém da lista de contatos que também tenha conta no Neon. Simples assim. A senha foi deixada de lado. “Usamos reconhecimento facial”, conta o CEO Pedro Conrade, de 25 anos.
Claro que, sem as robustas taxas cobradas por instituições financeiras tradicionais, o Neon oferece pacote de serviços mais modesto. Os clientes podem fazer gratuitamente, por mês, uma transferência para outro banco, um saque e uma emissão de boleto. Tudo o que for além é cobrado: 3,50 reais para enviar dinheiro para conta de outro banco e 6,90 para o saque.
Tudo acontece via aplicativo, para iOS e Android. O principal recurso oferecido para fazer movimentações financeiras é um cartão de débito internacional Visa (de plástico, convencional) e um cartão virtual para o cliente usar em suas compras online (mas ainda assim a cobrança é feita no débito). Nas transações realizadas fora do país, é cobrada uma taxa de 4% além do IOF. Pedro fala:
“Como tudo é online, dá para cobrar menos taxas. Não precisamos arcar com os custos de uma agência na avenida Faria Lima”
Leve e agitado, ele dá risada quando fala dos perrengues de sua trajetória de empreendedor. “Tenho 25 anos com carinha de 40”, diz. Nascido no Guarujá, Pedro perdeu os pais cedo e abriu uma loja de biquínis aos 16 anos. O negócio foi bem e ele decidiu vender depois de dois anos, quando veio para São Paulo estudar administração na FGV. No meio do caminho conseguiu bolsa de estudos para fazer um curso de empreendedorismo em Boston, depois um outro, de negócios, em Frankfurt e tentou empreender na área de compras coletivas (e deu errado). Ufa!
Antes de entrar no universo das fintechs criou, em 2012, a Startup House, um venture builder, como ele diz. “É um nome bonitinho para uma iniciativa que levanta capital com investidores para aplicar em diversos projetos. Em dois anos investimos em 18 empresas. Foi uma super experiência, mas decidi não renovar para tocar um projeto próprio.”
A ideia de entrar no universo financeiro foi motivada pela angústia que muitas pessoas já sentiram ao serem pegas de surpresa por uma tarifa abusiva do banco. No caso de Pedro, a gota d’água foi quando ele estourou o limite em 1 real e foi penalizado por uma taxa de 46 reais.
“Liguei para gerente e reclamei da falta de transparência. Ela me disse que eles podiam fazer isso e me mandou ler o contrato”, conta. Como tantos clientes insatisfeitos, teve que engolir o desaforo — mas começou a pensar em como oferecer um serviço diferente. Isso era 2014 e o primeiro passo foi pesquisar sobre fintechs de fora do Brasil que seguiam a proposta de simplicidade e transparência. “Banco digital é um negócio muito novo. São poucas as referências”, diz.
“Eu não tinha qualquer experiência ou conhecimento específico para desenvolver um banco digital, então decidi focar em uma só solução, sem tanta complexidade”, diz. Nascia assim a Controly, cujo serviço era um cartão de débito pré-pago totalmente gerenciado por um aplicativo no celular. Com a experiência acumulada na Startup House, e depois de passar por um processo de aceleração na Artemisia, Pedro conseguiu captar cerca de 1 milhão de reais, com diversos investidores, e foi em frente com o aplicativo. O negócio começou a rodar em julho de 2015.
UM PARCEIRO PARA GARANTIR A EXPANSÃO
A Controly atraiu 10 mil clientes em seis meses. “É um número pequeno, mas excepcional para nós, que surgimos do nada e não tínhamos feito qualquer investimento em marketing”, diz. Apesar da boa resposta inicial, em poucos meses a solução do app ficou pequena para as ambições dos clientes, que queriam mais funções naqueles mesmos moldes: simplicidade e transparência. “A gente tinha que virar um banco”, conta, mencionando que ficava claro ali que não daria para resolver a vida financeira de ninguém apenas com um cartão pré-pago.
Para tornar o projeto real, Pedro pegou o caminho mais simples possível dentro do complicado setor financeiro: decidiu sair em busca de uma instituição que topasse se associar com ele. Ir atrás de uma licença bancária seria bem mais demorado e caro. Ele buscava uma parceria equilibrada, não queria ser simplesmente mais um recurso de uma grande instituição:
“Este é o problema de algumas fintechs, que acabam dependendo de acordo com um grande banco para sobreviver. Imagina só eu ficar na fila da TI de uma empresa gigante dessas? Eu nunca conseguiria nada”
Com isso em mente, Pedro bateu na porta de cerca de 40 instituições procurando uma parceria contrabalançada e ouviu um monte de respostas negativas até, enfim, encontrar uma empresa com interesse no negócio. “Um dia o banco Pottencial, uma instituição pequena de Belo Horizonte, viu uma reportagem sobre a gente e entrou em contato comigo.” As negociações caminharam e a Controly e a instituição estabeleceram uma joint venture para criar o Banco Neon, que chegou ao mercado em julho do ano passado. “Eles entraram com a licença bancária e nós com o resto: a tecnologia, as soluções e a estrutura de atendimento”, conta Pedro.
No lançamento foram abertas 5 mil contas em 44 horas, que era a capacidade que eles tinham naquele momento. Desde então já são mais de 60 mil clientes. “Queremos chegar a 100 mil até o meio do ano”, diz. Diferentemente do Banco Original, que também propõe simplicidade — e tem o Grupo JBS por trás — a fintech de Pedro mira o público jovem e não reprova ninguém por causa de renda. Como eles ainda não oferecem crédito ou cheque especial, não há risco em abrir conta para negativados. O Neon mirou em universitários e jovens que odeiam ir a agências bancárias, mas acabou atraindo também pessoas mais velhas, cansadas da complexidade dos bancos. “Nosso público-alvo tem renda mais baixa, mas tem gente que ganha mais e usa os nossos serviços pela simplicidade. Nesse caso, complementam com outros produtos e contas”, diz.
É PROIBIDO TRANSFERIR A LIGAÇÃO
Com o crescimento rápido, a sala que a empresa usava no Cubo, em São Paulo, para 12 pessoas, teve de abrigar 26 funcionários por um (sofrido) período. Recentemente eles saíram dali para um escritório na rua Oscar Freire, onde fica o time que hoje tem quase 80 pessoas, e não para de crescer. “Temos uma equipe de 25 pessoas em Belo Horizonte, do Pottencial, mas devemos chegar a 150 pessoas só aqui em São Paulo até o fim do ano”, calcula o CEO. Quando a reportagem do Draft foi até lá, a sede da empresa passava por ampliação, com a abertura de novas salas a postos de trabalho. “Não tem lugar para toda a nossa equipe. Eu mesmo não tenho mesa. Também não há espaço para todo mundo do time comercial.”
Na hora de garantir assentos, a prioridade fica para o pessoal de tecnologia e do atendimento, que, aliás, é um diferencial que o Neon se empenha para ter. “Tem gente aqui 24 horas por dia. A maioria das coisas resolvemos pelo chat, mas quando o cliente liga com um problema, é aí que ganhamos ele. Nunca transferimos a ligação. É proibido. Sempre damos um jeito de resolver”, diz.
Com pouca idade, mas bastante experiência, Pedro diz que não sofre preconceito por ser jovem demais para o mundo dos negócios financeiros. Ele compartilha alguns aprendizados: “Sou jovem e nunca fingi que sei tudo. Alguns líderes gostam de ser o melhor do time. Eu prefiro ser o pior e ter um monte de gente muito boa do meu lado”. Para ele, liderar é coordenar e olhar para uma direção, não necessariamente delegar.
PARA TER MAIS CLIENTES, É PRECISO TER MAIS PRODUTOS
A experiência inicial do Neon tem sido positiva, mas Pedro quer ir além para atingir sua meta: alcançar o break even em 2019. “Com tarifas mais baixas, precisamos de volume. Queremos passar a barreira de um milhão de clientes”, diz, sem especificar um prazo. A estratégia, conta, é ampliar o leque de produtos este ano: oferecer soluções de seguro, de crédito e de investimento. Outra meta é lançar a opção de abertura de contas para pessoa jurídica. Pode ser que, até o fim de 2017, o banco vá atrás de mais investimento para sustentar tantos projetos. “Por enquanto ainda não precisamos, mas deve acontecer mais para frente.”
A promessa é sempre trabalhar com soluções que ajudem o cliente e não o façam ele se enrolar ainda mais em dívidas. Até porque, isso não seria sustentável para o negócio, já que a maioria da carteira é de jovens com renda mais baixa. Pedro fala:
“Dá para lucrar e ser transparente. Se não for para lançar o melhor produto, nem vamos fazer”
Para fazer essa estratégia dar certo, ele pretende manter a estrutura enxuta, que é o caminho para que os custos permaneçam baixos e justos para o consumidor. “Quero ter crescimento exponencial da base de clientes e marginal do time”, conta. Para isso, ele investe em soluções tecnológicas que garantam eficiência. “Antes de contratar, sempre vemos se dá para ajustar alguma coisa, implementar tecnologia.”
Com a veia empreendedora pulsando forte, Pedro confessa que sempre nota espaço para outros negócios no mercado. “Penso em setores como o de telefonia, por exemplo, que tem um monte de ineficiências, com um atendimento horrível”, diz. Ainda que seja irresistível olhar em volta, ele diz que não vai atrás de outro negócio enquanto o Neon não ganhar o tamanho que ele acha que a empresa pode ter. “Hoje estou no caminho para realizar um sonho, que é ver isso aqui ficar gigante. Só depois vou conseguir pensar em outra coisa”, diz.
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