Quando eu e a Larissa nos conhecemos, em 2015, já tínhamos vontade de viajar e de conhecer diversos lugares, mas não havia ainda condições de realizar todos esses planos.
O que não imaginávamos era que eu só tiraria férias em 2019. Mesmo sabendo que isso não era nada produtivo e os amigos falando que eu estava precisando descansar, tinha medo de deixar sozinho nosso negócio, a Piva Educacional, edtech que ajuda crianças e adolescentes a criarem autonomia nos estudos.
Até que a Lari foi convidada para ser madrinha de um casamento na Europa. Não tinha como ela não ir. Decidi embarcar junto. Essas seriam as minhas primeiras férias depois de anos. Mas não pude deixar de levar o notebook, caso precisasse trabalhar.
Essa primeira viagem despertou na gente um sentimento muito bom e uma vontade de fazer isso muito mais vezes, porém não definimos prazos e nem criamos muitas expectativas de como iria acontecer
Nossos pais sempre tiveram essa vontade constante de viajar, mas que hoje em dia são aposentados e, devido ao cansaço natural, têm menos disposição para embarcar em certas aventuras… Assim, a ideia de virarmos “nômades” surgiu nesse mesmo período — contudo, ainda era nebulosa e distante.
Conhecer o mundo era um desejo grandioso, e queríamos que fosse perfeito — o que, mais à frente, entendemos ser impossível. Por isso, gastamos naquele primeiro momento muita energia com planejamento, mas pouca com a prática.
Em 2018, eu pedi a Lari em casamento, ao mesmo tempo em que a Piva Educacional estava crescendo. Era natural, desde sempre, ter nossa vida pessoal e profissional andando lado a lado, o que nunca foi um problema.
Entretanto, no meio do caminho, veio a pandemia. Nossos planos foram adiados — duas vezes. O casamento de fato saiu só em abril de 2022.
A ideia de juntar lua de mel com nosso propósito profissional de buscar projetos educacionais pelo mundo surgiu quando percebemos que não daria tempo de viajar o quanto gostaríamos, trabalhar o quanto precisávamos e fazer tudo isso antes de os filhos chegarem
Como muitas pessoas no pós-pandemia, sentimos que o momento certo era o agora. Somos apenas eu, a Larissa e a nossa empresa. E nosso projeto de viagem unia tudo isso da melhor forma.
Comentei com um amigo e ele falou que a irmã já tinha feito algo parecido. Marcamos uma conversa com ela e o papo foi super animador.
O pontapé inicial da viagem veio logo depois, de forma inusitada, quando o apartamento em que morávamos inundou. Foi um caos completo. Nos vimos literalmente sem saída, pois tínhamos que deixar nossa casa.
Era o momento de abandonar o aluguel e nos entregar à vida nômade.
Em três semanas, deixamos o apartamento, arrumamos nossas coisas, criamos um pré-roteiro com os principais lugares pelos quais gostaríamos de passar — e iniciamos a aventura
Tudo isso aconteceu em meio à entrega da “Semana do Filho Estudioso”, que reuniu 10 mil famílias online e é o principal evento da Piva Educacional, com lives e conteúdos diários para pais e responsáveis.
Foi uma loucura! Sentimos frio na barriga, sim. Era um misto de medo, incerteza, mas muita vontade de fazer o projeto dar certo.
Descobrimos, no meio da viagem, que seria necessário passar no mínimo 15 dias em cada local para conseguir se “estabilizar”. Ter essa disponibilidade maior de tempo fez com que as conexões que criamos fossem mais fortes, o que tornou a viagem mais calorosa.
Nosso grande objetivo era entender a cultura de cada local e ter a possibilidade de fazer amigos, para só assim fazer perguntas mais profundas às pessoas, extraindo conteúdo de verdade de cada um
Criamos muitos vínculos e hoje podemos dizer que temos amigos espalhados em diversos cantos, como o Bola, dono do restaurante Sandwick Co., em Itacaré (BA), que nos acolheu desde a primeira visita.
Outro exemplo é o Gil, um pescador da mesma cidade, que nos surpreendeu positivamente. Durante a viagem de três horas em seu barco, ele contou que estudou até a 4ª série, mas isso não restringiu seu nível de conhecimento. E toda vez que alguém em seu barco faz uma pergunta que não sabe responder, ele busca a resposta para no próximo passeio estar mais preparado.
Para nós, que fomos em busca de diferentes formas de educação e de diversidade de conteúdo, tivemos, onde não esperávamos, a lição de que não é só a educação formal que traz lições valiosas. Na verdade, a gente aprende a todo momento, basta querer
É muito claro hoje, depois de termos visitado dezenas de escolas, que a educação é um conjunto de fatores. Depende muito dos profissionais envolvidos, como professores, coordenadores e diretores, do amor dessas pessoas pela profissão, mas também do quanto elas estão sendo estimuladas e motivadas para darem o seu melhor.
E a educação não se restringe ao ambiente escolar. Ele é só um primeiro estímulo. O aprendizado acontece no dia a dia, de forma dinâmica e prazerosa.
E é essa filosofia que queremos espalhar.
Ao todo, já passamos por dez cidades, como Sobral (CE), Itacaré (BA), Ilha de Boipeba (BA) e Ubatuba (SP), além de Buenos Aires, pela qual ficamos realmente apaixonados.
Foi onde unimos o melhor dos dois mundos. A capital argentina já é conhecida por receber casais em lua de mel, como meus pais, em 1986, e garantimos que a experiência é incrível! Os restaurantes são maravilhosos e têm um ótimo custo benefício! Mas estranhamos vê-los vazios, não pela crise, mas pela cultura.
Ao entrar no restaurante, fomos informados de que era necessário reserva, o que nos pegou um pouco de surpresa. Além disso, eles costumam abrir lá pelas 21 horas, impensável para quem é de São Paulo e acostumado a ter opções a toda hora.
Entendemos que cada cidade tem um ritmo. Para cada lugar que fomos, buscamos então alinhar esse ritmo local com o nosso ritmo de trabalho — que não parou em nenhum momento, apenas diminuímos a frequência, com a lua de mel e o movimento da cidade
Ainda falando de Buenos Aires, os parques estavam vazios às 9 horas da manhã e enchiam apenas às 11h. Enquanto em Jericoacoara (CE), a praia já tinha bastante movimento logo cedo, para quem queria ver o nascer do sol.
Por muitos momentos, quebramos nossas expectativas e demos de cara com lugares fechados (como museus), feriados locais inesperados e costumes que desconhecíamos. Nessas situações éramos provocados a abraçar o novo e cair na real sobre o que é a vida nômade.
Tivemos momentos em que a rotina fez falta e isso bagunçou todo o nosso dia, nos deixando frustrados. Mesmo longe de casa, sentimos necessidade de buscar uma forma de nos sentir acolhidos.
Então, fizemos algumas adaptações: podemos até mudar de lugar, mas continuamos pela manhã fazendo uma meditação ou um exercício e essa pequena ação traz uma tranquilidade muito grande.
Já falando de trabalho, também sentimos o impacto de não ter um lugar fixo. Como atuamos com produção de vídeo para o YouTube, vimos que nem sempre dá para improvisar um cenário e nem todo lugar tem o silêncio necessário para uma gravação.
Diminuímos bastante nossas produções e focamos, nesse período, na divulgação dos nossos cursos que já são gravados, mas sempre introduzindo os aprendizados dos locais que visitamos
Levamos um pouco de cada lugar conosco e pudemos aprimorar o que já era feito na Piva. Em Buenos Aires, quando visitamos o Proyect C e, em Florianópolis, em uma escola local, percebemos que é importante na educação nomear cada processo.
Isso permite melhorar a comunicação entre pais e escola, além de deixar o aprendizado mais palpável para quem vê “de fora”. Além disso, nomear os processos aumenta o engajamento dos responsáveis na aprendizagem, e para nós, isso é muito importante.
Já em Sobral, na Escola Maria Yêdda Frota e na Escola Elda Cavalcante, eles falavam muito do “arroz e feijão bem feitos”, ou seja, o básico ser bem executado
Lá quando um aluno falta, no mesmo dia eles buscavam saber o motivo. Isso faz muita diferença no envolvimento entre escola e aluno, e gradativamente estamos implementando essa cultura na Piva.
Estamos educando nossos alunos sobre a importância da frequência para obtenção de bons resultados. Nosso objetivo é entender o motivo da falta e como podemos chamar a atenção deles para finalizar o curso.
Estamos, desde abril, nessa “rotina” de viagens. E entre um lugar e outro, sempre voltamos para São Paulo. Não é fácil abandonar tudo de cara.
Estamos felizes em poder viver essa experiência, conhecer pessoas e lugares maravilhosos, mas entendemos que nossa vida é aqui. Por isso, decidimos alugar um apartamento para ter nosso canto e uma liberdade maior de ir e vir.
Queremos estar em São Paulo para estar por perto quando nossos amigos casarem, ou sentar em um bar numa sexta à noite, e também curtir nossos pais… E construir uma rotina que em alguns momentos será quebrada pelas viagens — mas dessa vez com a segurança de ter um lugar para chamar de “casa” quando voltarmos
A Piva Educacional também está em pleno crescimento. Este ano já é o melhor desde a fundação em 2011. E, após conhecer tantos lugares, nos sentimos ainda mais preparados para dar os próximos passos e levar nosso propósito de educação para mais famílias no Brasil e no mundo.
Bruno Piva é apaixonado por educação. Formado em Engenharia, já na faculdade começou a dar aulas particulares de Matemática e Física e nunca mais parou. Devido à sua curiosidade, já trabalhou nas mais diversas áreas, de pequenas a grandes empresas, sozinho ou liderando equipes. Hoje utiliza seu raciocínio lógico e a criatividade para adaptar as melhores práticas do mercado na Piva Consultoria Educacional Integrada.
Criado no interior gaúcho, Alsones Balestrin fez do seu doutorado na França um trampolim para voos mais altos. Foi secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia do RS e hoje capacita empreendedores por meio da edtech Startup Academy.
A falência do pai marcou a infância e mudou a vida de Edu Paraske. Ele conta os perrengues que superou até decolar na carreira – e por que largou a estabilidade corporativa para empreender uma consultoria e uma startup de educação.
Frustrados com a carreira, Wesley Klimpel e Patricia Pamplona resolveram cair na estrada e abraçar a vida de viajantes em tempo integral. Hoje, por meio do blog Sem Chaves, eles dividem dicas e histórias de suas andanças pelo mundo.