Não falamos mais da crise climática como possibilidade: ela já define a realidade que vivemos.
O Brasil convive com secas prolongadas, enchentes que paralisam cidades, perda de safras e eventos extremos que afetam diretamente a economia e a vida de milhões de pessoas.
Esse cenário revela um paradoxo: ao mesmo tempo em que estamos entre os países mais vulneráveis aos efeitos do aquecimento global, reunimos vantagens únicas para construir soluções de escala mundial
Foi dessa percepção que nasceu o Fórum Brasileiro de Climatechs (FBC). O movimento começou com a articulação espontânea de empreendedores que sentiram a ausência de um espaço coletivo para dar visibilidade às suas soluções e, sobretudo, para enfrentar gargalos que impediam o crescimento do setor.
Em pouco tempo, o Fórum se consolidou como associação representativa, reunindo startups, investidores, governos, academia e parceiros institucionais em torno de um objetivo comum: fortalecer a inovação climática como vetor estratégico de desenvolvimento do país.
As climatechs são empresas de base tecnológica que desenvolvem produtos e serviços escaláveis com impacto positivo para o clima. Elas atuam de forma transversal em setores como energia, agro, água e saneamento, florestas, resíduos, mobilidade e finanças verdes.
As startups ligadas ao Fórum já mobilizaram mais de 2 bilhões de reais em investimentos e geram cerca de 5 mil empregos. É um setor nascente, mas que prova, com dados concretos, que inovação climática é também motor de prosperidade econômica.
O diferencial do Fórum está na sua capacidade institucional de articulação. Não se trata apenas de reunir startups em torno de uma bandeira comum, mas de abrir caminhos concretos para que elas prosperem
O FBC atua em quatro frentes complementares: advocacy, ao propor melhorias regulatórias que eliminem barreiras e reduzam riscos; mobilização de capital, conectando empreendedores a fundos privados, bancos públicos e mecanismos de blended finance; fortalecimento do ecossistema, criando espaços de cooperação entre empresas, governos e academia; e construção de narrativa pública, dando visibilidade às soluções brasileiras em arenas estratégicas no Brasil e no exterior.
Essa relevância institucional já se materializa. O Fórum foi convidado a contribuir para o debate nacional sobre inovação climática ao lado da vice-presidência da República e do Ministério do Meio Ambiente. Participou de encontros internacionais como a Climate Week NYC, o Brazil Climate Summit e o G20 (U20), posicionando as climatechs brasileiras no radar global.
Essa presença não é apenas simbólica: ela abre portas, dá legitimidade e insere o Brasil no mapa dos países capazes de transformar biodiversidade, ciência e tecnologia em vantagem competitiva
No entanto, os desafios ainda são muitos. O acesso ao capital continua restrito, o ambiente regulatório ainda não oferece segurança para o investidor e a percepção de que este é um setor estratégico está longe de ser consenso.
De acordo com relatório da Latitud, Brasil e África juntos recebem menos de 4% do capital global em climate tech, mesmo concentrando ciência e talento em escala continental. Ou seja: há muito valor a ser destravado.
É nesse contexto que a COP30, em Belém, ganha contornos decisivos. O Brasil terá a chance de se apresentar não apenas como guardião da Amazônia, mas como hub global de inovação climática.
Para isso, precisamos transformar a pauta em política de Estado, conectando ciência, empreendedorismo e investimento. O Fórum atua justamente nesse ponto de convergência: articula startups com governos e grandes empresas, contribui com propostas regulatórias, organiza o ecossistema e dá escala a soluções que já existem.
Mais do que nunca, precisamos escapar da armadilha da resignação. O discurso do colapso, embora fundado em dados, evidências e realidade, não pode imobilizar nossa capacidade de agir
O que trazemos é uma outra visão propositiva: investir em tecnologia climática é investir em um futuro viável, justo e competitivo. O Brasil tem biodiversidade, base científica e densidade empreendedora para liderar essa agenda.
O Fórum Brasileiro de Climatechs existe para garantir que esse potencial se converta em impacto real. Nosso papel institucional é justamente criar as condições para que o talento empreendedor brasileiro floresça, para que a ciência se traduza em soluções investíveis e para que o país não perca a oportunidade histórica de inaugurar um novo ciclo econômico baseado em prosperidade sustentável.
A COP30 será um marco. Se soubermos aproveitar este momento, poderemos iniciar um novo ciclo no qual prosperidade e sustentabilidade caminham juntas
Essa é a oportunidade de mostrar que as soluções para a crise climática não virão apenas de metas globais ou tratados internacionais, mas também da engenhosidade de empreendedores que decidiram transformar ciência em negócio e inovação em impacto.
Ana Himmelstein e Zé Gustavo compõem a diretoria executiva do Fórum Brasileiro de Climatechs.
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