O desemprego é a hora mais sombria de uma carreira, em que você é testado ao limite. Como lidar (e superar) essa situação?

Adriano Silva - 17 dez 2021
Adriano Silva, publisher do Draft, está lançando seu novo livro: "Por Conta Própria – Do desemprego ao empreendedorismo: os bastidores da jornada que me salvou de morrer profissionalmente aos 40."
Adriano Silva - 17 dez 2021
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Leia aqui trecho exclusivo e inédito de Por Conta Própria – Do desemprego ao empreendedorismo: os bastidores da jornada que me salvou de morrer profissionalmente aos 40, novo livro de Adriano Silva, founder e publisher do Projeto Draft.

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Veja aqui um vídeo teaser sobre o que você encontra no livro e a leitura de parte deste excerto.

 

O desemprego é, antes que tudo, um exercício de isolamento e solidão. É você, trancafiado com você mesmo, dentro de si. É você contra si mesmo – a mais renhida das brigas. Justamente na hora em que você mais precisaria poder contar consigo.

Esse é o momento em que a tristeza e a depressão se instalam, viram companhia constante e, muitas vezes, lhe impedem de ver que sempre há alternativas. Quando você não enxerga saída, a tendência é afundar. Mas é justamente aí que é preciso olhar mais de cima, ampliar o escopo, considerar outras opções.

Uma crise profissional pode nos imobilizar e nos destruir. A desesperança bate à porta. A ausência de esperança se transforma em desespero. Mas esse também pode ser um evento libertador, que nos permite voltar a andar e a crescer 

É precisamente quando sentimos que não há mais nada a perder que reunimos a energia necessária para o arranque – uma força que julgávamos nem ter mais. É exatamente quando uma situação se torna insuportável que encontramos o desprendimento necessário para sair dela.

A demissão é uma exclusão drástica – a maior rejeição que você pode experimentar no campo profissional. Se ao pedir demissão você decreta a morte natural de um ciclo em sua carreira, ao ser demitido você sofre essa morte de forma violenta. 

Mas o que mais me machucou foi o tempo parado no acostamento. O degredo. A sensação de desencaixe, de ficar à deriva, em mar aberto, debaixo de tempestade, vendo os navios passarem e se afastarem, um a um, sem que ninguém lhe atire uma boia. 

Esse é o aspecto mais dramático do desemprego. Você se vê na água, a um passo de se afogar, desconectado de tudo, distante de todos, enquanto as pessoas parecem estar lá em cima, no convés dos iates, seguindo com suas vidas, indiferentes à sua situação.

O “não” de uma demissão, quando você está empregado, não machuca tanto quanto os “nãos” que vão se acumulando quando você está desempregado. Essas negativas endossam e potencializam o “não” original

A sensação é de que não foi apenas uma determinada pessoa ou empresa que lhe mandou embora – mas de que o mundo inteiro está dizendo que você não serve mais. Cada novo “não” confirma que a demissão foi correta, e que o torto é você.

Essa é a hora mais sombria. E, exatamente por isso, esse é o momento de não se deixar deprimir. Precisamente quando a autoestima vai para o brejo é fundamental não deixar de acreditar em si mesmo.

O desemprego, eis o que aprendi, é apenas um momento na carreira. Trata-se de uma situação a mais que temos de enfrentar e resolver.

Assim como a segurança do emprego é uma ilusão, e não garante o dia seguinte, o desemprego também não é eterno, e nada impede que amanhã a maré vire e você se reconecte ao mercado

O desemprego, portanto, é apenas um evento. Mais uma aventura dentro da trama. Não está escrito em lugar algum que esse limbo não possa se apresentar a você na semana que vem – nem que você não possa superá-lo na semana seguinte. 

Você certamente viverá dias ruins em sua carreira. E você, com igual certeza, superará esses períodos de provação. De um jeito ou de outro. Desde que siga caminhando – e acreditando. Desde que não deixe que as nuvens cinzentas tomem conta de tudo. Desde que o céu plúmbeo não se instale dentro de você.

Para quem está se sentindo na sarjeta, no entanto, o sentimento é de que aquela conjuntura se cristalizou. E de que ela nunca mais vai mudar. A sensação é de que você acabou profissionalmente. As horas vazias se arrastam. Se transformam em dias lentos, sem sentido. O relógio vira um inimigo. 

Você se sente improdutivo. Você vai dormir sem ter se ocupado de coisa alguma durante o dia. Você acorda na manhã seguinte sem ter o que fazer nem aonde ir. Sem um compromisso marcado, sem uma rotina, sem uma interlocução profissional com quem quer que seja. Um vazio escuro e frio vai lhe dragando todo dia um pouquinho mais para fora do mundo, para dentro do fundo oco do seu peito.

O dinheiro é uma torneira que você não consegue fechar, conectada a uma caixa d’água que se esvazia rapidamente, sem reposição à vista. Os canos estão secos. A sua incapacidade momentânea de ganhar dinheiro se torna uma verdade universal sobre sua (in)competência. Nada lhe erode mais a confiança e o respeito por si mesmo do que isso. 

O sentimento de impotência cresce. Você se sente caindo num buraco sem fim. A sensação é de falência pessoal. Instala-se dentro de você a certeza de que você falhou como profissional, como provedor, como pai, como marido, como adulto. 

Trata-se de uma situação humilhante. Insuportável. Da qual você não depende apenas da própria vontade para sair. Por mais que tente espernear, parece que você jamais conseguirá escapar àquele atoleiro. Mais: parece que você não é digno de escapar dele, que você não merece sair dali

As outras pessoas, as empresas, os negócios lá fora, o mundo inteiro, tudo continua girando no seu próprio ritmo. À sua revelia. Eles não vivem a sua premência. Eles não dependem de você para ir adiante. Você os vê em movimento – enquanto se enxerga paralisado, ficando para trás. 

Eles parecem viver a vida com conforto, dentro de uma normalidade muito mais digna do que aquilo que você foi capaz de estabelecer para si e para os seus. Eles foram mais capazes. Você foi menos apto. Eles foram mais competentes. Você falhou.

Eis o abismo do desemprego. Você não para de cair. Para dentro da escuridão. Como um corpo no espaço que vai se fragmentando durante a queda. A vertigem é constante. A angústia, uma inimiga íntima

Eis o verdadeiro drama da demissão – que eu não conhecia. Um mês tem o peso de um ano. E tudo é hiperbólico, nevrálgico, umbilical. Ou ao menos foi assim para mim.

Até que, num dia como qualquer outro, quando o sol já se recusava a nascer, o telefone tocou. 

(E pode ter certeza, caso você esteja vivendo essa situação, ou venha a enfrentá-la um dia: o telefone também tocará para você. Um ótimo Natal e um grande Ano Novo!)

 

Adriano Silva é Founder e Publisher do Projeto Draft e está lançando Por Conta Própria – Do desemprego ao empreendedorismo: os bastidores da jornada que me salvou de morrer profissionalmente aos 40.

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