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A ideia de que é possível antever qual startup se tornará um unicórnio sempre exerceu fascínio quase místico sobre investidores-anjos. É o bilhete premiado da economia digital: encontrar, no estágio inicial, a empresa que, anos depois, cruzará a fronteira do 1 bilhão de dólares.
A tese de Ilya Strebulaev, professor de Stanford, que sugere ser possível estimar essa probabilidade já na Série A, alimenta justamente essa busca. Mas, embora os dados tragam pistas valiosas, interpretar essa estatística como um mapa do tesouro é um erro comum — e perigoso
Os percentuais apresentados por Strebulaev são sedutores: startups avaliadas abaixo de 10 milhões de dólares têm cerca de 1% de chance de chegar ao seleto grupo; na faixa entre 20 milhões e 30 milhões de dólares, esse número sobe para 4%; e acima dos 100 milhões de dólares, ele salta para 9%. Em termos relativos, é um aumento impressionante.
Mas estatística não é destino. Avaliações altas na Série A não garantem sucesso — apenas sinalizam que investidores experientes detectaram indícios fortes de tração, qualidade do time ou tamanho da oportunidade. É uma fotografia de convicção, não de certeza.
O ponto central, para qualquer investidor-anjo, é que prever unicórnios continua sendo menos importante do que construir uma estratégia de portfólio capaz de capturar um.
Venture capital é um jogo de “home runs”: um ou dois grandes acertos compensam dezenas de apostas medianas. O papel do anjo, portanto, não é adivinhar o futuro, mas aumentar a superfície de sorte — investir o suficiente, acompanhar o dealflow certo e manter disciplina ao longo do tempo
Nesse contexto, entender tendências de mercado é quase tão crucial quanto ler balanços. A ascensão de IA e GenAI, responsáveis por 45% dos novos unicórnios, mostra que a tecnologia não segue ciclos suaves: ela avança por rupturas. Quem espera por “certeza” chega atrasado. O investidor-anjo precisa desenvolver sensibilidade para mercados nascituros, especialmente aqueles que criam novas infraestruturas, comportamentos ou padrões de consumo.

Fernando Nery, CEO da fintech Portão 3.
Mas por trás de qualquer tese macro existe um elemento que permanece soberano: a equipe. Décadas de pesquisa, incluindo a de Strebulaev, convergem para o mesmo ponto: fundadores excepcionais são o maior indicador de sucesso de longo prazo.
Formação sólida, experiência relevante e, sobretudo, uma dinâmica de equipe coesa — muitas vezes construída em anos de colaboração prévia — pesam mais do que qualquer KPI dos primeiros meses. Produtos mudam. Mercados giram. Fundadores, quando extraordinários, constroem o caminho adiante.
Há também um aspecto pouco discutido, mas extremamente valioso: aprender com os “erros de omissão”. Os melhores VCs acompanham meticulosamente seu antiportfólio — as startups rejeitadas que se tornaram sucessos estrondosos. Essa prática, longe de ser masoquismo analítico, é uma ferramenta poderosa de aperfeiçoamento
Investidores-anjos deveriam fazer o mesmo. Entender por que se deixou passar uma boa oportunidade vale tanto quanto estudar um investimento bem-sucedido.
O ecossistema também pesa. Networking, mentoria, troca de dealflow e apoio a fundadores — mesmo quando não há cheque envolvido — fortalecem o ambiente que permite que unicórnios floresçam. Investir não é apenas capital; é criar condições para que o capital se multiplique.
Por fim, é preciso lembrar o óbvio que tantos ignoram: unicórnios não surgem do dia para a noite. Levam, em média, de oito a doze anos para completar o ciclo entre fundação e saída. A tentação do retorno rápido é justamente o que leva muitos investidores-anjos a abandonarem estratégias antes que elas se provem. Paciência não é virtude suave — é disciplina financeira.
Ver unicórnios antes que eles existam é, sim, possível em alguns casos. Mas, na maioria das vezes, é só depois de anos de consistência, método e aprendizado contínuo que um investidor-anjo percebe que estava sentado sobre um bilhete premiado
A questão nunca foi adivinhar. A questão sempre foi estar preparado quando — e se — ele aparecer.
Fernando Nery é CEO da Portão 3 (P3), fintech que já transacionou mais de 10 bilhões de reais e apoia mais de 5 mil empresas na América Latina com cartões corporativos e gestão de pagamentos.
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