O “dinheiro preto”, traduzido para o português, refere-se ao dinheiro que circula entre pessoas e negócios pretos.
As origens deste conceito – que nada tem a ver com o termo pejorativo em inglês, referente a negócios escusos – se baseiam em ideais pan-africanos defendidos por diversos líderes de movimentos afirmativos negros, desde, pelo menos, a década de 1920. Um dos mais citados como referência, nesse sentido, é o jamaicano Marcus Garvey, que se autodeclarava pan-africanista e defendia a volta dos descendentes de africanos ao continente de origem dos ancestrais, assim como a integração e fortalecimento das comunidades afrodescendentes espalhadas pelo planeta.
A ideia seria criar condições para um ecossistema de empoderamento preto em escala global – o que inclui o incentivo ao protagonismo e à maior inclusão de pretos no sistema financeiro e de produção, fundando um “capitalismo preto”, em que os afrodescendentes deixassem de ficar à margem da sociedade.
No Brasil, de acordo com a Fernanda Ribeiro, presidente da Afrobusiness e CCO da Conta Black, em entrevista para NetZero, “o movimento é mais recente, coisa de 30, 40 anos. O ápice é quando nasce a Feira Preta, há 20 anos.”
Mais recentemente, o conceito se materializou também no Movimento Black Money (MBM), fundado em 2017 por Nina Silva e Alan Soares, que se autodefine assim:
“MBM, Co. é o hub digital para inserção e autonomia da comunidade negra na nova economia e na era digital.”
Pode-se dizer, então, que a expressão black money, no Brasil atual, significa um esforço coletivo para que o dinheiro circule mais por mãos e empreendimentos da população negra – algo que não é o usual, como mostram dados de variadas pesquisas que elencamos a seguir.
O MBM trabalha para diminuir a disparidade entre o potencial de consumo da comunidade preta e a falta de autonomia econômica das pessoas que a compõem.
Um dos principais objetivos é construir uma cadeia produtiva em que negros e negras se apropriem dos meios de produção e se integrem cada vez mais ao sistema financeiro.
Dados elencados pelo próprio movimento servem como um retrato do contexto e evidenciam o tamanho do desafio de lutar contra essas desigualdades:
– 56% da população brasileira é preta;
– 51% dos empreendedores brasileiros são pretos.
– 67% dos desempregados são pretos;
– 24% do PIB é movimentado pela população preta.
Diante deste cenário, o MBM declara:
“Através da desigualdade sócio-racial presente neste país, que menospreza a comunidade negra, percebemos um vazio. Não apenas na falta de valorização da vida dos negros, mas também politicamente e, acima de tudo, economicamente e é neste cénario excludente que queremos atacar.”
De maneira simplificada, o MBM aborda a missão de fortalecer a comunidade negra apoiado nos seguintes pilares de atuação:
Além da reafirmação e do letramento identitário, o MBM atua para que as pessoas pretas tenham real autonomia e liberdade, por meio do uso de tecnologia e acesso a serviços financeiros com retorno às necessidades do povo preto;
O MBM transforma a economia e as perspectivas empreendedoras da comunidade preta que enfrenta barreiras para obter crédito, manter e crescer o próprio negócio;
O MBM promove análises profundas e incentiva o hábito de questionar e a disposição para trabalhar e para ter a mente aberta para mudanças.
Em outras palavras, o movimento resume essas ações da seguinte maneira:
“Incentivamos em todos os nossos projetos a prática do black money, onde pessoas negras possam manter o capital por mais tempo na comunidade negra de forma intencional.”
O MBM afirma se apoiar na filosofia Pan-Africanista Garveista, “ideologia que considera a união dos povos de todos os continentes africanos na busca de soluções para problemas sociais e o preconceito racial”.
A partir desta definição, o movimento se apoia nos seguintes valores:
• Nação: a construção de uma agenda preta de poder;
• Raça Primeiro: pensar em benefício da comunidade preta prioritariamente;
• Pensar, falar e agir de maneira a ajudar a eliminar o racismo e a estabelecer a justiça;
• Autonomia do Povo Preto: a não dependência de outras culturas em tudo que for possível.
“Qual é a riqueza, o que você tem dentro de você e o que você pode fazer no seu dia a dia para enriquecer e investir na sua própria comunidade? É isso o que o movimento coloca”, declarou Nina em entrevista à Agência Brasil.
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