O Templo mudou: em vez de coworking, o foco agora é a oferta de soluções criativas para o mercado

Bibiana Maia - 9 maio 2019 Bibiana Maia - 9 maio 2019
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Desbravador há sete anos do cenário de espaços compartilhados de trabalho do Brasil, o Templo vem trilhando um caminho com experiências que culminam agora em uma nova fase, com a chegada de novos sócios e novas demandas que brotaram do ecossistema capitaneado pelo próprio coworking carioca.

Ao trio Herman Bessler, Caio Almendra e Gustavo Joppert se juntaram Clélio de Paula e Michel Lent. E, por meio de dois braços (Templo Consultoria e o mais recente Templo Studio), o negócio vem consolidando sua atuação com oferta de soluções criativas e tecnológicas em implementação de processos, projetos de inovação e transformação organizacional e design de serviços e produtos digitais. A lista de clientes atendidos inclui marcas parrudas como Souza Cruz, C&A, Arezzo, BR Malls e Mongeral Aegon.

Herman Bessler, CEO e fundador do Templo, diz hoje estar em uma posição estratégica para colher os frutos, mas a situação era bem diferente em 2012, quando tudo começou. Ele havia deixado um emprego no mercado financeiro para ser o “empreendedor faxineiro”, aquele que faz tudo e aposta todas as fichas em si. Ainda assim, desdenha da suposta segurança de um emprego fixo:

“As pessoas têm esta ideia de ter emprego, mas é um risco muito grande. Você pode ser demitido a qualquer momento, ficar sem nada, coloca a sua vida na mão de outra pessoa, o mercado muda, tem corte de custos, muda a estratégia, você não decide… Então não topo esse risco de ter um emprego, não. Acho a maior loucura”, brinca.

O Templo saiu no Draft pela primeira vez em setembro de 2014. Clique e leia.

Herman ri ao dizer que se passaram “milênios” desde a primeira reportagem publicada no Draft, em 2014. De lá para cá, muita coisa mudou. O Olabi, o laboratório de inovação e tecnologia fundado naquele ano pelo empreendedor com suas antigas sócias, não faz mais parte do Templo. E o coworking deixou de ser efetivamente o core business.

Ao olhar para trás, ele entrega que, se o “Herman de agora” pudesse trocar uma ideia e dar uns conselhos para aquele outro Herman lá do início, diria para ele ter menos ansiedade. O empreendedor lembra que a falta de foco foi uma dificuldade para tocar o Templo, em meio à abertura do Olabi, do Journey (que fazia imersões internacionais com empreendedores) e de outras iniciativas paralelas, todas inauguradas em 2014:

“A gente teve momentos efetivamente de abrir muitas coisas simultâneas, e isso dificulta a capacidade de investimento e tempo dedicado aos negócios. Atrapalhou o desenvolvimento do potencial destes negócios”

Desde o início ele enxergava o Templo não só como um coworking, e sim como uma rede de onde poderiam surgir novos negócios. Mas a ficha caiu definitivamente em 2018, ao perceber que a maior parte do faturamento (de 11 milhões de reais naquele ano) vinha da consultoria, novo carro-chefe.

O amadurecimento ajudou a estruturar este potencial. E aqueles parceiros de projetos pontuais, que trabalhavam no coworking, foram incorporados para formar os dois braços do Templo. O mais recente deles é o Studio, surgido a partir da absorção da lent A/G (de Michel Lent), da WeSense (Clelio de Paula) e da GoTilt Growth Hacking (Gustavo Joppert). O foco são produtos digitais, que envolvem realidade virtual e inteligência artificial para clientes que vão da hotelaria ao varejo.

No outro braço, a Consultoria, criada em 2015, o Templo aposta na cultura da inovação nos negócios: “As empresas mais inovadoras não são aquelas que têm mais inovações, mas as que têm mais inovadores. Como é que a gente ajuda a formar mais inovadores e a criar as cadeias de incentivo corretas para que estes inovadores possam inovar na empresa?”, diz Herman. E reforça:

“Tem muito de inovação que é sobre tirar as coisas que tem pelo caminho. Você não precisa ensinar as pessoas a criar ideias novas, mas como tornar as ideias em negócios rentáveis dentro da companhia”

O empreendedor acredita que o tema deixou de ser etéreo e faz parte hoje, concretamente, do cotidiano de grandes empresas. “Eles não fazem a menor ideia de como fazer isso, na maioria das vezes, e para isso que a gente está aqui também. Mas como mercado amadureceu muito, era uma coisa de startupeiro e hoje é muito mainstream.”

Esta consolidação aconteceu naturalmente, em consonância com uma mudança no mercado. Se em 2012 os coworkings eram novidade no país, hoje já há mais de mil, segundo o Censo Coworking Brasil 2018 (que identificou 1 194 estabelecimentos do gênero em 169 municípios brasileiros). Mesmo com tamanha concorrência, o Templo mantém 100% da lotação — e permanecerá de portas abertas, como um espaço de encontro entre fornecedores e parceiros da rede, com planos de levar sua marca para outros cantos do país e da América Latina.

Templo Consultoria e Templo Studio, por sua vez, devem chegar no ano que vem à Europa, mais precisamente Portugal; há conversas ainda para uma expansão a Nova York. O movimento casa com um desejo do time de sócios de estar em outras cidades. Por outro lado, eles mantêm raízes na terra natal, onde encabeçam ainda o desafio de gerir o Rio Criativo, programa do Governo do Estado do Rio de Janeiro para fomentar a economia criativa.

Herman conta que, desde o início, quando foram investidos 50 mil reais de recursos próprios, o Templo cresceu pelas próprias pernas. Mesmo hoje, diz, os sócios não pensam em buscar um investidor externo. Quanto à equipe (atualmente são 50 funcionários), ele garante que o limite é de 149 colaboradores para permitir que todos desenvolvam relações pessoais.

O cuidado com o clima da empresa é constante. Garantir liberdade e agilidade para abrir novos negócios é essencial, assim como a coragem de pivotar sempre que necessário:

“Eu tenho muita preocupação de não cair no ‘tem muito trabalho para ser feito, vamos ficar até entregar e vender’ e esquecer que o propósito de fazer isso, desde sempre, era ser um lugar em que há flexibilidade não só de horário e local de trabalho, mas de pensamento, de construção, de autonomia, de estar sempre experimentando, sempre pensando na próxima parada e nunca se acomodar.”

 

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