“Para mudar, estou tirando as peles, as máscaras, os disfarces e indo na essência de quem eu sou”

Bob Wollheim - 7 jun 2019 Bob Wollheim - 7 jun 2019
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por Bob Wollheim

O mundo anda meio estranho. Polarizado, dizem alguns. Extremado. Pensam outros. Radical. Opinam os mais assustados. Uma merda. Decretam os desiludidos. Em mudança. Apostam os esperançosos.

Quem me conhece, sabe onde me situo.

Se você não respondeu mentalmente, te ajudo: um mundo em mudança.

Não é coincidência nem à toa que estou mudando junto com o mundo.

Não é à toa também que minha nova iniciativa se chama The Change WorkFrame.

Mas antes, um pouco de contexto

Antes de contar mais sobre as novidades, sobre o meu processo e o que quero trazer para vida com a The Change, acho que vale um rápido papo do que está acontecendo com o mundo.

Ao menos, unificamos um olhar pois, afinal, não é sobre mim, é sobre você!

Mudança, a palavra do momento, é, na real, a palavra do mundo. É, e sempre foi

Tudo o que sabemos é que o mundo sempre mudou, espécies nasceram, se extinguiram, estrelas morreram, tecnologias apareceram, simplificaram e transformaram tudo etc. etc. etc.

Mas, então, por que se fala tanto disso hoje, por que tanta coisa está de cabeça para baixo pelas mudanças todas?

A meu ver, por uma diferença singela, mas ao mesmo tempo enorme: a VELOCIDADE da mudança!

Nunca as coisas mudaram tanto e tão rápido. Essa é a única diferença do mundo atual. Exponencial? Sim, mudança exponencial

Mas, se por um lado é uma diferença adjetiva, afinal substantivamente o mundo sempre foi mutante, por que ela impacta tanto?

Simples. Ciclos não fazem mais sentido. Não fecham.

A lista de exemplos é infinita e só cresce. Educação. Informação. Ah, antes que você diga: mas Bob, quer dizer que tudo vai acabar e mudar?

Não. Mas sim. Poucas coisas se manterão na forma atual, mas muitas se manterão, mas em novos formatos! Complexo?

Sim, totalmente complexo e acelerado.

E o mundo das empresas?

100% inseridas. 200%, 1000%.

Nesse contexto, startups surfam suas big waves. Escassez é com elas mesmas. Fazer rápido, o motivo de existirem. Quebrar paradigmas, a razão de elas virem ao mundo. Não é fácil, pois startups competem entre si. Mas é o ambiente delas.

E as corporações, os legacy businesses, hoje responsáveis por uma parte enorme da economia mundial? Bad news. Destruição acelerada.

Todos têm uma história à la Kodak, Nokia ou BlockBuster na cabeça. Mas isso vai se acelerar de forma exponencial. Teremos muitas. E grandes. E próximas de nós. E tensas. E de empresa com gestores competentes. E tudo de maneira rápida. Muito rápida.

Pessoas, pessoas, pessoas

Aceitamos há anos que, no final, tudo se resume a pessoas. O que não significa que agimos seguindo esse lógica.

O Yuval Harari no Sapiens nos lembra que leis, dinheiro e tantas outras coisas como… empresas… são invenções humanas que não existem, mas que se um grupo suficientemente grande de pessoas acreditar, então elas passam a existir.

Então, empresas são pessoas. Simples. Mas tão complexo.

Você concorda. Mas pratica, exercita, experimenta?

Ou ainda sente que empresas têm vida própria, regras próprias, existência independente das pessoas que as dirigem ou fundaram?

Empresa são pessoas. Só.

A complexidade toda em volta disso é criada por essas pessoas. Nós, inclusive.

Change, Change, Change

Aí, quando juntamos as duas coisas — um mundo mudando de forma aceleradíssima e pessoas sendo o nó da questão — a gente chega no momento atual.

#Tenso é a melhor hashtag para o momento.

Se, por um lado, todos concordam que é sobre pessoas, agir sobre isso, sobre cultura, sobre as coisas mais sutis, afinal pessoas são sutis, nas organizações é novo, desconhecido e, portanto complexo.

Não é sobre qualidade de vida (o que é algo importante, não me entenda mal), ou sobre abraçar árvores. É sobre mudança de pessoas. Real, efetiva.

Adoro uma frase (não sei de onde ouvi): To change people one has to change people”.

Se somarmos a velocidade da mudança e o fato de que, em mundo acelerado, ninguém tem exatamente caminhos “certos” para nada, e o aprendizado se dá fazendo, muitas vezes se fica sem a resposta: “mudar para onde, para qual direção?”.

E aí? TILT.

Se não sabemos para onde queremos ir, qualquer caminho serve, normalmente aquele defendido com mais ênfase, seja uma ênfase de dados, com mil consultores envolvidos, ou aquela ênfase intuitiva (normalmente até mais forte), é o que ganha.

E empresas incríveis zanzam de lá para cá, e de cá para lá. E depois de um tempo, novo líder, e tudo de cá para lá e de lá para cá, de volta. Você já viu ou viveu algumas histórias assim, tenho certeza.

Mas e aí? Você só aponta problemas, Bob?

Na real, tenho certeza que se você chegou até aqui nesse texto, é porque sabe do que estou falando. Você certamente acompanha esse mundo corporativo e de negócios, me vê falando disso nas iniciativas que piloto, e conhece o desafio.

Mas, sim, não faz sentido apontar algo que todos sabemos, sem propor algo novo, sem provocar, como, quem me conhece, sabe que gosto de fazer.

O processo

Por conta de mudanças profissionais que decidi fazer e também por algo mais profundo, por uma busca de minha verdade, mudei tudo.

Entrei em uma busca mais pessoal, mais essencial, onde tenho aprofundado meu autoconhecimento e estudado muitas coisas. Horas e horas de leituras de papers, artigos, vídeos, debates, conversas, de TEDs, textos e reflexões.

Muitas e muitas reflexões. Dirigindo, como amo fazer. Caminhando, como tenho feito para liberar minha energia extra nesses últimos meses.

Outro dia, um grande amigo (pois os grandes não são aqueles com quem você bebe uma cervejinha e só riem com você, mas aqueles que te dizem as verdades que precisam ser ditas – Obrigado Mau!) me disse:

“Esse processo é um lindo processo de cura. Sua cura, inclusive.”

Olhei para o Mau, pensei, internalizei e respondi: “Perfeitamente!”

Tenho revisitado minha vida profissional (a pessoal sempre vem junto, pois é bobagem acreditar que existem essas caixinhas assim separadas em nossa mente) em busca do meu ser mais profundo.

No que sou único? O que faço bem? Onde está meu talento maior? O que deixei como legado por onde passei? Tenho uma marca no mundo profissional?

Tem sido um processo intenso — e com boas doses de desconforto, como tem que ser — de autoconhecimento, de autoconversa, de autobusca e de autoreconhecimento e de autoaceitação.

Se fosse simples, não seria válido, seria apenas um autoelogio. E eu não escreveria + de 7.000 toques para isso, e muito menos faria você digerir isso tudo à toa!

Naturalmente me orgulho de muitas coisas que fiz na vida profissional e empresarial. Me orgulho dos dois livros que coloquei no mercado. Me orgulho das milhares de palestras em que, certeza, ajudei muita gente. Me orgulho dos deals fechados, das fusões, das vendas, das compras. E, claro, me orgulho dos vários serviços que prestei a centenas de clientes ao longo da minha vida profissional.

Mas, claro, mudaria muitas coisas. A falta de pragmatismo, a procrastinação, seguir em coisas que eu tinha certeza que dariam erradas, não dizer mais “nãos”, não ler mais as planilhas e os contratos e, em alguns momentos, não seguir minha intuição e minha natureza criativa, solta e leve.

Processo duro, intenso, que pede muitas conversas comigo mesmo e algumas com a Bia Granja, minha companheira e cúmplice na maluquice empreendedora e na delícia de criar o Nico (assunto para outro momento) e, claro, muita estrada de Kombi! (se você não conhece esse outro lado e quiser, boa viagem aqui).

Mas duro.

Escrevo aqui de um jeito que me parece leve, você vai lendo e consumindo quase como entretenimento, mas não é.

Como diz o Mau: Uma cura, um expurgo, uma liberação!

Para mudar, a gente precisa “deixar” um lugar para seguir para outro. Então, tem que fazer um expurgo, tem que processar um mudar profundo que pede para você rever muitas coisas

Do meu lado, sei que estou mergulhando intrinsicamente em mim mesmo, tirando as peles, as máscaras, os disfarces, as personas e indo lá para dentro, na essência, no âmago de quem sou.

E, no fundo, lá no fundo, é porque estou fazendo comigo mesmo o que quero oferecer aos líderes, sejam empresários ou executivos que precisam mudar seus negócios, precisam revisitar seus passados, crenças, práticas e se alinhar pela mudança.

Estou batizando isso de Alignment for Change.

E isso será foda! Nos dois sentidos da palavra!

Bom e tenso!

It’s the misalignment, stupid!

Se você me perguntar por que a tal da Transformação Digital não dá certo na maior parte das empresas (veja alguns dados aqui), hoje, depois de participar de vários processos desses, seja para mim mesmo, para minhas empresas, seja como consultor ou como executivo (pois é, passei por essas posições ao mesmo tempo), estou seguro em responder: É o desalinhamento das pessoas!

Não é sobre coisas, tecnologias, apps, squads, desenhos organizacionais, metodologias, planos estratégicos, cursos etc. etc.

Não, não e não!

É sobre a capacidade de ALINHAR PESSOAS em uma direção, em uma crença, rumo ao desconhecido, ao incerto, ao novo, ao não previsível.

Conseguimos viver uma vida desalinhada no presente, no conhecido, naquilo que sabemos como fazer. Dá para dirigir conflitado. Dá para vender conflitado. Dá para fazer planilha conflitado. Dá para operar conflitado. Dá para fazer marketing conflitado.

Mas. Um enorme mas! Não dá para ir pro futuro (seja ele qual for) conflitado!

Não se anda. Não se sai do lugar.

Se você não sabe para onde ir, “qualquer caminho serve” significa, na real, que você não está indo para lugar nenhum! Ou, pior, dando voltas e mais voltas sem sair do lugar

Vi isso acontecer de perto, com gente muita competente e empresas interessantíssimas. Mesmo. Gente foda. De sucesso!

Aconteceu comigo. Pois é.

É sim sobre pessoas, mas é na real sobre alinhamento de pessoas.

Ou, na maior parte das vezes, sobre DESALINHAMENTO!

Se, como diz Harari, empresas são invenções de pessoas, reinvenção de empresas são necessariamente a DESINVENÇÃO para uma nova INVENÇÃO.

E como se faz isso? Com muita dor, muita confiança, muita convicção e uma dose imensa de ALINHAMENTO!

E, olha que interessante, quando mergulhei no meu eu mais profundo, descobri um alinhador. Quem me conhece, se não concordar, me provoca ali nos comments ou cale-se para sempre!

Estudei coisas como criação de consenso, mediação, empatia, o poder do silêncio, a terceira margem, o amor, a vulnerabilidade, os sentimentos… e a cada paper, a cada artigo e a cada conversa, mais e mais fui me vendo, fui descortinando toda a minha essência.

Um processo lindo, claro, mas doloroso, pois o medo de não sobrar grande coisa nessa busca existe com todos, não estou imune!

Me autoalinhar não foi assim “divertido” e simples. Mas foi (está sendo) ótimo.

No final, como disse o Mau, parece que estou vivendo uma cura pessoal (ahô), justamente com a proposição de buscar uma cura para tanta frustração, insucesso, fracasso, prejuízo e vidas consumidas no mundo dos negócios!

Meu novo negócio é a The Change WorkFrame, que estou empreendendo com o Ariel Dahan, e tem a proposição de ser um Safe Container para a mudança, partindo de um mapa do preparo/readiness for change das pessoas da organização, ou seja, Alignment for Change.

O incrível desse processo todo é o que está acontecendo comigo nessa jornada. Autoconhecimento, limpeza, busca da essência e um lindo encontro comigo mesmo.

Acredito muito na força do “share”, do dividir para somar, então algumas provocações que quero compartilhar.

– Alinhamento constrói pontes que parecem impossíveis;

– Desalinhamento destrói pessoas, que destroem empresas, e VIDAS;

– Saber escutar é mágico. Transformador;

– Empatia, a capacidade de conexão humana, é a chave de tudo. A conexão de pessoas é o que cria coisas incríveis, é o que faz acontecer;

– A terceira margem — alguém de fora, isento, sem interesses — faz com que coisas impossíveis de serem alinhadas, o sejam;

– Experiência, contexto, vivência, podem ajudar muito;

– Inovação é vulnerabilidade;

– Não se muda sem deixar algo pra trás;

– No final, lá no final, tudo o que importa é o amor!

 

Um brinde.

À mudança!

To the Change!

 

Bob Wollheim, 57, é administrador de empresas formado pela FGV. Fundou o youPIX, é investidor com a The Next Company, sócio da The B Network, cofundador e Growth Partner da MuchMore e está fundando a The Change WorkFrame. É autor dos livros Empreender não é brincadeira (Campus/Elsevier) e Nasce um Empreendedor (Penguin), comentarista do Conta Corrente da GloboNews e Venture Corp da Endeavor.

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