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“Aqui dentro você vai ser você mesmo”: como as políticas LGBT+ fazem diferença na carreira e na vida dos colaboradores

Cláudia de Castro Lima - 18 jun 2021
Julio Cardoso, líder de conteúdo digital da 3M
Cláudia de Castro Lima - 18 jun 2021
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O líder de conteúdo digital da 3M do Brasil Julio Cardoso guarda em sua memória uma conversa em uma mesa de padaria, ocorrida há três anos e meio, como um marco na história de sua carreira. 

Ele havia acabado de ingressar na companhia como especialista em marketing digital. Na integração com o RH da empresa, havia dito que era noivo. E, sentado na padaria no primeiro papo com sua gestora na época, ela perguntou:

– Me diz uma coisa: é noivo ou noiva que você tem?

“Ela então tirou o crachá, o colocou em cima da mesa, e me falou: ‘Aqui dentro você vai ser você mesmo, do jeito que é feliz’. E colocou o crachá de volta no pescoço”, relembra Julio, que é gay, mas “não levantava bandeira” e não havia se assumido no trabalho – “até então”.

O profissional lembra que ficou atônito com a recepção. “Me senti totalmente em casa”, afirma. “Era um peso que saía de cima de mim. Soube lá que eu poderia, a partir daquele momento, estar com a cabeça focada apenas no meu trabalho.”

A 3M tem, segundo a líder do grupo de afinidade LGBT+, Heloisa Pietrobom, um histórico de apoiar a comunidade LGBT+ globalmente há exatos 30 anos. Em 2014, a operação brasileira da companhia criou o primeiro grupo de Diversidade & Inclusão, que ajudou a fortalecer as iniciativas.

“Em 2016, a sede do Brasil criou o Grupo de Afinidade LGBT+”, afirma ela. “Isso mostra o quanto a empresa está comprometida com a busca de um ambiente respeitoso e diverso, o que está alinhado ao nosso código de conduta.”

Dois anos depois, houve a primeira grande campanha interna de sensibilização para o tema – exatamente quando Julio estava chegando.

“O grupo permitiu que as pessoas se sentissem seguras para ser quem são”, conta a colíder do grupo de afinidade LGBT+, Ludimila Campos.

“Só o fato de falarmos sobre isso, de usarmos um cordão de crachá com a bandeira LGBT+, faz com que os colaboradores se sintam confortáveis e seguros, além de garantir que os benefícios sejam para todos.”

Além de fazer parte das metas ESG e do compromisso social da empresa, com o foco em contribuir na luta contra a homofobia, iniciativas de inclusão como esta também ajudam as corporações a aumentar a produtividade e a criatividade em seus ambientes.

O relatório “Diversity Matters: América Latina”, publicado ano passado pela consultoria McKinsey, conclui que as empresas da América Latina que adotam a diversidade tendem a superar outras em práticas-chave de negócios como inovação e colaboração.

Além disso, seus líderes são melhores em promover a confiança e o trabalho em equipe. E não é só: essas companhias diversas também costumam ter ambientes de trabalho mais felizes e uma melhor retenção de talentos. 

Tudo isso, claro, se traduz, como o relatório informa, “tanto em uma saúde organizacional mais sólida quanto em resultados: empresas que adotam a diversidade têm uma probabilidade significativamente maior de alcançar uma performance financeira superior à de seus pares que não o fazem”.

PEDIDO DE CASAMENTO NA FILA DO SUS 

Enfrentar um ambiente pouco amistoso logo em seu primeiro emprego, um local em que os colegas faziam “aquelas piadinhas infames sobre gays”, provocou uma espécie de bloqueio em Julio Cardoso. “Levei aquela primeira experiência como regra de vida de como funcionavam as corporações”, conta.

“Eu tinha 19 anos e ainda estava no processo de aceitação pessoal – só me assumi para a família mesmo com 22”, confessa. “Não falava como falo hoje tranquilamente sobre minha orientação.” 

Por causa das experiências anteriores, mesmo na seleção da 3M Julio não disse que era LGBT+. “Perguntaram se eu era casado. Eu disse que era noivo e sempre dava aquelas respostas sem gênero, do tipo: ‘Trabalha lecionando’, para falar da profissão do meu marido sem ter que dizer ‘é professor’, o que entregaria que ele é homem”, conta.

Logo que foi admitido, antes do papo com a gestora, ele foi conversar com o Gerente de Marketing do departamento à época. Julio já teve uma surpresa quando foi questionado: “E o seu noivo, como está? Quando vocês vão casar?”, ele perguntou. “Eu gaguejei”, ri Julio. “Nunca tinha tido uma conversa com um gestor de alto nível com tanta naturalidade.”

Desde então, Julio acompanha com entusiasmo as iniciativas organizadas pelo Grupo de Afinidade LGBT+ da 3M. Em 2019, houve a primeira grande celebração do mês do Orgulho LGBT+ na subsidiária brasileira.

No ano seguinte, a Campanha Global de pronomes passou a incentivar colaboradores a indicar como gostariam de ser chamados – além de oferecer a opção de utilizarem seu nome social no crachá e sistemas internos.

No mesmo ano, com a criação do Grupo Interno de Políticas e Benefícios, a 3M praticou a revisão das práticas e garantiu direitos iguais para casais héteros e homoafetivos.

Nessa época, Julio e seu então noivo, Alexandre, resolveram fazer uma viagem ao Canadá. Alguns dias antes, Alexandre passou mal e, sem plano de saúde, teve que recorrer ao SUS. “Enquanto estávamos naquela fila enorme, pensei: por que não aproveitar a política de benefícios e estender meu plano de saúde para ele?”, relembra.

Para isso, eles precisavam ter uma declaração de união estável. “Lá, na fila do SUS, perguntei se ele não topava isso. E o Canadá poderia ser nossa lua de mel”, conta Julio. 

BENEFÍCIOS IGUAIS E ESTENDIDOS – COM UM BENEFÍCIO MAIOR

Foi tudo muito rápido: Julio e Alexandre agendaram a ida a um cartório e oficializaram a união. “Não era nada demais, foi uma decisão prática. Mas, só para ter um registro, fizemos uma foto e eu postei nas redes sociais.” No dia seguinte, ao chegar no trabalho, outra surpresa.

“Meu chefe perguntou: você casou? Eu disse que só havíamos assinado um papel. Mesmo assim ele me disse: você tem direito ao benefício Dia de Gala.” Ele ligou para o RH e colocou os três dias que ganhara para o fim de suas férias – e ficou mais tempo com o marido no Canadá.

Como beneficiário do plano de saúde e do plano odontológico que a 3M oferece a seus colaboradores, Alexandre ficou mais tranquilo. “Foi ótimo, em momentos como o que vivemos, saber que ele estava coberto pelo plano”, diz o líder digital.

“É uma forma de carinho poder garantir que seu parceiro tenha um atendimento de saúde com mais qualidade”, acredita Julio. 

Heloisa Pietrobom conta que a 3M está num processo de contínuo aprendizado. “Temos muito orgulho de tudo que temos e de onde já chegamos, mas muita humildade em saber que há muito a avançar ainda. Por isso estamos abertos a ouvir, aprender e colocar em prática”, afirma a líder do Comitê LGBT+.

Segundo Julio, de todos os benefícios que recebeu pelas políticas inclusivas da 3M, ele já elegeu seu predileto. “Para mim, o maior benefício de todos é o mental: é saber que tenho a segurança psicológica que vem com a certeza de que a homofobia não será impune no meu ambiente de trabalho.”

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