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Apesar da pandemia, qualidade de vida no trabalho aumentou, segundo índice medido pela Sodexo. Como explicar isso?

Cláudia de Castro Lima - 10 dez 2020
De acordo com Fernando Cosenza, VP de Marketing, Inovação e Estratégia Digital da companhia, um dos destaques do Índice de Qualidade de Vida no Trabalho é o crescimento da percepção de satisfação em relação à saúde e bem-estar (foto: iStock)
Cláudia de Castro Lima - 10 dez 2020
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Apesar de você, pandemia, amanhã há de ser outro dia. E, pelos resultados do último Índice Sodexo de Qualidade de Vida no Trabalho (IQVT), o dia há de ser feliz no emprego.

A satisfação com as atividades profissionais do brasileiro melhorou entre julho e setembro de 2020 em relação ao mesmo período do ano passado, quando nem sonhávamos com a hipótese de um vírus transformar nossas relações e nossa rotina. De 6,49 pontos, ela passou para 6,85, num total de 10 pontos.

O levantamento, feito pelo Núcleo de Estudos Sodexo, contou com a participação de 674 pessoas de todo o país que avaliaram, por meio do site do IQVT, suas experiências de trabalho.

Uma das descobertas do estudo é que também aumentou a percepção da satisfação em relação à variável de saúde e bem-estar. No terceiro trimestre de 2019, o índice marcava 6,36 pontos. Neste ano, ele subiu para 7,22 pontos.

“O índice mede a percepção quanto à experiência no trabalho nas dimensões do nosso modelo, e não necessariamente a satisfação com elas”, explica Fernando Cosenza, vice-presidente de Marketing, Inovação e Estratégia Digital da Sodexo.

Segundo ele, essa é uma diferença sutil. “Percepção e satisfação não são a mesma coisa, embora uma percepção mais positiva possa ser simplificadamente chamada de ‘maior satisfação’”, afirma.

A percepção quanto à saúde e ao bem-estar refere-se, de acordo com o VP, a como cada colaborador entende que sua companhia está promovendo ações relacionadas a essas dimensões.

“O aumento nela pode ser reflexo de o assunto ter entrado mais fortemente na agenda das empresa, por causa da crise sanitária”, diz o executivo. “Os colaboradores estão, portanto, percebendo as empresas mais atentas com esse aspecto.”

FACILIDADE E AMBIENTE FÍSICO MELHORES

Além da variável saúde e bem-estar, subiram no IQVT as de facilidade e eficiência (de 6,86 para 7,46), que avalia o conjunto de fatores que contribuem para que o profissional faça um bom trabalho, e ambiente físico (de 6,93 para 7,56).

“A percepção da experiência no trabalho nessas duas dimensões foi bastante interessante”, afirma Fernando.

“Minha hipótese é que, para facilidade e eficiência, o home office – e a pandemia em geral – ajudou a minimizar um dos maiores problemas dos moradores de grandes cidades, onde se concentram a maior parte dos colaboradores de empresas e respondentes do questionário: o trânsito.”

Quanto ao ambiente físico, Fernando conta que esperava uma piora na percepção. “Mas não só aqui quanto em outras pesquisas, estamos nos surpreendendo com a boa adaptação que o brasileiro teve com o home office forçado pela pandemia”, conta.

“E para quem continuou trabalhando nos escritórios, depois que o lockdown foi flexibilizado, o cuidado das empresas com a segurança dos ambientes possa ter beneficiado a percepção”, afirma. “Os mesmos ambientes de antes, porém menos cheios e mais limpos, podem ter causado essa melhora.”

PERCEPÇÃO DE TRABALHO RECONHECIDO SOBE

Segundo o IQVT, o trabalhador também teve um aumento em sua percepção de reconhecimento por seus superiores (de 5,9 para 6,72 pontos), além do que é avaliado pela Sodexo como estabilidade em relação ao crescimento pessoal (de 6,11 para 6.31).

“Na crise, as empresas valorizaram mais os seus colaboradores”, atenta Fernando. “Em geral, as empresas reconheceram o esforço adicional das pessoas. Isso se refletiu na melhora da percepção na dimensão reconhecimento.”

Já em relação ao crescimento, o VP da Sodexo atribui a percepção à “tradução do que foi mesmo esse período: apertem os cintos, vamos nos segurar até que a tempestade passe, até que a gente volte a pensar em crescimento e desenvolvimento profissional”.

No entanto, mesmo que a percepção sobre essa dimensão não tenha se alterado, o executivo acredita que a crise contribuiu para o crescimento de muita gente. “Embora eu ache que vamos demorar um pouco para perceber isso.”

HOMENS MAIS SATISFEITOS, MAS FALTA INTERAÇÃO SOCIAL

Homens, segundo o estudo, estão mais satisfeitos que as mulheres: registram 6,73 pontos ante os 6,47 pontos delas. Isso pode refletir que elas estão de fato mais sobrecarregadas do que eles?

“A percepção das mulheres pode estar um pouco pior porque, de fato, sabemos que, na média, elas tiveram que lidar mais com questões domésticas do que os homens”, afirma Fernando.

“É uma hipótese. Pode ser simplesmente um traço da amostra dos respondentes. Por isso, pessoalmente, prefiro citar as diferenças entre homens e mulheres apenas como curiosidade.”

Não é de se espantar que o item relacionado à interação social tenha sofrido uma queda: de 6,89 pontos para 6,22. Isso reforça a ideia da importância de “escritórios híbridos”, que Fernando acredita serem o futuro dos ambientes corporativos. “Esse me parece ser o ponto mais óbvio do levantamento”, diz ele.

“Dá para fazer muita coisa de forma remota, mas a tecnologia de colaboração à distância ainda não substitui a presença física quando se trata de interação social.”

O mais interessante, segundo o VP, é que essa interação foi supervalorizada nas últimas décadas. “Ela foi reconhecida como fundamental para a criatividade, a inovação”, diz. Foi por isso que surgiram e pipocaram por aí os escritórios open space e os espaços de coworking.

“Não acredito em home office generalizado e permanente por causa disso”, diz Fernando. “Quando tivermos resolvido a pandemia, na minha opinião, os escritórios vão voltar. Diferentes, é verdade, mas serão ainda mais importantes e nobres do que eram antes.”

JURÍDICO SATISFEITO, ADMINISTRATIVO NEM TANTO

Entre os setores da economia, o de serviços foi o que mais pontuou: 7,15. Veio seguido pelo de comunicação (6,9), a indústria (6,76) e, veja só, o de saúde (6,75). Entre as menores pontuações estão os setores de transporte e armazenagem (4 pontos) e de construção (5).

Já em relação às áreas dos respondentes, o pessoal do jurídico é quem mais apresentou percepção de satisfação, com 7,28 pontos, seguido pelo de sistemas e de tecnologia da informação (7,13). Na ponta de lá estão os colaboradores do administrativo (6,1) e distribuição e logística (6,3).

“O IQVT tem o objetivo de contribuir para o entendimento do assunto ‘qualidade de vida no trabalho’”, afirma Fernando Cosenza.

“Esse entendimento é importante porque já está mais do que provado que as pessoas contribuem em nível muito superior quando sentem que têm qualidade de vida em seu contexto de trabalho.”

Ao ler os resultados do IQV e refletir sobre os cenários que a Sodexo analisa, líderes podem traçar um paralelo com a realidade das suas empresas. “Nós não pretendemos que o IQVT traga receitas ou fórmulas prontas. Ele é uma fonte de informação para ajudar as empresas a pensar sobre o assunto em seus contextos.”

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