Que “brazilian soul” que nada. Aos 25 anos, a Questtonó entende que, hoje, o design tem que ser estratégico

Luana Dalmolin - 3 abr 2018Os sócios da Questtonó, Leonardo e Levi, no novo prédio (Foto: Luís Simione).
Os sócios da Questtonó, Leonardo e Levi, no novo prédio (Foto: Luís Simione).
Luana Dalmolin - 3 abr 2018
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Hoje, a Questtonó inaugura oficialmente um novo espaço, em São Paulo. É dia de festa, também, pelos 25 anos de existência da consultoria de inovação e design. O físico e o conceitual se unem, de certa forma: o projeto arquitetônico do prédio de 1.000 m² foi pensado não só para abrigar melhor a equipe, mas também para fazê-la trabalhar de forma mais integrada. É como se fosse a materialização de um desafio que o mercado exige a cada dia, dada a complexidade do mundo pós-globalizado em que vivemos. “Agora temos um espaço que pode ser adaptado em função dos trabalhos, privilegiando os times e garantindo uma visão 360 graus dos projetos em que trabalhamos”, diz Levi Girardi, 47, sócio-fundador.

Na primeira vez que apareceu no Draft, a Questto|Nó já se via obrigada a estar atenta (clique na foto acima para ler a reportagem).

Na primeira vez que apareceu no Draft, a Questtonó falou da internacionalização (clique na foto para ler a reportagem).

Desde a primeira vez que a consultoria apareceu aqui no Draft, em setembro de 2016, além do novo prédio, a forma de atuar no mercado também mudou, para se adaptar às demandas pois, como afirma Levi: “Não é possível ter respostas fragmentadas para questões interconectadas”.

A prioridade, diz, portanto, é ajudar empresas e marcas a serem mais relevantes entregando uma experiência significativa para o consumidor a partir de “soluções sistêmicas” que sejam capazes de responder a problemas do nosso tempo.

Uma empresa que se vê “sempre em beta” não pode ter medo de propor o novo e precisa, portanto, arriscar. Lá, em janeiro de 2016, chegava à Questtonó Jaakko Tammela, um designer inquieto com MBA em Liderança Criativa feito em Berlim (Jaakko já deu aulas na Academia Draft). Ele começou a tocar a área de Creative Empowerment, focada em trazer novos modelos organizacionais. Aí vem a dor de estar, às vezes, à frente do tempo. “O mercado não estava pronto para absorver aquilo”, dizem os sócios. Com o tempo, eles desistiram da iniciativa porque não houve adesão.

NÃO DÁ PARA ACERTAR TODAS, MAS É PRECISO SEGUIR TENTANDO

A Questtonó cresceu em média 38% ao ano, nos últimos dois períodos. Uma boa margem. Nesse tempo, também, os sócios perceberam uma mudança nos clientes que atendiam. Para eles, “o design está entrando cada vez mais nos níveis mais estratégicos das empresas, com cadeiras de C-level sendo ocupadas por designers”. Por isso, para sobreviver, passaram a apostar muito mais em pesquisa e num time de especialistas — daí a decisão estratégica de ficar em areas: mobilidade, saúde e morar, e trazer especialistas para o time.

É neste contexto que as áreas de pesquisa e estratégia foram integradas e que uma nova área está sendo criada. Chamada de digital interaction, ela envolve tecnologia e interações humanas e contará com um time de profissionais especializados em UX, UI e inteligência artificial.

Também foi criado um programa de inovação, o Quest, pensando em entregar respostas mais rápidas aos clientes. O programa tem uma metodologia própria e duas premissas: ter equipes focadas em um único projeto e ter a presença do cliente nele — isso, para driblar um grande problema de consultorias e agências, que é a demora na aprovação (se o cliente está no time, ele aprova ao longo do processo). “Nesse modelo, os ciclos de pesquisa e cocriação podem durar de uma a seis semanas”, conta Levi.

Enquanto atualizam processos e metodologias, os sócios tinham uma reforma de imóvel para fazer, e escolheram convidar a própria equipe — de 42 pessoas —  para participar da concepção dos espaços do novo prédio. Estamos falando de “designers, estrategistas, pesquisadores, engenheiros “, portanto o processo aconteceu por meio de workshops que tinham como intenção levantar as necessidades de cada um, levando em conta aspectos profissionais e pessoais.

Convidados a interferir no projeto arquitetônico, os funcionários da Questto pediram terraço e chuverão. Rolou.

Convidados a interferir no projeto do novo escritório, os funcionários da Questtonó pediram terraço e chuveirão. Rolou.

Foi a partir dessas dicas que a Questtonó deu maior atenção aos banheiros no projeto, bem como à construção de salas mais isoladas e de lounges. Até mesmo um chuveirão foi disponibilizado no terraço.

No andar térreo, a ideia foi projetar um espaço que permitisse a circulação de convidados e contasse com uma estrutura para prototipagem de ideias, como fala o sócio Leonardo Massareli, 37. “Queremos criar, aqui, uma comunidade formada por pessoas que trabalham em projetos pontuais da empresa, startups e até mesmo clientes que possam respirar a nossa cultura.” A ideia é que essas pessoas, integradas ao time Questtonó, façam parte de uma plataforma chamada de Creators.

 

A consultoria, que além de escritórios em São Paulo e no Rio de Janeiro, mantém uma sede em Nova York, se afirma como um player global, com atuação cada vez mais intensa em projetos de abrangência internacional, que contemplam desde a pesquisa e concepção de estratégia de marca até aplicações práticas, como desenvolvimento de identidade visual, tom de voz e protótipo, como o que é feito para a montadora Ford.

SER “BRAZILIAN SOUL” JÁ NÃO BASTA

No entanto, nesse processo de intensificar a atuação internacional, Leonardo conta que eles tiveram que adaptar o discurso que até então usavam, o de terem o diferencial do brazilian soul, ou seja, o talento para fazer muito com pouco. Já não basta. Ele fala a respeito:

“Percebemos que, para o mercado de fora, pouco interessa se somos uma empresa brasileira. O que os caras querem é competência na entrega”

Então é em busca disso que eles trabalham. A estratégia atual da Questtonó está baseada em três áreas: Saúde, Morar e Mobilidade. “Queremos ser protagonistas em segmentos que temos expertise e que acreditamos que serão fortemente impactados por inovação nos próximos anos”, diz Levi.

Recentemente, especialistas dessas três áreas passaram a compor o time. Mário Fioretti está debruçado em investigações sobre o futuro do morar e atuando em projetos que contam com a participação de empresas de áreas distintas como eletrodomésticos, construção, energia, home & fabric care, alimentos e telecomunicações. Já a médica Andressa Gulin está à frente de uma pesquisa global sobre saúde, com o objetivo identificar tensões e tendências na área.

Equipe da Questtonó na parte do novo escritório que poderá ser usada por clientes e startups.

Na área de mobilidade, os sócios mencionam como exemplo do que são capazes de criar o projeto Digital Rails, feito para um concurso público da prefeitura de Nova York, que propõe uma transição para a chegada de carros autônomos, envolvendo setores público e privado. Propõe, por exemplo, criar algo como “avenidas conectadas” cortando a cidade, pelas quais esses carros poderiam andar em comboio e com mais segurança. O projeto foi lançado no evento What Design Can Do, de 2017, e atualmente está em fase de simulação através de uma parceria com a FAU e o IME-USP, dentro do InterSCity, plataforma que otimiza soluções em IoT.

O FUTURO? VENTURE DESIGN, OU SEJA, ACELERAR STARTUPS

Outra aposta da consultoria é o Venture Design, um modelo de negócio cada vez mais popular no exterior e que coloca o design como ferramenta valiosa para impulsionar startups e negócios que estão começando. Leonardo fala a respeito:

“As consultorias de design e inovação estão se aproximando cada vez mais das startups. É uma forma de estar perto de projetos disruptivos e de criarmos um futuro mais interessante”

PEER2BEER é uma das startups abraçadas pela Questtonó. A plataforma, que visa democratizar a produção de cerveja artesanal ao promover a conexão entre “panelinhas” (produtores caseiros), especialistas (mestres-cervejeiros e sommeliers) e avaliadores (público em geral), contou com o expertise da consultoria para desenhar a sua operação, incluindo o aplicativo, a estratégia de marca e seu modelo de negócio. Em março deste ano, a base da startup atingiu 980 apoiadores e 676 panelinhas.

Até o fim deste ano, os sócios contam que querem abarcar mais três ou quatro startups. São 25 anos de estrada, e um futuro ainda desconhecido, mas certamente instigante, pela frente.

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