Que tal financiar a sua educação e quitar o empréstimo só quando estiver empregado? Essa é a proposta da Provi

Leandro Vieira - 8 mar 2022
Fernando Franco, co-CEO da Provi.
Leandro Vieira - 8 mar 2022
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Fazer um curso profissionalizante é investir no futuro e lançar as bases para uma carreira bem-sucedida. Só que nem todo mundo tem grana para esse tipo de investimento. E alguns cursos, a gente sabe, custam os olhos da cara…

Pedir um empréstimo ou financiamento estudantil é uma opção que esbarra na dificuldade de conseguir juros mais baixos quando se é jovem, ainda sem um histórico de bom pagador para apresentar.

Desatar esse nó é a missão da Provi, fintech de crédito educacional que oferece ferramentas para que instituições de ensino financiem o valor de seus cursos para os alunos com segurança e sem grandes preocupações.

“Se você não faz esse empréstimo, o jovem não tem acesso ao curso, não consegue o crédito e não muda de vida”, explica Fernando Franco, cofundador e co-CEO da Provi:

“A sacada que a gente teve foi analisar o potencial, a empregabilidade e o salário futuro, e não uma ‘foto financeira’ da pessoa. Focar só no histórico de crédito é como dirigir olhando [apenas] pelo retrovisor”

Hoje, a Provi financia 180 mil estudantes no Brasil, atraindo em média 15 mil alunos novos ao mês – quatro vezes mais do que há um ano, em janeiro de 2021, segundo o co-CEO.

“A quantidade de alunos [dessa base de 180 mil] que não teriam acesso à educação se não fosse a Provi é de 80%”, diz Fernando. “Ou seja, conseguimos mexer na vida de 144 mil pessoas.”

SÃO DOIS MODELOS DE FINANCIAMENTO

A Provi usa um algoritmo próprio para fazer a análise de crédito dos alunos. São dois caminhos para o financiamento.

No mais tradicional, o aluno paga parcelas fixas até quitar o valor do curso. O outro é baseado no modelo ISA (Income Share Agreement, ou acordo de compartilhamento de rendimentos), em que não há parcelas definidas: o aluno paga apenas se e quanto conseguir uma renda mínima por meio do trabalho.

“É o modelo que tem o maior nível de interesse alinhado. Se o aluno faz uma formação e não tem um salário bom, não vai pagar por aquele curso. É um jeito de ordenar o aluno, a escola e a Provi rumo a um objetivo só: fazer com que o aluno mude de vida”

A startup fica responsável por gerir os financiamentos e pagamentos, e recebe uma comissão das instituições de ensino por realizar essa intermediação. “Isso permite que a gente financie com juros muito baixos, entre zero e 0,49% ao mês”, diz Fernando.

A Provi trabalha em parceria com empresas como a UX Unicórnio, que oferece cursos de formação profissional em UX Design. “Vimos um aumento de 15% nas matrículas de alunos que não conseguiriam comprar o curso de outra forma”, afirmou Leandro Rezende, fundador da UX Unicórnio, em depoimento à startup.

COMO AJUDAR ESCOLAS A ATRAIR ALUNOS E SIMPLIFICAR O PROCESSO DE VENDAS

Ao firmar parceria com a Provi, essas instituições de ensino recebem acesso a uma plataforma digital que serve como ferramenta de pagamento e também sistema para gerenciar os alunos.

O carro-chefe da plataforma ProviPay são os modelos de financiamento, com a possibilidade de fazer vendas no cartão de crédito e boleto (a fintech promete adicionar em breve o pagamento por PIX).

O intuito é ajudar as escolas a atrair alunos e simplificar o processo de vendas, já que todas as operações financeiras estão concentradas em uma plataforma (nela ainda há funcionalidades como o acompanhamento de alunos que desistiram de cursos, para tentar retomar as vendas mais à frente).

“Uma das nossas propostas é aumentar a conversão e evitar a sala vazia, um custo fixo com o qual a escola não pode lidar. E se o aluno financia com a gente, a instituição não precisa se preocupar com inadimplência – fica tudo a nosso cargo”

Atualmente, a startup tem parcerias ativas com cerca de 500 instituições para financiar cursos sobre uma variedade de temas: Inovação, Marketing, Audiovisual, Design, Data, UX/UI, vendas, gerenciamento de projetos – além de arquitetura, direito, história, música, psicologia…

Em janeiro, a Provi ampliou seu catálogo e passou a abarcar também o financiamento de intercâmbios e cursos de idiomas.

SAÍDOS DO MERCADO FINANCEIRO, ELES CRIARAM A PROVI DEPOIS DE UMA VIAGEM À CHINA

Fernando é engenheiro formado pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica); Mário Perino fez administração na FEA (Faculdade de Economia e Administração da USP). Os dois, hoje sócios e co-CEOs na Provi, se conheceram enquanto atuavam como analistas no banco de BTG Pactual.

“Trabalhamos sempre em mercado financeiro, em banco de investimentos”, diz Fernando. “Mas a vida em banco não era para nós. Queríamos fazer algo que fosse mudar a vida das pessoas.”

Em 2018, decididos a empreender, os dois pediram demissão e zarparam para a China, com planos de estudar o mercado de crédito. Ficaram cerca de um mês no país.

Durante uma apresentação no Shanghai Advanced Institute of Finance, eles conheceram o case de uma startup que fazia previsões sobre a renda de programadores baseadas na qualidade do código construído por esses profissionais. Essa solução deu um estalo na cabeça dos empreendedores:

“No Brasil, se você é um bom pagador, tem acesso a crédito. Se não tem histórico, te dão uma taxa alta e pouco dinheiro…. Percebemos que se a gente olhasse para um momento que mudasse a vida da pessoa, daria para inverter essa lógica. E educação é um dos momentos de maior transformação da vida”

Sem experiência prévia com educação, Fernando e Mário começaram a estudar mais a fundo esse universo e foram combinando os aprendizados que iam adquirindo à bagagem que traziam do mercado financeiro.

Com o tempo, amadureceram a ideia de oferecer financiamento de cursos para jovens que ainda não tinham condições de pagar – mas que poderiam quitar o empréstimo assim que estivessem empregados e ganhando bons salários.

A ANÁLISE AUTOMÁTICA PERMITE A APROVAÇÃO DE FINANCIAMENTO EM APENAS 3 MINUTOS

A Provi começou a operar de fato em meados de 2019. O investimento inicial veio por meio de uma rodada de captação com Positive Ventures, C6 Bank, Global Founders Capital e a Fundação Estudar. No total, os sócios levantaram 2,5 milhões de dólares (12,8 milhões de reais na cotação atual.)

A empresa atuava há menos de um ano quando surgiu a pandemia. Como dependiam bastante, naquele começo, do mercado de capitais para bancar os financiamentos, a crise detonada pela Covid-19 deixou os empreendedores em alerta. “O dinheiro simplesmente desapareceu por algum tempo”, afirma Fernando.

No começo, os financiamentos oferecidos pela Provi eram quase exclusivos para cursos de tecnologia. Aos poucos, os sócios foram ampliando o escopo, até chegar à oferta atual.

A usabilidade foi evoluindo em paralelo, com investimentos em tecnologia. Quando a plataforma surgiu, a aprovação de um financiamento podia levar horas. Hoje, diz Fernando, esse tempo se reduziu para 3 minutos, o suficiente para que o estudante preencha seus dados, o sistema faça a análise automática e dê sua aprovação.

“A ideia é entregar uma experiência de financiamento tão simples quanto usar um cartão de crédito. Você digita duas ou três informações e logo tem acesso ao seu curso e está financiado, sem precisar responder uma infinidade de coisas”

No dia a dia, a solução da Provi auxilia pessoas como a refugiada venezuelana Gremis Alejandra Tovar. Com formação em engenharia civil, ela precisou fugir para o Brasil com a família e teve dificuldade de encontrar trabalho por aqui. O marido a incentivou a fazer um curso na área de TI, na qual ele é formado.

“Encontrei uma instituição que ensinava programação do zero, com essa proposta de pagar somente quando estivesse em um emprego com ganho superior a 3 mil reais mensais. Achei a possibilidade tão incrível que fiquei com medo de ser golpe”

Faltando dois meses para finalizar o curso, ela foi contratada. Hoje trabalha com desenvolvimento front-end numa empresa financeira.

A META AGORA É ATINGIR 1 MILHÃO DE ESTUDANTES FINANCIADOS ATÉ MEADOS DE 2023

A Provi não revela o faturamento, mas informa que a expectativa para 2022 é quadruplicar o resultado do ano passado, assim como o número de novos clientes – a meta, ambiciosa, é atingir 1 milhão de pessoas financiadas até a metade de 2023.

Para dar conta desse objetivo, a Provi deve voltar a captar investimentos em 2022. O time também vem encorpando. No começo, eram 30 pessoas; em menos de três anos, essa equipe sextuplicou, chegando aos atuais 215 colaboradores, quase todos em home office e espalhados pelo Brasil (e o mundo afora).

Até o fim de 2022, a Provi prevê crescer seu time ainda mais. “Estamos num ritmo de contratação forte, com 50 vagas abertas, e devemos fechar o ano com mais de 600 pessoas”, revela o co-CEO.

Um dos dilemas, nesse contexto de expansão do time em modelo de trabalho remoto, é não deixar a cultura da empresa se perder. Outro é como seguir escalando um negócio que se paga no longo prazo (alguns cursos podem ser financiados em até 36 vezes), e sem perder o norte do impacto social.

“A Provi é uma empresa com foco em dar lucro, mas a gente conseguiu combinar um modelo de negócios sustentável tanto do ponto de vista financeiro quanto social”, diz Fernando. “Geramos dinheiro ajudando pessoas a mudar de vida – e isso é uma combinação sensacional.”

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Provi
  • O que faz: Fintech de crédito educacional
  • Sócio(s): Fernando Franco e Mário Perino
  • Funcionários: 215
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2019
  • Investimento inicial: R$ 2,5 milhões
  • Contato: papo@provi.com.br
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