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“Se quiser salvar o ano, corte custos. Se quiser salvar a década, promova inovação”

João Prata - 2 jun 2018
Romeo Busarello e Adriano Silva: lições sobre como ser disruptivo em um segmento tradicional, dentro de uma grande empresa
João Prata - 2 jun 2018
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E lá vêm eles. O diretor de marketing da Tecnisa, Romeo Busarello, à esquerda do vídeo. Adriano Silva, publisher do Projeto Draft, ao lado. Ambos maquiados, microfonados, à espera do ok para a caminhada informal.

Não, espera. O diretor repara no extintor de incêndio no meio do caminho do longo corredor cinza que separa a dupla da câmera. O assistente corre para remover temporariamente o objeto que, sai Orkut vem Facebook, continua na mesma embalagem.

Ainda que essencial, o extintor destoa da decoração moderna e envidraçada que compõe o ambiente da Tecnisa, no número 3477 da Avenida Faria Lima, em São Paulo (o mesmo endereço que abriga o Google). O papo é sobre a Nova Economia e como ser disruptivo em um segmento tradicional, dentro de uma grande empresa. A entrevista faz parte de DNA: Nova Economia, série de entrevistas com a curadoria e a condução do Draft, apresentada pelo Sebrae, veiculada nos canais Globosat e produzida e dirigida por Bond Filmes e Storyland.

Pronto. Luz ok, som ok. Não, espera. Sou convocado para simular o caminhar da dupla. Ando alguns metros me distanciando da câmera, paro, viro e volto (notando, no processo, que Romeo e Adriano conversam sem nem se ligar nesses pormenores); o diretor, como se fosse o Waze, me manda pegar a primeira saída à direita. Tudo certo. Retorno aos bastidores, me juntando a Guilherme Kessel e Clarissa Cardoso, ambos do time de marketing do Sebrae.

Luz ok. Som ok. Câmera… Espera. Agora tem um pessoal saindo: o corredor onde estamos tentando gravar é cercado de salas de reuniões por todos os lados. As paredes de vidro e venezianas abertas convidam a uma espiada; numa das salas, de luz apagada, um executivo apresenta a outros dois engravatados um gráfico no telão (Resumo dos Indicadores de Performance).

Gravar num escritório em pleno expediente exige paciência. O trabalho de direção requer atenção aos detalhes, ajuste constante da movimentação e do posicionamento em cena. Adriano pergunta o que é preciso para ser empreendedor inovador no Brasil. Resposta de Romeo: educação, educação e educação – corta: os dois pararam num entroncamento de corredores, então o diretor pede para eles repetirem, agora um pouco mais depressa e sem parar.

Mais alguns takes de corredor e o set de filmagem é transferido para a maior sala de reuniões do andar, que minutos antes recebera uma sessão do Fast Dating Tecnisa. Sabe aqueles encontros-relâmpagos promovidos em bares, onde solteiros papeiam por 4 minutos cravados para ver se rola match? No Fast Dating, donos de startups a fim de virar fornecedores da Tecnisa têm 10 minutos para “vender seu peixe” e convencer um comitê de analistas (aqui, o papo precisa ter estofo: quem fica só no gogó não fecha contrato).

Há quase duas décadas como diretor de marketing da Tecnisa, Romeo ajudou a colocar a empresa, pioneira na venda de imóveis pela internet, entre as mais inovadoras do país. Nas suas respostas, esse self-made-man saído do interior de Santa Catarina resume lições de mais de 30 anos de carreira; como homem de marketing, parece ter a frase certa sempre na ponta da língua.

Ele gosta de jogos de palavras. Responde, por exemplo, que se tiver que escolher, prefere trabalhar com quem tem will (vontade) do que skill (habilidade). Em outro momento, em mais uma mostra do discurso afiado, afirma:

“No mundo dos negócios de antigamente você tinha o ‘show me the money’ [me mostre o dinheiro]. Hoje, você tem o ‘show me the meaning’ [me mostre o significado, o propósito]. É muito importante dar propósito ao trabalho do seu time.”

Os dois agora se posicionam junto à janela que vai do chão até o teto, na sala de pé-direito alto. Do lado oposto da Faria Lima, outro predião de escritórios, todo espelhado, reflete o trânsito que vai bem nos dois sentidos. A conversa afunila para tecnologias de gestão, oportunidade para Romeo fazer um alerta aos acomodados: “O algoritmo vai acabar com aquele cara médio. O cara do meio vai desaparecer”.

Corta. Migramos todos para outra sala, onde o pessoal da produção deixou a maior parte dos equipamentos. O ambiente está sendo preparado para o fecho da entrevista; uma das produtoras termina de prender com durex uma folha de papel preta no alto de um pequeno painel de LED. Adriano é orientado a sentar na poltrona, ao lado desse painel. Romeo, no sofá de três lugares.

Adriano tenta disfarçar o roteiro de entrevista em suas mãos, mas o diretor avisa que o papel está aparecendo. Pede ainda que ele descruze as pernas porque o tênis está esquisito no vídeo. Romeo também descruza as suas, só para ouvir que não: as pernas cruzadas dele ficaram ótimas, mantenha assim.

Câmera ok, luz ok, som ok. Gravando:

Adriano: “Qual é a ferramenta que todo inovador corporativo precisa ter em sua carteira?”

Romeo: “Paciência. Entre a raiz e o fruto, o tempo. A taxa de erro é muito forte. O ecossistema de inovação no Brasil deu um salto substancial nos três ou quatro últimos anos. Trabalhar com médio prazo é de fundamental importância. Se você quiser salvar um mês, feche um contrato. Se quiser salvar o ano, corte custos. Se quiser salvar a década, promova inovação.”

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