“Sobre exponencialidade: não caia no hype, please. Mas não ignore tudo o que está acontecendo à sua volta”

Bob Wollheim - 17 ago 2017Esta semana a Singularity University apresentou, em três dias, um resumo de "para onde vai o mundo". Bob Wollheim estava lá e conta o que viu de mais bacana e inspirador.
Esta semana a Singularity University apresentou, em três dias, um resumo de "para onde vai o mundo". Bob Wollheim estava lá e conta o que viu de mais bacana e inspirador.
Bob Wollheim - 17 ago 2017
COMPARTILHE

 

por Bob Wollheim

Participei essa semana do Global Summit da Singularity University, em São Francisco, e o Projeto Draft me convidou para dividir com vocês meus learnings e minha experiência (honra Adriano, obrigado!), então, aqui estou. Espero ser útil!

Antes de começar, gostaria de colocar algo que digo para todo mundo sobre qualquer evento:

E que você tira de um evento é VOCÊ QUEM TIRA!

Nenhum evento do mundo te “dá” nada! No máximo, te oferece um conjunto de conhecimentos, provocações, ideias, pensamentos e network, para que você processe seu metabolismo, faça a ponte com sua vida, carreira ou empresa

Você é quem faz a sua fotossíntese! Nada vem pronto!

Você transforma a ida a um evento num grande momento para você.

Ou não!

Dito isso, para mim o GS da SU foram excelentes três dias para um belo reality check, um reboot, um rethink.

Como o próprio nome diz – Summit – não se trata de um evento para aprofundamento, para transferência de conteúdo e conhecimento intenso, mas sim para uma grande provocação para reflexão e, como tal, foi muito interessante.

As palestras, papos, debates, etc., estão online na página da SU no Facebook.

Esse tal de exponential

Uma das palavras mais ouvidas ao longo dos três dias – e imagino que em tudo que a Singularity faz – é a tal da exponencialidade. Se fala tanto disso, que a coisa toda às vezes soa como uma fixação, quase um mantra que tentam nos incutir e fazer a gente absorver por osmose.

É preciso ter cuidado para não sair daqui repetindo esse mantra sem refletir o que ele realmente significa, ou mesmo cair na armadilha de virar um “trend hunter super cool” que sai falando por aí de exponencialidade, sem nem saber direito o que você está dizendo!

Pensando assim, o que me provocou a uma boa reflexão é menos o poder da exponencialidade em resolver tudo (a Singularity às vezes nos deixa um pouco com essa sensação, de que com um conceito, tudo se resolve!) mas sim a constatação de que, independentemente da palavra que se use, o fato que o mundo está mudando rápido é impossível negar. Muito rápido.

E que, com essas mudanças aceleradas, muitos ciclos — como o educacional, o de produtos e serviços, o de gestão, o empresarial, o corporativo, quase todos os nossos ciclos na vida — estão sendo questionados por serem lentos, pensados para tempos mais lentos e da revolução industrial (era que estamos saindo) e, em alguns (muitos) casos, totalmente ultrapassados.

Goste-se ou não, a exponencialidade existe

Se mudar o nosso mindset para um exponential mindset resolve tudo é outra questão, bem mais complexa. Mas, certamente, ignorar tudo isso é enfiar a cabeça na terra e não ver, no mínimo, uma enorme oportunidade que passa na nossa frente nesse momento. Sem falar na chance de se estar perdendo o bonde de vez!

Como o Brasil tinha a maior delegação no evento (cerca de um terço dos mais de 1 600 participantes), ouvi muitas opiniões, comentários e impressões.

Dos participantes mais “tradicionais”, ouvi coisas na linha “Ah, mas a gente continua comendo, dormindo, fazendo amor”, meio que tentando auto negar as provocações, o que me soa como algo tenso em mundo mudando tão rápido. Não se pode aceitar tudo como fato, como verdade, mas entrar em um processo de negação, tem um resultado líquido e certo: o fracasso!

Dos super engajados, por outro lado, parece que encontraram a solução para mundo como se “be exponential will solve everything”. Não vai!

Tento ponderar, equilibrar. Já sabemos que não existem fórmulas definitivas para um mundo tão complexo, político e intrincado como o nosso mas, por outro lado, vi em muitas iniciativas mostradas e discutidas ao longo do evento uma oportunidade real de repensarmos muitas coisas: do planeta à nossa vida, das organizações aos governos, dos paradigmas e verdades atuais, a novas perguntas e dúvidas.

Escrevo este texto do avião com várias decisões tomadas, pequenas mas importantes, e várias atitudes, também pequenas mas também importantes, que vou implementar a partir de amanhã.

Micro mudanças implementadas me parecem muito mais efetivas que grandes decisões que ficam na esfera da intenção!

Uma série de pequenas mudanças me parecem também capazes de gerar uma mudança exponencial em nossas vidas. My two cents of wisdom, Singularity! 

Refletindo sobre tudo isso, penso que a experiência vale muito a pena. Se você não veio, assista às palestras online, com a vantagem de poder fazer um fast forward do que não te parecer útil. Selecione o que mais te interessa, invista um tempo de qualidade e faça a sua “conexão dos pontos” com o que vir e ouvir.

O outro lado

Naturalmente, este é um evento que se propõe a vender a Singularity University, suas pessoas, seus programas, e isso é feito de uma maneira tão explícita que em alguns momentos fica over. Eles deveriam saber que “não vender” é a melhor maneira de vender. Afinal, that’s exponential! Isso tira o valor do evento? Não, na minha opinião, mas poderiam trazer mais conteúdo, o que agregaria ainda mais valor a SU do que vendê-la diretamente.

Outra coisa é que faz falta de um pensamento mais crítico, ou autocrítico, em relação à própria Singularity. Vários conteúdos e palestrantes não são da SU, muita coisa relevante e interessante foi discutida vindo de fora do ecossistema Singularity, mas a vontade de “vender” a SU o tempo todo, me parece, inibe um pouco o pensamento autocrítico. Nada que, de novo, tire o brilho do evento, mas valeria um ajuste.

Resumo geral

De uma maneira geral (releia o 2º parágrafo), recebi o que imaginava.

Se você está procurando repensar a sua vida, sua carreira ou mesmo a sua empresa, vale dedicar um tempo para ver os conteúdos que estão online e refletir.

Apesar de parecerem fórmulas de sucesso, elas não são! Apesar de alguns conteúdos merchan, tem muita coisa boa! Apesar de um certo feeling de autoajuda e autorreferência, tem convidados com histórias fantásticas que você precisa conhecer, mil links de empresas, iniciativas e coisas muito interessantes e uma vibe que, sim, pode te ajudar a decidir seus passos, suas mudanças e os rumos que quer dar pra sua vida!

Seja crítico, claro.

Faça o proxy com o seu momento, se não é tempo jogado fora.

Não caia no hype, please. Mas não ignore tudo o que está acontecendo à sua volta

Na Study Tour que fizemos no Youpix (aqui tem um resumo dos aprendizados) ouvi um conceito que me marcou muito, e que acho que resume muito bem o meu pensamento em relação a tudo o que vi aqui nesse Global Summit da Singularity: the greatest risk is the Cost Of Ignoring (COI).

O mais importante não é discutir o ROI do evento mas sim o COI!

O maior risco é ignorar tudo o que está acontecendo a sua volta e não repensar nada, seja em como quer educar seus filhos, seja na sua própria formação, seja na sua carreira, seja na sua própria empresa!

 

 

Bob Wollheim, 55, é empreendedor, cofundador do Youpix, cofundador da MuchMore, investidor da Tera e Head of Digital do Grupo ABC. Autor dos livros Empreender Não É Brincadeira e Nasce Um Empreendedor.

COMPARTILHE

Confira Também: