Com florestas de eucalipto localizadas em regiões tão distintas quanto Pará, Bahia e São Paulo, a Suzano, fabricante de bioprodutos desenvolvidos a partir da espécie, enfrenta as mais variadas condições climáticas: excesso e escassez de chuvas, calor, geada, o que influencia pragas e doenças. Para que tudo corra bem com sua produção de papel, celulose e polímeros de fontes renováveis, a empresa concentra esforços para ampliar a assertividade da etapa de plantio.
Até dois anos atrás, esse trabalho era feito, basicamente, “à mão”. Para descobrir a combinação ideal entre árvore e ambiente, o pesquisador responsável abria uma planilha em branco e inseria, em uma coluna, uma a uma, todas as informações sobre os clones da base genética da empresa –que, fora da Austrália, de onde o eucalipto é nativo, é considerada a maior do planeta. E deve fechar 2022 na casa de 18 mil clones, garantindo um importante diferencial competitivo.
Depois, em outra coluna, eram adicionados, um a um, todos os problemas e desafios, relacionados a variáveis como altitude, pluviosidade, temperatura e tipo e textura do solo. Chegar a um cenário ideal – no máximo, dois – para colocar a árvore certa no lugar certo levava um mês.
Até que, em 2020, na esteira de seu movimento de digitalização, a empresa, que se prepara para celebrar seu seu centenário em dois anos, conseguiu ampliar essa capacidade em 15 vezes com o software Tetrys, que reúne tecnologia de analytics, big data e inteligência artificial.
Quem determina o match perfeito, ou seja, qual clone irá produzir mais celulose por hectare, por ano, em determinada localização é o algoritmo. Resultado: a Suzano ganhou a capacidade de tomar decisões mais fáceis e seguras e, consequentemente, aumentou sua produtividade florestal e industrial de maneira sustentável.
“O Tetrys é, sem dúvida alguma, o grande projeto recente em innovability da Suzano, que tem como propósito renovar a vida a partir da árvore”, afirma Leandro Siqueira, gerente executivo de genética e melhoramento florestal da companhia. “Ele não representa apenas inovação e não se resume a sustentabilidade: é a inovação para aumento de produtividade atrelada à sustentabilidade, que é lei para nós”, reforça.
Considerando-se apenas o ano passado, a Suzano trabalhou com 200 mil hectares de plantio e 300 milhões de árvores colocadas no chão para produzir 12 milhões de toneladas de celulose e papel. Sem aumentar sua área plantada (ou seja, sem comprar um hectare a mais de terra), apenas colocando o clone de árvore certo no lugar certo, conseguiu entregar 2% a mais de celulose.
“Com a tecnologia do Tetrys, conseguimos florestas mais produtivas e, consequentemente, reduzimos o uso de herbicidas, fungicidas e inseticida e o consumo de água, além de diminuir o número de caminhões nas estradas brasileiras.”
Outros ganhos para a companhia foram ampliar sua capacidade de atender à demanda por produtos de origem renovável e obter maior transparência de dados relacionados à geração de sua principal matéria-prima, contribuindo para sua boa governança.
“Nossa área operacional agora se pergunta frequentemente como vivemos tanto tempo sem contar com tamanho controle, transparência, e redução de risco pra companhia.”
META É ALCANÇAR 1,5% A MAIS DE CELULOSE POR ANO
A força-tarefa organizada para desenvolver e implementar o Tetrys, que durou 240 dias, reuniu um recorde de 80 pessoas. Graças às políticas e inclusão da empresa, o projeto contou com uma equipe extremamente diversa.
Os desafios típicos de um novo projeto, como alterar uma forma de trabalho já consolidada dentro da empresa e conquistar o apoio de diferentes áreas, estiveram presentes na rotina, mas, nem de longe, foram a maior barreira. Isso entra na conta da pandemia de Covid-19. O pontapé inicial do projeto foi dado em fevereiro de 2020, pouco antes de vírus se espalhar pelo país.
A equipe precisou aprender, ao mesmo tempo, a trabalhar remotamente e a implementar uma grande novidade dessa forma. Mesmo assim, de acordo com Siqueira, ninguém sequer cogitou parar ou adiar o projeto, que sempre mostrou ter grande potencial de entrega para a companhia.
Deu certo: desde 2021, 100% do plantio da Suzano é feito com o Tetrys. Em números reais, isso significa mais de 270 milhões de árvores alocadas para plantio, em uma área de 205 mil hectares. A grande meta agora é entregar 1,5% a mais de celulose por ano e incluir novas “habilidades” ao software, como antecipar riscos ambientais e de produtividade, ou seja, informar melhor sobre novas áreas onde a empresa nunca trabalhou antes.
Se confirmadas as previsões, os esforços servirão de base para muito mais do que o aumento de produtividade. Eles terão papel fundamental no cumprimento do compromisso assumido pela Suzano de remover 40 milhões de toneladas de carbono até 2025 e reduzir em 15% a emissão de gases do efeito estufa até 2030. Pelas conquistas dos últimos dois anos, a equipe está otimista.
“Eu desconheço no Brasil uma ferramenta tão potente para alocação de material genético quanto o Tetrys, tanto na floresta quanto na agricultura. Já fomos procurados para saber se ela pode ser comercializada.”
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